Em sua coluna na Folha hoje, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, coloca como maior prioridade do momento, para o país poder crescer mais e de forma sustentável, o aumento da poupança doméstica. Diz ele:
A única forma de retomar o crescimento é elevar a produtividade e o estoque de capital da economia. Ou seja, investir em máquinas e equipamentos, educação, treinamento e infraestrutura.
Esse aumento substancial do investimento requer, em última análise, aumento da poupança nacional, e aqui chegamos ao nó górdio. A poupança brasileira é baixa para os padrões internacionais e extremamente baixa pelo padrão dos países emergentes, como esta Folha mostrou na segunda-feira. O aumento da poupança é o próximo grande desafio nacional.
O passo mais imediato é o aumento da poupança pública, com redução de gastos correntes e mais investimentos, uma decisão essencialmente política. As dificuldades no Congresso nessa área são reais e compreensíveis. Mas não maiores que o desafio vencido na década passada de equilibrar as contas e estabilizar a economia.
O segundo passo é elevar a poupança privada. Para isso, será preciso que as políticas públicas deixem de privilegiar o aumento do crédito e do consumo e incentivem a poupança, mesmo com perda de consumo no curto prazo.
A alta do investimento virá com poupança nacional ou estrangeira. Mas a dependência estrangeira não é sustentável, devido ao aumento do déficit externo e das incertezas dos mercados internacionais.
Portanto, a poupança nacional é o único caminho viável para o desenvolvimento sustentável no médio e longo prazos.
Para isso, é preciso que as autoridades assumam essa prioridade como meta nacional, mesmo com sacrifício de políticas pró-consumo de curto prazo.
Façamos uma rápida conta: o governo brasileiro arrecada 36% do PIB em impostos, e gasta praticamente tudo! Os investimentos públicos representam algo como 1% do PIB apenas. Restam para o setor privado os outros 64% do PIB, e desses, os investimentos correspondem a algo como 17% do PIB.
Em outras palavras, o setor privado até que poupa montante razoável, mais do que 25% do que produz. Poderia ser mais. Deveria ser mais. Há foco de curto prazo, muita demanda reprimida, cultura de cigarra míope, tudo isso. O próprio governo estimula o consumo calcado em crédito, como se não houvesse amanhã.
Mas o grande problema é mesmo a inexistente poupança pública. O caminho passa, inevitavelmente, pela redução dos gastos do governo. Sem isso, não há saída. Teremos apenas voos de galinha, dependentes da poupança externa ou do crescimento artificial do crédito sem lastro na poupança.
Para mexer nisso, precisaremos de um estadista, que não pense apenas nas próximas eleições, que esteja disposto até mesmo a se sacrificar politicamente em prol de um futuro melhor para o país. Algum candidato?
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