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O tema ganhou a pauta do dia: direito dos animais. Não é assunto leve, pois as emoções costumam turvar a razão. Só alguém muito insensível não sente pena de bichos fofinhos (estética importa!) como cães usados em pesquisas de laboratório.

Mas meu foco aqui não será a reação natural dessa grande maioria, e sim uma minoria que usa esse discurso de amor aos bichos para mascarar sua misantropia. Segue um pequeno trecho de Esquerda Caviar (que, aliás, chega hoje às livrarias) sobre o tema:

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Peter Singer, o mais famoso defensor dos direitos dos animais, tem uma ética utilitarista bastante peculiar. Para ele, está tudo bem em se eliminar um bebê deficiente se isso estiver no melhor interesse do bebê (?) e de seus familiares. Entende que muitas pessoas considerem isso chocante, mas acha contraditório que pensem assim aqueles que aceitam o direito de aborto. Julga medieval a noção de que a vida humana é sagrada, e considera o Cristianismo seu grande inimigo.

Em seu livro Ética prática, Singer coloca a capacidade de sofrimento como o grande fator na hora de avaliar direitos. Se o rato sofre quando usado em experimentos, então isso deve ser evitado. Por outro lado, se o idoso não sofre com uma injeção letal, segundo sua ética utilitarista, tudo bem. Singer diz: “Os especistas humanos não admitem que a dor é tão má quando sentida por porcos ou ratos como quando são seres humanos que a sentem”.

Logo, ser um “especista” – alguém que prioriza a sua própria espécie – seria análogo a ser racista entre humanos. Singer coloca em pé de igualdade aquele que julga inferior um membro de outra “raça” (sic) humana e aquele que se julga acima e digno de mais direitos que um rato ou um porco.

Com base em seu único critério, o do sofrimento, alega que recém-nascidos da nossa espécie, por não terem elevado nível de consciência ainda, seriam tão passíveis de uso em experimentos quanto animais. O mesmo valeria para deficientes mentais. O filósofo coloca a seguinte questão:

Se fizermos uma distinção entre os animais e esses seres humanos, caberá também a pergunta: de que modo poderemos fazê-la, a não ser com base numa preferência moralmente indefensável por membros de nossa própria espécie?

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Não sei quanto ao leitor, mas eu tenho, sim, uma preferência por membros de minha espécie, homo sapiens, e jamais diria que é “moralmente indefensável”. Muito pelo contrário, considero-a essencial, não apenas para a sobrevivência de nossa espécie, como para a preservação dos valores morais mais caros à nossa civilização. A esquerda caviar parece discordar, e coloca os interesses do camundongo no mesmo patamar dos nossos. Não devemos ser “especistas”…

[…]

Não dá para ter tudo, colegas. Ou usamos bichos em experimentos evitando ao máximo qualquer sofrimento desnecessário, mas colocando a vida humana como prioridade, ou convidamos macacos e ratos para uma grande festa na floresta. Será que os “melancias” e os veganos amam tanto assim o meio ambiente e os animais? Ou será que, no fundo, odeiam o capitalismo, o progresso e, em casos mais patológicos, o próprio ser humano?