Todos já estão cansados de escutar a famosa afirmação de um assessor de Bill Clinton: “É a economia, estúpido!” Ele queria dizer, com isso, que as eleições e, portanto, os rumos de uma nação são definidos pela situação econômica. Não vou negar que o bolso influencia, e muito, mas não determina. O ambiente de crenças e valores é tão ou mais importante. A longo prazo, sem dúvida muito mais importante.
O que poderia nos levar a substituir a afirmação por esta: “É a ideologia, estúpido!” Quando boa parte do povo abraça uma ideologia – um conjunto de crenças – equivocada, não há como fazer milagre e colocar o país na trajetória da prosperidade sustentável. Quando o capital é crucificado, o lucro visto como pecado, o empresário como explorador, e o estado como messias salvador da Pátria, sai de baixo!
Em sua coluna de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo vai por essa linha ao afirmar:
Na quarta, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou relatório de Roberto Requião (PMDB-PR) proibindo a doação de empresas privadas a campanhas eleitorais. Segundo o senador, aceitá-la corresponderia a acatar a “legitimidade da influência do poder econômico no processo eleitoral e, por consequência, no resultado das eleições”. Com muito mais fru-fru, glacê e gongorismo igualitarista, é o que pensa o ministro Roberto Barroso, do STF.
[…]
A trilha persistente do atraso remete mesmo a uma palavrinha fora de moda, cujo sentido tanto a direita como a esquerda tentaram e têm tentado esvaziar: ideologia. Não há nada de errado com o clima. Não há nada de errado com o povo. Não há nada de errado com a história – todas as nações têm a sua, e o passado, visto à luz das conquistas morais do presente, nunca é meritório. Catastróficos por aqui são os valores que explicam a realidade e que, em larga medida, buscam substituí-la.
O que é aquilo na fala de Requião? Ele jamais vai entender que sonhos de justiça corromperam e mataram mais do que o capital. Talvez tenham salvado mais também. Não são termos permutáveis. Pensem na casa da mãe Dilmona em que se transformou a Petrobras.
Ideias têm conseqüência. Requião, por exemplo, endossa as mais atrasadas que existem, um nacionalismo tacanho que mais parece xenofobia a tudo que vem de fora, e que serve como desculpa para privilegiar alguns poucos amigos do rei à custa do povo brasileiro. A “Lei da Informática” foi filhote dessa crença absurda. “O petróleo é nosso” é outro slogan parido dessa mesma ideologia.
Resultado: por questões ideológicas, governantes corruptos contam com a maior empresa estatal disponível para todo tipo de esquema de desvio de recursos. Vamos proibir o financiamento de empresas a campanhas, mas vamos preservar as estatais que servem como cabide de emprego para os companheiros e caixa dois para propagandas partidárias e enriquecimento ilícito! Reinaldo Azevedo resume da forma mais objetiva possível:
Parece evidente que Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está em cana, usava, sim, a empresa em proveito próprio, mas fazia também a corretagem a serviço de partidos. Só um idiota ou um rematado canalha (ou ambos num só) não reconhecem que, se a Petrobras fosse uma empresa privada, pagaria menos pelos serviços que contrata porque não seria preciso pagar o “Imposto Corrupção”.
Venham cá: por que um partido político faz tanta questão de ter a diretoria de uma estatal? Para que suas teses sobre refino de petróleo ou hidrologia triunfem sobre as de seus rivais? Trata-se de uma luta de cavalheiros? Disputam as estatais para alimentar a República dos Ladrões. É cru, eu sei, mas é assim. E Requião, Barroso e outros sábios decidiram que a doação legal de campanha é que faz mal à democracia brasileira.
A quem tem interessado essa ideologia nacionalista e estatizante? Com certeza não ao povo brasileiro, que tem observado passivamente o desmonte da maior empresa do país, mergulhada em escândalos de corrupção, enquanto continua tendo de importar petróleo e derivados em quantidade cada vez maior. Azevedo conclui: “Afinal, o Petróleo é nosso, mas a Petrobras é deles”. É a ideologia, estúpido! A solução? Privatize Já!
Rodrigo Constantino