“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)
Esse artigo seria uma retrospectiva de meu primeiro ano de blog, após receber críticas construtivas de um leitor que respeito muito. Reconheço vários erros apontados por ele, especialmente o tom um tanto radical algumas vezes, e em alguns casos já tentei me explicar aqui, como quando disse que o PT me faz ser uma pessoa pior ou quando justifiquei certos textos mais “populistas”.
Mas resolvi mudar um pouco o foco do texto quando li o artigo de Aécio Neves na Folha hoje. O tema central ainda é o mesmo, qual seja, a capacidade de escutar críticas e aprender com elas, de desejar realmente melhorar, mostrar-se aberto ao diálogo. O senador tucano, ao tentar se explicar minuciosamente sobre as críticas que vem recebendo sobre obras do governo mineiro em aeroporto perto da fazenda de um tio, demonstra um louvável espírito republicano. Diz ele logo no começo:
Nasci no ambiente da política e vivi nele toda a minha vida. Sei que todo homem público tem uma obrigação e um direito: a obrigação de responder a todo e qualquer questionamento, especialmente os que partem da imprensa. E o direito de se esforçar para que seus esclarecimentos possam ser conhecidos.
Em seguida, Aécio realmente rebate ponto por ponto das críticas. O leitor tem todo o direito de achar que as explicações foram insatisfatórias, mas o esforço de se explicar sem rodeios ou desculpas esfarrapadas é evidente.
Inúmeros fatos históricos, que a imprensa pode facilmente verificar, são dados como evidência de que não houve abuso de poder político, tradição conhecida nossa do velho patrimonialismo, que confunde público com privado.
Recentemente, o jornalista Elio Gaspari condenou a reação de Aécio diante das acusações, que seria “imperial”, mas esse texto claramente derruba tal rótulo. Houve humildade por parte do candidato tucano. Ele conclui:
Refletindo sobre acertos e erros, reconheço que não ter buscado a informação sobre o estágio do processo de homologação do aeródromo foi um equívoco. Mas reitero que a obra foi não apenas legal, mas transparente, ética e extremamente importante para o desenvolvimento do município e da região.
Após suas explicações, duas coisas vêm à mente: 1) se isso for tudo o que o PT conseguiu cavar de “podre” do oponente na disputa ao Planalto, então é bom os petistas realmente ficarem preocupados e começarem a preparar os currículos para, finalmente, procurar trabalho de verdade uma vez na vida; 2) a diferença de postura entre Aécio e Dilma ou Lula é gritante.
Compare-se tal reação àquela de Lula diante do escândalo do mensalão que, convenhamos, faz essa coisa de aeroporto parecer algo que precisa crescer muito para ser insignificante. O que fez Lula? Primeiro se disse “traído”, sem explicar quem o teria traído. Depois passou a negar a existência do mensalão. Por fim, ainda tentou intervir em seu julgamento, pressionando ministros de forma bem pouco republicana.
Dilma é outra que parece totalmente alheia a qualquer crítica. Todos sabem de suas grosserias e arroubos autoritários em reuniões com subalternos, postura típica de quem não se mostra disposta a reconhecer erros. De fato, a economia vive praticamente uma estagflação, incapaz de crescer apesar de alta inflação, e nem mesmo a cabeça de Mantega foi entregue como gesto para sinalizar um resquício de humildade.
Ao contrário: a presidente subiu o tom contra os “especuladores”, o PT pediu – e conseguiu – cabeças de analistas que ousaram constatar a situação real da economia, e os bodes expiatórios são sacrificados para blindar o próprio governo da sua incompetência.
Vários outros casos ilustram bem essa ojeriza do PT às críticas. O programa Mais Médicos, por exemplo, suscitou diversas questões éticas, pois o governo financia a ditadura cubana em vez de pagar diretamente aos médicos, mas o PT sequer tentou justificar tal atitude. A lista é longa.
O PT simplesmente não convive bem com críticas, e jamais se explica, nunca responde com objetividade as acusações que a imprensa traz à tona – em velocidade espantosa simplesmente pelo fato de que esse governo produz escândalos em ritmo alucinado.
Tenho minhas críticas ao PSDB, muito à esquerda do que um liberal como eu gostaria. Mas não aceito em hipótese alguma a “tese” de que são todos “farinha do mesmo saco podre”. Colocar o PT e o PSDB no mesmo nível é fazer o jogo do PT.
E não falo “apenas” da qualidade do quadro técnico, da competência infinitamente maior dos economistas tucanos, nada disso. Há um abismo moral intransponível também. O PSDB se mostra aberto ao diálogo civilizado e às críticas, e procura se defender de ataques com argumentos, ainda que nem sempre convincentes.
O PT age como um ouriço, fecha-se em seu mundo imaginário, e começa a cuspir espinhos de forma autoritária em todos os críticos, inspirado nos piores governantes que o mundo já produziu, todos camaradas dos petistas.
Rodrigo Constantino
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