O dólar fechou ontem a R$ 2,92, o maior valor desde 2004. Ou seja, há dez anos não é tão caro para o brasileiro comprar produtos importados. O Banco Central reduziu o ritmo de rolagem dos contratos de swap cambial vencendo, o que aumenta a pressão sobre nossa moeda. Se continuar nesse ritmo diário de rolagem, o BC irá deixar vencer US$ 2,2 bilhões do lote total de US$ 9,96 bilhões de contratos desse tipo com vencimento no mês seguinte. O swap cambial equivale à venda de dólar no mercado futuro, oferecendo uma proteção aos investidores contra a volatilidade da moeda e reduzindo a pressão sobre o câmbio.
Além disso, tivemos um déficit comercial enorme em fevereiro, o pior do mês na história. A exportação de commodities caiu, e o rombo comercial também coloca pressão sobre o real. O resultado de fevereiro é composto por exportações de 12,09 bilhões de dólares, queda de 15,7% em relação a 2014, e importações de 14,93 bilhões de dólares, o que representa recuo de 8,1% sobre os resultados do mesmo mês do ano passado.
Como se não bastasse, a dívida externa de bancos e empresas privados do país dobrou entre o terceiro trimestre de 2009 e o mesmo período de 2014, atingindo US$ 208 bilhões, maior valor da série do Banco Central, iniciada em 1989. Mais de US$ 100 bilhões de amortizações vencem este ano, representando nova pressão sobre o câmbio. A explosão de endividamento foi facilitada pelos juros baixos praticados em países desenvolvidos.
Por fim, tem a tensão política, agravada pela “lista de Janot”, que produziu uma rebeldia ainda maior do PMDB por constar o nome de Renan Calheiros entre os envolvidos na Operação Lava-Jato (o presidente do Senado está convencido de que teve o dedo do governo nisso, principalmente do ministro da Justiça, Cardozo). Esse clima de maior incerteza política, que pode dificultar o ajuste fiscal de Joaquim Levy (muito calcado em aumento de impostos), pode acelerar a perda de grau de investimento do Brasil, o que colocaria ainda mais pressão sobre o câmbio.
Como podemos ver, há uma espécie de “tempestade perfeita” contra o valor de nossa moeda, que deve atingir o patamar psicologicamente simbólico de R$ 3,00 em breve. Claro que não tenho bola de cristal, que não tinha como prever exatamente essa trajetória ou esses acontecimentos. Mas sim, era perfeitamente possível antecipar que a moeda ficaria sob pressão e sua tendência seria a desvalorização, pois o estelionato eleitoral era evidente e qualquer economista sério sabia que a situação de nossa economia era terrível, completamente oposta ao que vendia Dilma na eleição.
Tanto que eu efetivamente previ que o dólar chegaria logo a R$ 3,00 com a vitória de Dilma. Para falar a verdade, nem esperava que fosse tão rápido, apenas dois meses após o começo do novo mandato. Em 24 de outubro de 2014, como uma espécie de lembrete final aos que pretendiam digitar 13 nas urnas, eu escrevi: “Se Dilma realmente vencer, e não sofrer impeachment depois, isso será só o começo; o dólar sem dúvida passará de R$ 3,00. A corrida para a moeda estrangeira será automática, pois os investidores temem um segundo mandato de Dilma, com toda a razão”.
O alerta de que a ida à Disney pela “nova classe média” ficaria cada vez mais difícil se mostrou acertado. Mas claro que não é “apenas” isso. Não é algo que impacta somente aqueles que planejavam viajar. Afeta todos nós! Torna os produtos importados mais caros, tem efeito inflacionário, torna o brasileiro mais pobre em termos relativos. Seu imóvel vale menos em dólar, sua empresa vale menos em dólar, seu salário vale menos em dólar. Estamos empobrecendo vis-à-vis o resto do mundo.
A farra foi boa enquanto durou, mas era uma ilusão, uma prosperidade artificial. Houve muita irresponsabilidade, incompetência, e agora estamos começando a pagar a fatura. E é melhor ficar atento, pois se Dilma não sofrer impeachment ou não mudar de verdade os rumos de seu governo (só colocar o Levy para aumentar impostos não vale como mudança efetiva), aí o céu será o limite. Dólar a R$ 3,50? Dólar a R$ 4,00? Só Deus sabe…
Rodrigo Constantino
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