Comentei no bate-papo no lançamento do meu novo livro que é preciso trazer a esquerda civilizada e democrática para o debate político, procurando inclusive uma aproximação entre ela e os liberais ou conservadores de direita, todos unidos contra a esquerda retrógrada e radical, que ainda prega o socialismo em pleno século XXI. Considero o PSDB em geral um bom representante dessa esquerda social-democrata com a qual é possível manter um diálogo construtivo, apesar das várias divergências. A entrevista de FHC na GloboNews nesta quinta comprova isso.
O ex-presidente parece um grande estadista se comparado aos petistas. Mostra boa articulação, bom senso e uma linha de raciocínio mais moderna. Continua sendo de esquerda, defensor de um estado muito ativo em busca da “justiça social”. Também não esqueço que vários programas paternalistas que o PT usou para demagogia foram criados na era FHC. A começar pelas cotas raciais, algo que segrega o povo brasileiro, cometendo novas injustiças para remediar antigas.
Mas é inegável que Fernando Henrique Cardoso demonstra visível superioridade em relação ao PT, o que não é nada difícil, convenhamos. Sua visão de estado e mercado é mais moderna. Sua postura é mais digna, sabe reconhecer erros, não vive jogando a culpa para ombros alheios, não mente compulsivamente. FHC entendeu que a globalização é uma realidade inexorável, e que as nações precisam se adaptar para competir e sobreviver.
Condenou na entrevista o excesso de protecionismo, o dirigismo estatal, o uso do BNDES de forma inadequada pelo governo. E lembrou que, durante sua gestão, as estatais contaram com dirigentes técnicos, não com militantes políticos para cotas partidárias. Lembrar da Petrobras sob o comando de Reichstul é até covardia quando a observamos sob o “comando” de petistas como José Eduardo Dutra, Sérgio Gabrielli ou mesmo Graça Foster. O ideal era privatizar a empresa, claro, mas aí talvez seja pedir demais para um esquerdista como FHC.
O tema corrupção também veio à tona, e FHC soube ser firme ao criticar o PT no governo. Disse que todos sabem dos esquemas, e que a corrupção, da forma atual, não é uma “senhora idosa”, mas uma menininha. O PT institucionalizou a corrupção no país, e isso é uma novidade. No mais, FHC foi rápido ao descartar a insinuação do entrevistador Mario Sergio Conti, contumaz esquerdista, de que o impeachment de Dilma seria sinônimo de golpismo, assim como os pedidos por intervenção militar (que FHC fez questão de frisar se tratarem de algo minoritário nas manifestações). Impeachment é um instrumento legal e democrático, enfatizou o ex-presidente, e caso haja indício de responsabilidade da presidente, ela poderá cair.
No geral, foi uma boa entrevista, e apesar de alguns escorregões, quando FHC parece aliviar demais a barra da quadrilha petista, o ex-presidente se saiu bem. Quando o comparamos a Lula ou Dilma, então, aí é chocante o abismo que os separa. Se Lula e Dilma representam a esquerda retrógrada, populista, demagógica e oportunista, FHC parece falar em nome de uma esquerda mais moderna, civilizada, democrática, que aceita o papel dos mercados no progresso da nação, ainda que a contragosto. Com essa esquerda dá para conversar.
PS: Mario Sergio Conti, antes de FHC, entrevistou o presidente da Câmara. Tentou colocar Eduardo Cunha contra a parede. Não conseguiu. Cunha é esperto demais, bem articulado, e deu boas respostas. Mas eis meu ponto: nunca vi o entrevistador ser tão agressivo quando entrevistou esquerdistas, o que faz quase sempre, pois só convida seus pares para o programa. Seu primeiro convidado, não custa lembrar, foi o assassino comunista Cesare Battisti. A “coragem” desses entrevistadores só aparece quando o entrevistado está contra a esquerda ou o PT. É incrível. Quando é um black bloc, um invasor de propriedades, uma psicanalista socialista ou um assassino terrorista comunista, aí o “machão” fica só levantando bola e sorrindo. É isso que esses “jornalistas” de esquerda conseguem: fazer a gente nutrir simpatia até por Eduardo Cunha!
PS2: O fato de o PSDB em geral e FHC em particular serem “acusados” de “neoliberais” ou de “direitistas” por aí comprova como nosso debate político está atrasado no Brasil. Em qualquer país sério e civilizado eles seriam vistos como o que são: representantes da social-democracia de esquerda.
Rodrigo Constantino
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS