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Uma reportagem do jornal O Globo de hoje mostrou como a questão da seleção de vagas nas escolas tem gerado tensão, tanto nas crianças como nos pais. Jogadas no mundo da competição desde cedo, as crianças ficam estressadas e os pais mais ainda. Há filas de espera nas melhores escolas. O critério, a partir de agora, deve ser o sorteio. Faz sentido isso?

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Como pai que passou por isso não faz tanto tempo, entendo a angústia de muitos pais. É realmente um pouco precoce submeter crianças de 5 ou 6 anos a um clima de “vestibular”. Isso me remete a um conto de humor hilário de Woody Allen chamado “A rejeição”, que consta no livro Fora de órbita.

Os pais recebem uma carta da expulsão de seu filho, de apenas 3 anos, da melhor creche de Manhattan. Pronto: o mundo caiu. Como o pai, Boris Ivánovitch, que trabalhava no mercado financeiro, poderia encarar seus colegas de trabalho agora?

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Como bom obsessivo que era (autobiográfico?), Boris vislumbra todo um futuro terrível de miséria para seu filho e sua família. A desgraça era o único destino possível. A tragédia se abateria sobre a família. Afinal, seu filho fora barrado da mais seleta creche da cidade!

Paranoia e exageros à parte, a escolha da escola é uma decisão importante para os pais, e há preferências. Mas as melhores costumam ser mesmo muito disputadas, e não é fácil decidir qual o critério de aprovação. Qual critério realmente objetivo existe para avaliar a capacidade nessa tenra idade?

Dito isso, critério deve haver, e creio que cada escola deva ser livre para escolher o seu. Haverá aquelas com critérios rigorosos e até “darwinistas”, e outras com filtros mais flexíveis. Faz parte do jogo. Por que o sorteio deve ser o único critério aceito e permitido?

Eis um fato incômodo para muitos: aquelas com critérios mais rigorosos, justamente as acusadas de produzir tanta tensão “desnecessária” nas crianças, são as que tem fila de espera. Por que será? Não seria devido ao fato de que são… as melhores escolas?

E aqui é onde eu queria chegar: o mundo é um lugar competitivo mesmo. Não importa o que pensam os românticos, os coletivistas, os socialistas. Simplesmente não há lugar para todos sob o sol da Toscana. É como nos esportes: somente uma minoria se torna campeã. Muitos tentam em vão.

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Será que é errado, então, estimular ou reconhecer essa prática competitiva desde cedo? Talvez sim, talvez não. Escolha de cada um. O que definitivamente parece errado é querer impor que há somente uma forma de agir, que é não utilizar critérios de competição, e sim sorteio. Diz a matéria do jornal:

Este, aliás, é um ponto extremamente negativo para as crianças e que merece atenção, segundo o pedagogo e mestre em Educação da PUC Winston Sacramento. A preocupação com uma boa formação é válida e pertinente, mas é preciso respeitar as demandas reais da infância, alerta: — Talvez o apoio das famílias para o sucesso de crianças dessa idade tenha mais a ver com a escolha de um ambiente escolar focado numa socialização que valorize o respeito às diferenças, o aprendizado colaborativo e a formação de laços afetivos entre as crianças. O mercado privado da educação quer convencer os pais de que a aquisição de conhecimentos, competências e habilidades nessa idade são determinantes para as escolhas que serão feitas dez ou 15 anos depois. Do ponto de vista comercial parece ser um ótimo negócio, mas faltam evidências de que isso realmente dê resultados na maioria dos casos.

O pedagogo tem direito à sua opinião. Mas e os pais, não têm direito de pensar o contrário? Não podem observar que essas escolas mais competitivas são justamente as que, na média, preparam melhor para vestibulares e a vida no concorrido mercado de trabalho?

Esse papo de “socialização” , “respeito às diferenças” ou “aprendizado colaborativo” com “formação de laços afetivos”  é bonitinho na teoria, mas funciona na prática? Para quem acha que sim, já não existem várias escolas “construtivistas” que adotam essa mentalidade?

Cada um em seu próprio ritmo, sem pressão alguma, sem hierarquia em sala de aula, sem conhecimento objetivo, enfim, tem um monte de escola vendendo esse tipo de ensino por aí. Não são aquelas com fila de espera. Por que será? E por que será que o pedagogo quer que todas sejam assim?

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Não acho que a pressão quase militar de escolas duras como o São Bento e o Santo Agostinho, onde estudei minha vida toda, é isenta de críticas. Tampouco acho que é para todos, o que não é denegrir aqueles que não têm esse perfil. Às vezes são pessoas que vão longe na vida, mas não tinham uma personalidade compatível com tal estilo.

Mas cabe a cada um optar. E essas escolas duronas devem ter o direito de adotar um critério de seleção para filtrar os alunos com perfil mais adequado ao seu, ainda que o método seja claramente imperfeito. Liberdade de escolha, e estilos concorrentes para gostos diferentes. Isso é liberalismo.

Fecho com um toque pessoal. Quando fazia economia na PUC, desenvolvi uma fórmula para identificar quem não tinha estudado no Santo Agostinho, São Bento, Santo Inácio ou similares. Em dia de prova, o aluno levantava a mão e reclamava: “Professor, mas o senhor não mandou ler essa página do livro!”

Não tinha erro. Quem passou pelo “calvário” das escolas citadas jamais mandaria uma dessas. Processo darwinista, pressão total, ele estaria acostumado com as pedreiras e a ralação. Não tem molezinha. A vida é dura. Os que discordavam, e ficavam revoltados, provavelmente acabaram em algum sindicato, alguma estatal ou no governo petista. Mas com certeza não escrevem na Veja!