Na tentativa de diminuir as pressões pela instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Petrobras, a base governista articulou uma audiência no Senado para ouvir a presidente da estatal, Graça Foster. A ideia é que os esclarecimentos de Foster esgotem questionamentos sobre irregularidades e contratos malsucedidos na petroleira e permitam que os governistas ganhem tempo para inviabilizar o funcionamento da CPI. Governistas acreditam que, com depoimentos como o da presidente da estatal, podem adiar o início de funcionamento de uma CPI, de preferência até junho, quando o foco de atenção deve estar voltado para a Copa do Mundo, e não para o funcionamento do Congresso.
Em sua apresentação, Graça Foster não foi muito convincente sobre o caso da compra da refinaria Pasadena, no Texas. Alegou que, em análises em andamento, o grupo Astra teria comprado a refinaria por US$ 360 milhões, enquanto a Petrobras teria pago US$ 1,25 bilhão pelos 100%. A diferença, ainda que enorme, seria menos absurda do que os valores divulgados pela imprensa, de que o grupo Astra pagou pouco mais de US$ 40 milhões pelo ativo.
Graça Foster inclui na conta os investimentos feitos pelo grupo Astra após a compra e até a venda para a Petrobras. Legítimo, pois quando há novos investimentos, isso tende a aumentar o valor do ativo. Só que, para comparar banana com banana, Graça Foster deveria ter incluído também os investimentos feitos pela Petrobras na refinaria após a compra, para saber quanto a Petrobras já enterrou no negócio. Quanto a refinaria valeria hoje se fosse vendida? Somente assim teríamos o mesmo critério de comparação.
Além desse detalhe, Graça Foster selecionou números favoráveis à Petrobras, de forma a não deixá-la tão feia na foto comparativa com as “majors” do setor. O lucro em dólar ficou estável na estatal, enquanto caiu nessas empresas. A produção de óleo (excluindo gás) ao longo dos últimos anos caiu nessas empresas e não na Petrobras. Mas os dados podem ser torturados até que confessem qualquer coisa. Basta selecionar, por exemplo, um ano diferente para o começo da comparação que muita coisa pode mudar. Ou excluir o gás da equação, já que essas empresas expandiram muito a produção de gás.
Graça Foster se agarrou às promessas de crescimento da empresa, alegando que a dívida líquida sobre a geração de caixa começará a cair na frente. Até agora isso não ocorreu. A dívida líquida aumenta sem parar, mas a produção não acompanha, sem falar do preço (decisão de governo). O resultado é que as promessas passadas não foram cumpridas.
E eis o grande problema do discurso de Graça Foster: depende demais do futuro incerto, e ignora o passado e o presente incômodos. O primeiro senador a fazer perguntas foi Rodrigo Rollemberg, do PSB, e tocou no ponto certo: se tudo isso que a presidente da estatal mostrou é verdadeiro, então por que a perda de valor foi tão grande nos últimos anos?
Essa é uma sinuca de bico que Graça Foster não tem como evitar, mesmo com todo o malabarismo semântico e estatística selecionada. A imagem abaixo diz tudo. Se a Petrobras vai tão bem assim vis-à-vis seus pares internacionais, então como Graça Foster explica a acelerada deterioração de valor relativo da Petrobras?
O XLE é uma cesta de ações das principais empresas do setor nos Estados Unidos. Como fica claro, a Petrobras vale cada vez menos em relação ao grupo. Ou Graça Foster afirma que os investidores do mundo todo são uns completos ignorantes que vivem em outro planeta por não perceber todas as incríveis conquistas relativas da Petrobras, ou era melhor admitir que quem vive em outro planeta é ela mesmo, ao elogiar tanto uma gestão que só causou estrago no valor da estatal.
Contra fatos não há argumentos…
Rodrigo Constantino