A primeira prévia do IGP-M de setembro foi divulgada e ficou muito acima das expectativas do mercado. Veio em 1,02%, contra 0,67% de média projetada e bem acima dos 0,12% de agosto. Os preços agrícolas saíram de -0,51% para 2,22% em termos mensais.
O dado coloca em xeque a visão de muitos analistas, de que a alta do dólar não teria grandes impactos na inflação, pois o pass through seria reduzido. Baseiam-se em dados históricos, mas as estatísticas funcionam até o dia em que deixam de funcionar.
No passado, quando ocorria uma forte desvalorização cambial, normalmente o Banco Central dava um choque de juros para conter essa transferência. O próprio mercado esperava isso, e incorporava nas expectativas.
Hoje, o BC não goza da mesma credibilidade, pois é visto como um braço político do governo, que não segue a meta de inflação de forma autônoma. No mais, a economia ainda está perto do pleno-emprego, e há limites claros do lado da oferta.
Parece razoável esperar uma transferência maior da alta do dólar para os preços. A inflação não foi domada ainda. A luta continua, e o veredicto final não foi dado. A tranquilidade que o governo tenta passar simplesmente não encontra respaldo na realidade.