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Do relativismo estético ao relativismo moral. Ou: Ainda existe alta cultura?

Um dos temas que têm me despertado profundo interesse é o crescente relativismo estético no mundo. Ninguém mais pode julgar nada, pois isso já denotaria preconceito, elitismo ou até etnocentrismo. Falam em “ditadura da beleza”, ou alegam que alta cultura é algo que nem sequer existe, ou que só serve para impor uma visão machista e opressora do Ocidente ao resto do mundo. É o marxismo poluindo as artes.

Vivemos na era do vale-tudo, da elite culpada que enaltece o que há de pior em nome do combate ao preconceito. É assim que literatura clássica ou livro pop se tornam indiferenciáveis, ou música clássica e funk acabam sendo apenas questão de gosto, nada mais. Ai de quem ousar repetir atualmente que há algo como alta cultura e que ela tem elevado valor ao longo da tradição ocidental. Reacionário! Neoconservador!

Não vou, aqui, estender-me muito nos argumentos, até porque trato disso no meu novo livro Esquerda Caviar. Vou apenas ilustrar o argumento com dois exemplos concretos. Que o leitor julgue por conta própria se estamos diante de coisas “apenas diferentes”, ou se há um abismo intransponível entre elas, marcando a distinção entre o lixo e o belo. Não pense que o relativismo estético não tem impacto na moral. O relativismo moral exacerbado, em que ninguém sabe mais dizer o que é certo ou errado, é o passo lógico do primeiro. Vejam, então, e julguem:

httpv://vimeo.com/69997241

E agora vejam esse aqui:

httpv://youtu.be/L4LiUOYwpSk

Escolhi esse vídeo de propósito, pois ele mostra como a alta cultura é universal e atemporal. Temos um chinês, Lang Lang, tocando Rachmaninov, o concerto n. 3 (famoso pelo filme Shine também). Mas o multiculturalismo, em vez de valorizar o que há de melhor em cada cultura e reconhecer certa hierarquia estética, prefere adotar uma visão segregacionista de “nós contra eles”, de preferência para atacar sempre o Ocidente ou o melhor (muitas vezes sinônimos).

Falar em música clássica, em Beethoven, Mozart ou Bach, é ser “colonizado”, ou cair no etnocentrismo europeu. O legal é adotar o relativismo total, e suspender qualquer julgamento. Quem disse que a música das nossas “comunidades” são piores? Quem disse que o funk é inferior, só porque tem letras chulas e ritmo pobre? Quem disse que a Dança da Piriquitinha não está à altura de Rachmaninov, sendo a decisão final uma mera questão de preferência do freguês?

E assim caminha a humanidade, rumo ao desprezo do que é realmente valioso, tradicional, belo. Como disse Roger Kimball em Radicais nas Universidades:

É preciso que se entenda que, qualquer que seja o interesse legítimo que o estudo acadêmico da cultura popular possa ter, o estudo da cultura pop tem sido procurado primeiramente como um meio de atacar a concentração acadêmica tradicional em objetos de alta cultura. 

[…]

É como se os ensinamentos de Platão, por ele ser um homem europeu, fossem, portanto, necessariamente ininteligíveis para mulheres chinesas ou homens negros. […] Como acontece freqüentemente, a retórica que promete maior abertura, diversidade e pluralismo na verdade ajuda a perpetuar a conformidade intelectual mais severa. 

É isso. Vivemos na ditadura do politicamente correto. Em nome da diversidade absoluta, todos devem ser iguais. Ninguém é melhor. Todos são especiais e tudo é arte. Ou seja, ninguém é especial e nada é arte. A que ponto chegamos?

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