O secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, afirmou nesta terça-feira que o movimento de alta do dólar não está limitado ao mercado brasileiro. Durante cerimônia para divulgar novidades no programa Tesouro Direto, ele afirmou que a moeda americana está subindo no mundo inteiro e que essa alta está sendo monitorada pelo governo. Saintive acrescentou ainda que a disparada do dólar não deve ser transmitida para os índices de inflação no Brasil.
— O movimento de câmbio é mundial, global. Não tenho expectativa de repasse para a inflação. Estamos acompanhando — disse Saintive.
O discurso foi endossado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy. Em entrevista, ele disse:
Não é segredo que o dólar tem se apreciado contra a maioria das moedas. Há dois anos e pouco, ele valia menos de 80 ienes, agora vale 121 ienes, ou seja, uma desvalorização de 50%. E a inflação japonesa continua bastante tímida. No Brasil, a volatilidade do dólar, maior nos últimos dias, tampouco se transmite linearmente à inflação. Até porque, o BC tem pleno uso dos instrumentos clássicos de política monetária para alcançar o objetivo de todos, que é a convergência da inflação para a meta de 4,5%. De qualquer modo, já tive ocasião de notar que a ideia de que um câmbio mais fraco é a grande solução para o Brasil não está correta, apesar da sua popularidade em alguns círculos.
Ou seja, podemos tomar como a posição oficial do governo Dilma a ideia de que a desvalorização do real recentemente não tem ligação com a conjuntura brasileira, o que iria de encontro ao discurso da própria presidente Dilma no Dia Internacional das Mulheres, responsabilizando a crise de 2008 pela situação de nossa economia. Só há um detalhe: o governo está errado!
Vejam as desvalorizações das principais moedas emergentes neste ano:
Como fica claro, o real brasileiro é o “patinho feio” na lista. Há, sim, um fator global em curso, de valorização do dólar. Isso se deve ao dado mais forte de emprego divulgado nos Estados Unidos e à crença de que em breve haverá uma retirada dos estímulos monetários, pressionando a taxa de juros para cima lá. Isso reverte o fluxo de capital e atrai dólares de volta para casa.
Mas claramente o Brasil vive algo especial, diferente, para além disso. Sua moeda já perdeu quase 15% este ano, enquanto as demais perderam uma média de apenas 5%. Ou seja, podemos afirmar que somente um terço da desvalorização do real é explicada pelo fenômeno global do dólar, e os demais dois terços seriam por conta dos problemas domésticos mesmo, como a alta inflação, a recessão econômica e o clima de incertezas políticas.
O euro chama a atenção também, e incluí na lista, apesar de não ser emergente, apenas para mostrar que o governo, ao tentar usar a Europa como base de comparação (como fez Dilma no discurso oficial), está apelando para uma tática desonesta. A Europa vive um momento delicado de crise, agravada pela Grécia, e no caso específico da moeda, o BCE, seu banco central, adotou uma política monetária expansionista bem agressiva. Com mais liquidez sendo jorrada nos mercados, sua moeda perde valor. É um caso específico e isolado.
Em geral, o brasileiro tem ficado mais pobre em relação ao resto do mundo todo. Os produtos importados ficarão mais caros, e a inflação também irá sofrer o impacto. Sem falar que nossos ativos valem cada vez menos. Nada disso se deve a um suposto fenômeno global. É uma crise de confiança mesmo, totalmente made in Brazil. Ver que até Levy passou a adotar o uso de bodes expiatórios não é algo que seja animador. Afinal, os fatos não deixam de existir só por serem ignorados…
Rodrigo Constantino
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