Várias fontes já confirmaram “em off” a mesma coisa: a presidente Dilma é do tipo que intimida os companheiros nas reuniões, daquelas que manda calar a boca com dedo em riste e tudo mais. Normalmente, esse tipo de postura truculenta serve para mascarar a falta de capacidade técnica, de conhecimento genuíno e de liderança natural.
Reinaldo Azevedo, em sua coluna de hoje na Folha, refaz o resumo da trajetória empresarial da presidente e conclui a mesma coisa. Diz ele:
Como ela era, e ainda é, meio enfezada, esse temperamento se confundia com competência. Gente que está sempre dando bafão, na vida ou no trabalho, recorre aos maus bofes para escamotear com o mau humor as suas deficiências técnicas. A eficiência costuma ser amigável.
A presidente teve uma lojinha de bugigangas, aquelas de “R$ 1,99”, que quebrou. Jogou a culpa em fatores exógenos, como sempre fazem os petistas e muitos fracassados (basta ler algum livro de Jim Collins para compreender que os empreendedores de sucesso costumam reconhecer os próprios erros e deles extrair lições importantes).
É verdade que reconhecer os próprios erros nunca é tarefa trivial. Também é verdade que ser empresário nesse país hostil ao empreendedorismo, justamente por conta dos vários obstáculos criados pelo governo, não é moleza. Ir à bancarrota faz parte da vida de muita gente, que nem por isso deve se sentir um perdedor.
Mas daí a pegar alguém cuja única experiência empresarial foi um retumbante fracasso, e alçá-la ao patamar de grande gestora, vai uma longa distância. A Dilma “gestora eficiente” é um mito, uma construção de marqueteiro, que não condiz com a realidade. Mas muitos inocentes caíram nessa.
Agora temos, além da enorme confusão em que o setor elétrico se encontra por trapalhadas da própria Dilma, a Petrobras envolvida em problemas sérios, com prejuízos bilionários, enquanto a presidente assume que foi ou negligente ou conivente com seus erros. Reinaldo Azevedo dá nome aos bois e conclui:
A presidente recorreu à desculpa nº 13 dos petistas: “Eu não sabia”. Refere-se à obrigação contratual da Petrobras, que teria sido omitida, de comprar a segunda metade da refinaria. Diretores da empresa já a desmentiram nesta Folha. Acontece que a aquisição da primeira metade, com a sua anuência – além das de Antônio Palocci e Jaques Wagner– já é um descalabro. Quem negociou em nome dos belgas foi Alberto Feilhaber, que, antes de trabalhar para a Astra, havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos. Quem preparou o papelório foi Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da empresa brasileira. Foi ele que fez o resumo da operação, que Dilma agora considera incompleto. Não deve ter ficado muito zangada. Afinal, Cerveró é hoje diretor financeiro da BR Distribuidora.
Na melhor das hipóteses, estamos diante de um caso de incompetência e prevaricação. A pior fala por si, num escândalo que já nasce com as provas à mostra. Quando Dilma leva uma lojinha de R$ 1,99 à falência, o problema é dela. Quando autoriza uma operação como essa, diz-se enganada, não busca responsáveis pelo desastre e ainda promove um de seus protagonistas, aí o problema é nosso.
Exatamente. O grande problema no setor público é que raramente há accountability, ou seja, a responsabilização por seus atos. O sucesso tem muitos pais, o fracasso é órfão. Assinam-se cheques milionários e fica por isso mesmo. O responsável por um prejuízo gigantesco acaba promovido. Falta meritocracia. Falta o escrutínio dos sócios, dos donos do dinheiro, preocupados com seu destino. É recurso da “viúva”, quem se importa?
Claro que é possível ter uma gestão mais eficiente (ou menos incompetente) mesmo em uma estatal. O PSDB provou isso ao colocar um quadro mais técnico na Petrobras no passado, enquanto o PT escolheu políticos ligados ao partido. Mas o ideal mesmo é privatizar, para evitar o risco de um PT chegar lá e causar esse estrago todo.
O estado não tem nada que ser empresário, mesmo em setores “estratégicos”. Essa foi a desculpa que a esquerda usou para tentar barrar toda privatização. A Vale, a CSN, a Embraer, a Telebras, tudo era “estratégico”. O país está pior, por acaso, com essas empresas transferidas para a iniciativa privada em busca de lucro? Não!
(Para quem ainda não estiver convencido, recomendo meu livro Privatize Já, que traz inúmeros argumentos e dados comprovando as vantagens da privatização e demonstrando que praticamente todos, à exceção dos políticos, empresários corruptos, artistas engajados e funcionários acomodados, saem ganhando com o processo.)
O PT fez com a Petrobras o pior tipo de “privatização” que existe: transformou a “coisa pública” em “cosa nostra”. Como disse Aécio Neves, a estatal virou a OGX de Dilma. Quem é que vai pagar por isso? Quando a OGX vai à lona, é problema de Eike Batista e seus sócios (e nosso indiretamente, por conta dos bilhões subsidiados que o BNDES emprestou ao grupo X). Quando é a Petrobras, o problema é de todos nós.
Rodrigo Constantino