Alguns leitores pediram que eu comente a resenha de Martin Wolf na Folha sobre novo livro que defende a visão de que o estado é o grande motor da inovação. Não li o livro ainda, mas alguns argumentos estão expostos na reportagem:
Sim, a inovação depende da ousadia dos empreendedores. Mas a entidade que assume os maiores riscos e conquista os maiores avanços não é o setor privado, mas, sim, o muito criticado Estado.
Mazzucato aponta que “75% das novas entidades moleculares [aprovadas entre 1993 e 2004 pela FDA, a agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios] tiveram origem em pesquisas… financiadas pelos laboratórios dos Institutos Nacionais da Saúde, nos Estados Unidos”.
[…]
O financiamento inicial da Apple veio do Programa de Inovação e Pesquisa para Pequenas Empresas, do governo dos Estados Unidos. “Todas as tecnologias que tornam um iPhone ‘inteligente’ foram bancadas pelo Estado, da tela touchscreen ao sistema Siri de assistência com comando de voz”.
[…]
A importância do papel do Estado está nas imensas incertezas, nos prazos longos e nos custos elevados associados à inovação fundamentada em pesquisas científicas.
As companhias privadas não podem arcar com custos como esses, e não o fazem, em parte porque não estão certas de que haverá frutos a colher e em parte porque eles estão em um futuro distante.
Martin Wolf, do Financial Times, de uns tempos para cá tem desenvolvido um apreço cada vez maior pelo intervencionismo estatal. Uma pena, pois li seu livro Why Globalization Works, e considero ele um caso de involução. Mas vamos aos pontos levantados por ele: o estado é mesmo uma locomotiva da inovação?
Depende. Claro que vários investimentos estatais ou financiamento de pesquisas podem produzir inovação. Mas aqui é preciso resgatar Frederic Bastiat com urgência: aquilo que se vê, e aquilo que não se vê. O velho custo de oportunidade: como seriam usados esses recursos pela própria iniciativa privada? Será que não haveria ainda mais investimentos inovadores?
Alegar que o empreendedor não corre tanto o risco das incertezas é absurdo, falso. Vários empreendedores colocam tudo a perder em projetos um tanto mirabolantes, cujo retorno, se vier, será somente lá na frente. No meu livro Privatize Já, falo de projetos privados para dominar até o espaço!
Se empresários estão dispostos a investir bilhões em algo tão incerto e distante, claro que investiriam – e investem – em projetos grandiosos de tecnologia e medicina, mesmo sem o estado ajudando.
Muitos gostam de citar a internet como fruto do investimento estatal, mas o que era ela antes? Nada comparado ao que temos hoje! O que fez toda a diferença do mundo foi a iniciativa do setor privado. Somente quando empresários resolveram utilizar a internet para fins inovadores, ela explodiu.
Recomendo a todos o livro Knowledge and Power: The Information Theory of Capitalism and How it is Revolutionizing our World, que estou lendo ainda. O autor é George Gilder, o mais citado por Ronald Reagan em seus discursos. Nele, fica claro que o poder de ruptura inovadora vem da livre iniciativa, não do estado.
Burocratas e políticos não desfrutam dos mesmos incentivos que empreendedores da iniciativa privada, e raramente o setor público vai atrair o mesmo tipo de perfil necessário para romper barreiras e apresentar algo inovador, ainda nem imaginado pelos consumidores (como o caso da Apple atesta). A inovação vem da criatividade de empreendedores alertas aos anseios do mercado, algo que dificilmente ocorrerá no governo.
Israel Kirzner também focou bastante no papel desse empreendedor alerta, e de sua fundamental contribuição para a evolução e o progresso da economia. Escrevi um texto resumindo seus principais pontos. Também recomendo aos interessados no assunto.
A defesa que a autora do livro resenhado e endossado por Martin Wolf faz do papel do estado na inovação, remeteu-me a outro autor adorado pelas esquerdas, pois justifica o elevado grau de intervencionismo estatal, tudo que os autoritários querem. Trata-se de Ha-Joon Chang, o coreano que criou a tese do “chutando a escada”: os ricos ficaram ricos graças ao estado forte e protecionista, e agora querem impedir o mesmo caminho dos países em desenvolvimento.
Escrevi para a revista Amanhã um artigo sobre um dos livros dele, questionando suas premissas e conclusões. O mais absurdo vale para o caso presente também:
No livro, “aprendemos” que Taiwan, Cingapura, Irlanda, Estados Unidos, Inglaterra e Suíça são exemplos de sucesso do protecionismo esclarecido, e que Argentina, Brasil e Rússia são casos de fracassos do neoliberalismo. Quanta inversão!
Martin Wolf e a autora do livro pensam que é o estado o grande motor da inovação. Resta eles explicarem porque, então, países com a presença estatal tão forte, como é o caso brasileiro, não despontam como as grandes locomotivas do progresso mundial.
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