O feminismo virou uma guerra contra os homens. Há farta evidência disso, mas recomendo, para quem ainda duvida, o ensaio de Suzanne Venker, The War on Men, que custa menos de um dólar na Amazon. Convidada frequente da Fox News, Venker escreveu um artigo com o mesmo título em novembro de 2012, que se tornou “viral”. O pequeno e-book é uma elaboração um pouco mais profunda do tema.
A tese da autora é de que, em poucas décadas, desde o advento do movimento feminista, os Estados Unidos rebaixaram os homens de provedores e protetores respeitados para palhaços supérfluos e desnecessários. Os termos usados por feministas retratam a figura masculina muitas vezes como um inconveniente, como alguém que em breve será totalmente dispensável.
Venker faz um exercício hipotético interessante: seleciona algumas passagens de feministas ou atrizes famosas sobre os homens, e substitui por declarações direcionadas às mulheres. Seria simplesmente algo impensável, impossível. Isso mostra como passou a ser natural a aceitação de que as mulheres podem desmerecer abertamente o sexo oposto, enquanto o contrário jamais seria igualmente permitido.
O que fica claro em seu livro é que as feministas transportaram para a questão sexual a luta de classes marxista, onde há um opressor e um oprimido. O movimento feminista não quer direitos iguais, tampouco luta por mais opções para as mulheres. Não importa o quanto as feministas tentem embalar sua agenda com eufemismos: Venker está convencida de que se trata de uma simples guerra contra os homens.
Quem esperar uma defesa incondicional de um passado idealizado, ou uma visão machista que reduza a importância da mulher independente e trabalhadora, não irá encontrar nada parecido no livro. Venker, ela mesma filha de uma mulher que trabalhou por 15 anos no mercado financeiro, não prega nada disso.
O que ela condena é a visão idealizada da “libertação” feminina, que impõe um grande fardo a muitas mulheres que simplesmente apreciam a maternidade e hoje sofrem grande preconceito por isso. Para as feministas, a mulher da década de 1950 era uma “escrava confortável”, uma submissa total, que não valia nada. Absurdo, diz Venker. E pergunta: como a mulher podia valer pouco se os homens se levantavam assim que uma mulher entrasse no ambiente?
O ato de reverência ou respeito era justamente prova de como as mulheres eram valorizadas no passado. Quando o Titanic afundou, a maior parte dos sobreviventes era de mulheres e crianças. Isso não combina com a descrição de que os homens tinham as mulheres em baixa conta na hierarquia de valores. Hoje não podemos dizer o mesmo, e muito disso se deve ao próprio discurso feminista, que insiste em quanto os homens são supérfluos ou até inimigos das mulheres modernas.
A autora contrapõe essa visão “libertadora” do feminismo com a natureza humana, que não se altera da mesma forma que discursos vazios ou sensacionalistas. O resultado é o casamento cada vez mais desvalorizado, pois o homem tem necessidade da conquista, e se as mulheres se oferecem cada vez mais, sem ligação afetiva qualquer, então os homens serão incapazes de estimá-las da mesma maneira.
O que Venker busca é resgatar a noção de que homens e mulheres não são a mesma coisa, tampouco inimigos, mas sim complementares. Ela condena a agenda elitista das feministas, que enxergam a maternidade como algo inferior ao trabalho fora de casa, ou como se fossem inconciliáveis. Ela critica o hedonismo moderno também, que não tolera nenhum tipo de sacrifício em prol da família e dos filhos. Tudo que importa é a satisfação pessoal do aqui e agora.
O que os estudos sobre o feminismo mostram é que suas líderes, como Betty Friedman ou Virginia Wolf, eram pessoas com famílias muito complicadas, com sérias questões relativas ao matrimônio, com casamentos fracassados ou casos de abusos na infância. O feminismo seria uma espécie de fuga, de revanche, de vingança contra os homens.
Mas a existência de maridos ou pais ruins ou violentos não quer dizer que se pode generalizar, afirmar que todos são assim. Existem homens terríveis, como existem mulheres terríveis, péssimas esposas ou mães. O feminismo foca nas exceções como se fossem regras, para condenar a instituição familiar tradicional como um todo, e prometer uma panaceia libertadora.
Para Venker, na raíz dessa guerra contra os homens está o medo – medo de que o casamento não seja um investimento sólido. Ela acredita que as chances de felicidade aumentariam muito se as mulheres abaixassem suas armas e investissem de verdade em seus casamentos, sem abandonar suas carreiras, mas sem colocá-las como as únicas coisas realmente importantes. Nada substitui a família como fonte de estabilidade emocional, fundamental para a felicidade genuína.
O casamento não é uma guerra, uma disputa sobre quem é melhor ou pior. É uma união, em que cada um contribui com alguma coisa. O feminismo, segundo Venker, alterou profundamente nossa visão de mundo sobre isso, ao colocar o poder, a fama e o dinheiro acima dos relacionamentos e da família. Ao masculinizar a mulher, o feminismo acabou afeminando os homens, e o núcleo familiar passou a ser visto como descartável ou ultrapassado.
Para ela, o amor e a família devem voltar a ser o centro das atenções, o verdadeiro objetivo na vida, não o sexo e a independência – que, por si sós, são ótimos e muito bem-vindos, desde que não à custa dos primeiros.
Rodrigo Constantino
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