O governo está perdendo o controle sobre as expectativas dos analistas e investidores. O boletim Focus, do Banco Central, que foi divulgado hoje, mostra como os principais analistas esperam uma recessão maior e uma inflação mais alta a cada semana de nova pesquisa. A queda do PIB esperada para este ano já seria o pior resultado nos últimos 25 anos, e ainda assim há quem ache que a recessão será bem maior, podendo chegar a uma queda de 2% da atividade:
Quando o assunto é inflação, o quadro fica ainda mais feio. Apesar da queda esperada para a atividade econômica, os analistas acreditam que a alta dos preços continuará acelerando, e já esperam uma inflação de 7,77% para 2015, bem acima do topo da elevada meta, que é 6,5%:
Isso significa, basicamente, que o Banco Central perdeu o controle sobre as expectativas de inflação, mesmo com a alta recente na taxa básica de juros. O BC está “atrás da curva”, como dizem os analistas, e deixou os investidores perderem a âncora que mantinha as expectativas ao redor do topo da meta, patamar praticado pelo governo ao longo do primeiro mandato e que se transformara na meta extra-oficial.
Agora os agentes do mercado vão incorporar uma inflação entre 7,5% e 8% como o novo patamar “normal”, o que é extremamente perigoso, especialmente para um país como o Brasil, com um histórico complicado de hiperinflação. É como se o governo tivesse dado doses cada vez maiores para um alcoólatra, achando que não haveria problema. Foi uma atitude extremamente irresponsável, como apontado por vários economistas sérios.
Como um dos efeitos desse cenário sombrio, o dólar não para de subir em relação ao real. É verdade que parte disso é um movimento global: com a expectativa da retirada dos estímulos monetários pelo Fed, após dados melhores de emprego nos Estados Unidos, o dólar tem se valorizado frente a várias moedas. Mas o real tem apanhado mais do que a média:
O brasileiro vai vendo o valor de compra de sua moeda despencando a cada dia, tanto em dólares, como em relação ao que comprava ontem em moeda local mesmo, devido à inflação elevada. Estamos empobrecendo, e rapidamente. A crise é grave, e não há exagero algum da imprensa ao falar do assunto, ao contrário do que disse a presidente em seu pronunciamento ontem.
É o discurso oficial do governo que não aceita a dura realidade. E não reconhecer a realidade é a receita certa para insistir nos erros. Repetir que o Brasil vive um simples problema conjuntural é negar a seriedade do momento, que exige mudanças radicais nos rumos da política econômica. Achar que basta colocar Joaquim Levy na Fazenda e aumentar alguns impostos é viver fora da realidade. Mas o mercado nunca deixa isso impune…
Rodrigo Constantino
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