Confesso que é difícil acompanhar os modismos da era moderna, especialmente aqueles ligados à sexualidade. Cada dia inventam coisa nova. Agora temos os g0ys, uma espécie de gay que não tem coragem de chegar aos finalmentes, análogo ao maconheiro que fumou, mas não tragou:
O site brasileiro “Heterogoy” deixa muito claro que g0y não é gay e explica que “é um heterossexual mais liberal, que não faz sexo com homens, apenas faz brincadeiras sacanas, desde que nesses contatos não ocorra a penetração”, que os participantes do movimento acreditam ser “degradante”. “O termo g0y serve para designar homens que não praticam sexo anal com outros homens”, ressalta outro trecho do site brasileiro.
Em primeiro lugar, detesto esse uso deturpado e vulgar que fazem do termo liberal. Quer dizer então que liberal agora é a “bicha covarde”, aquela que está louca de vontade de “engatar a ré”, mas morre de medo? Há tempos que tentam misturar liberal com libertinagem e licenciosidade, o que não faz sentido algum. Um heterossexual que não quer “sacanagem” com outro homem seria mais conservador, careta e reacionário, é isso?
Outra coisa que me chama a atenção nessa bizarrice toda, marca dos tempos atuais, é que nada pode ficar entre o desejo e o ato. Não vou entrar na questão, aqui, se quem tem vontade de beijar outro homem já pode ser definido como gay. Mas vejam o que disse o coordenador especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, Carlos Tufvesson:
Me espanta esse excesso de rótulos para a sexualidade. Isso, no fundo, tem raiz em um preconceito que liga o gay à feminilidade. Ou a penetração a algo feminino. Para mim, basta que sejam felizes e que curtam suas fantasias, pois quem não dá vazão aos desejos pode se tornar mais um homofóbico que sai por aí matando gays.
Edmund Burke já sabia que só está apto a ser livre quem consegue controlar seus apetites. Hoje, na era do hedonismo exacerbado, as pessoas confundem liberdade com fazer aquilo que dá na telha, seguir qualquer impulso, colocar em prática toda fantasia ou fetiche, “partir para o ato”, como diriam os psicanalistas.
Reparem na premissa exposta: se o sujeito não curtir todas as suas fantasias, ele poderá ser um assassino. O recalque, como sabia Freud, é fundamental como marca da civilização, o preço de nossa vida em sociedade humana, ainda que seja responsável pelo mal-estar na cultura. Mas eis que agora devemos agir feito animais sem nenhum tipo de freio, para não sair por aí matando os outros…
Tenho dito e repito: os “progressistas” avançaram tanto na “libertação” sexual que em breve os seres humanos estarão no mesmo patamar dos cães, transando no meio da rua sem cerimônia e quiçá com suas próprias mães!
Acha que exagero, leitor? Nem tanto, nem tanto. Os tabus estão aí para serem quebrados, ou assim reza a lenda vanguardista. Será que o incesto aguenta, quando a própria família tradicional sofre tantos ataques? Vamos lembrar que o pudor e a vergonha sempre foram limites à perversão humana, mas que é cada vez mais ultrapassado sentir constrangimento ou “ressaca moral” por qualquer ato sexual, independentemente do que ele envolva.
Outro comentário que faço, por fim, diz respeito ao incômodo dos líderes do movimento gay com essas novas tendências, que retiram o monopólio de suas “nobres” causas. Luiz Mott, antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia, disse:
É um modismo, como as lesbian chics ou os HSH (homens que dizem fazer sexo com outros homens sem se identificar como homossexuais), sendo que essas microidentidades têm um componente homofóbico, pois preconceituosamente identificam o gay como um estereótipo.
Microidentidades? Há certa hipocrisia no ar, em não aceitar o novo grupo e querer definir (normalizar) o que é certo e errado no movimento LGBT. Mott se diz a favor da diversidade, mas apenas até a diversidade que ele define e aceita como tal. Medo de perder o monopólio da causa gay?
Eis a armadilha que os relativistas criaram e que se volta contra eles próprios. Isso me remete ao caso das artes pós-modernas. Tom Wolfe, no livro A Palavra Pintada, que comentei aqui, fala justamente de como o mantra de artistas como Greenberg, de que toda obra original parece feia a princípio, voltaria para assombrá-lo depois.
São as comportas abertas para o “vale tudo”. E depois, quando a coisa se torna realmente horrenda, como negar que isso é a mais pura maravilha artística, e que somente o preconceito impede alguém de perceber isso?
O movimento gay vem, há anos, vendendo a ideia de que a promiscuidade é normal ou positiva (vide as paradas gays ridículas), que cada um se define como quiser, que a “diversidade” é um valor em si, que não existe uma moral apenas, certo ou errado, etc. Agora não quer aceitar os tais g0ys, uma nova “minoria” que surge, mas que não se considera gay? Por que?
As sementes foram plantadas lá atrás, para ser mais preciso na década de 1960. “Hoje gosto de mulher, amanhã de homem, depois de ambos, e quem sabe de meninos e meninas no futuro”. Sim, a pedofilia chegou a ser relativizada pela esquerda também, que só recuou estrategicamente para poder atacar a Igreja com seus escândalos vindo à tona. Mas ainda há quem lute para derrubar mais esse tabu na esquerda.
Esse tipo de coisa, como esse modismo dos g0ys, mostra que o discurso de “born this way” (Lady Gaga) não se sustenta muito, à exceção de alguns casos talvez: há, isso sim, uma permissividade cada vez maior e um ambiente cultural que estimula cada vez mais o “vale tudo” e todo tipo de maluquice, como se a única coisa absurda fosse ter algum tipo de freio aos apetites sexuais que aparecem a cada momento.
Rodrigo Constantino