Os investidores do Brasil e do mundo acabam usando o Ibovespa como indicador do desempenho das ações nacionais. Mas cada vez isso faz menos sentido. A BM&FBOVESPA precisa rever a fórmula e os critérios com urgência, pois o formato atual gera muita confusão.
A própria bolsa explica que o Ibovespa é o principal indicador do desempenho de nossas empresas no mercado de capitais:
Sua relevância advém do fato do Ibovespa retratar o comportamento dos principais papéis negociados na BM&FBOVESPA e também de sua tradição, pois o índice manteve a integridade de sua série histórica e não sofreu modificações metodológicas desde sua implementação em 1968.
A tradição se encontra ameaçada. A metodologia do cálculo do índice leva em conta a “negociabilidade” das ações, sua liquidez em bolsa e o valor de mercado. Coisas muito estranhas podem ocorrer, todavia, quando uma ação acaba com grande liquidez, mas despenca em valor de mercado.
Pelo próprio fator benchmark que o Ibovespa possui, muitos investidores precisam seguir sua carteira. Fundos passivos, ou vários fundos ativos que calculam sua performance em cima do Ibovespa, devem levar em conta sua composição.
Isso acaba gerando um círculo vicioso, em que ações que deveriam perder relevância, pois valem cada vez menos, continuam sendo negociadas e com forte impacto no desempenho do índice. Isso confunde os investidores, e retrata de forma inadequada o desempenho geral das empresas brasileiras.
O caso recente mostra bem esse risco. A OGX, principal empresa do grupo EBX, de Eike Batista, chegou a valer bilhões de reais, passou a ser bastante negociada, mas desabou e praticamente “virou pó”. Não obstante, continua como a terceira ação mais importante no índice!
Note que as empresas próximas em termos de relevância na certeira possuem valor de mercado de dezenas ou mesmo centenas de bilhões de reais, enquanto a OGX vale pouco mais de um bilhão atualmente. Mesmo assim, representa mais de 5% no Ibovespa. Nenhum investidor que utiliza o índice como referência pode ignorá-la.
Tal método gera grandes distorções na análise e no cálculo de performance dos gestores. Os investidores mais leigos, que acompanham somente o Ibovespa como indicador da bolsa brasileira, acabam com uma fotografia irreal do quadro também.
Nos últimos dois anos, por exemplo, quando a OGX viveu o estouro de sua bolha, o Ibovespa acumula uma queda de quase 6%. No mesmo período, o índice FGV-100 teve alta de quase 15%, e o IBX-50 teve alta de 8%. A divergência pode ser explicada quase exclusivamente pela destruição da OGX e seu impacto no Ibovespa.
Portanto, prezado leitor, cuidado na hora de avaliar os fundos de investimento, assim como o desempenho de nossas empresas no mercado de capitais. A BM&FBOVESPA precisa rever sua metodologia, ou a tradição do mais importante indicador de nossa bolsa será coisa do passado.
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