A liberdade de imprensa é um dos pilares de qualquer sistema livre. Sem ela, governantes podem abusar do poder sem tanta vigilância. Não foi por outro motivo que Thomas Jefferson chegou a optar: “Se tivesse que decidir se devemos ter governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último”. O papel principal do jornalista é levar à população o conhecimento dos fatos, inclusive e especialmente daqueles incômodos aos governantes poderosos.
Esse foi o tema da coluna de Carlos Alberto Di Franco no Estadão hoje. Após constatar que algo mudou no país após 15 de março, quando dois milhões de brasileiros tomaram as ruas em prol da cidadania, Di Franco lembra desse fundamental papel da imprensa independente, em contraste com a mídia chapa-branca que apenas bajula governantes em troca de esmolas – às vezes “esmolas” milionárias. Diz ele:
O autor comenta também a covardia dos que cedem ao politicamente correto, aderindo ao silêncio diante da pressão dos grupos organizados ligados ao governo. A intolerância dos radicais que tentam dividir o Brasil ao meio, como faz o PT, sempre jogando uns contra os outros, fomentando o ódio da luta de classes, teria sido repudiada pelas manifestações também, prova maior da miscigenação nacional. O PT e seus militantes não suportam isso, e adorariam impor uma “democracia” totalitária, com o respaldo da ditadura do politicamente correto.
Jornalistas que se deixam acuar por conta disso ignoram sua função na sociedade. Sucumbir a esta pressão é deixar de informar de forma mais imparcial, uma espécie de autocensura que limita a liberdade de expressão no país. Eis outro grande perigo para nossas liberdades, já tão ameaçadas pelo atual governo.
Claro que esse risco não é exclusividade nossa. É, na verdade, a tendência na América Latina, especialmente nos países bolivarianos. O senador Aécio Neves também usou o tema em sua coluna de hoje na Folha, após ter ido a um evento no Peru a convite de Mario Vargas Llosa.
Abro um parêntese: que diferença entre um candidato que vai a um evento organizado por Vargas Llosa e a outra que defende Maduro e Fidel Castro. Mas as urnas eletrônicas escolheram Dilma, fazer o quê? Fecho parêntese.
Aécio Neves condena o silêncio cúmplice do governo Dilma em relação ao abuso de poder dos líderes autoritários camaradas. Entre tantos abusos está justamente a asfixia da liberdade de expressão nesses países. Diz o senador tucano:
No que diz respeito ao Brasil é preciso reconhecer que continua inexistindo uma política externa eficiente do ponto de vista comercial e corajosa no campo político, capaz de fazer valer nossas posições. A natural liderança do nosso país no continente se apequenou. A defesa de valores humanitários universais cedeu lugar à conveniência de aliados alinhados ideologicamente.
É sempre danoso quando governos priorizam o discurso, a propaganda e projetos de poder. Quem paga a fatura é a população. Em especial, os mais pobres, aqueles em cujo nome alguns governos dizem agir para tentarem se colocar acima do bem e do mal.
Uma reportagem na Folha de hoje mostra justamente como governos que conseguem calar jornalistas avançam rumo ao autoritarismo. Foi o caso do México, que teve sua mais famosa jornalista demitida por pressão do governo. Segundo ela, seu país vive um “vendaval autoritário”. O motivo da demissão? Escândalos do governo expostos pelos jornalistas:
“Não tenho dúvidas de que houve pressão do governo e de que a razão foi o fato de termos divulgado o caso da ‘Casa Branca’. A emissora ficou também com nossos computadores e arquivos relacionados a essa e outras investigações”, disse Aristegui em entrevista à Folha, por telefone.
Com sua equipe de 17 jornalistas, todos também demitidos agora, Aristegui trouxera à tona a revelação de que a primeira-dama do país, a atriz de novelas Angélica Rivera, havia recebido uma mansão de US$ 7 milhões de Juan Armando Hinojosa, um empresário favorecido em várias licitações do governo.
Jornalismo verdadeiro é sempre um vigia do governo, agindo para impedir o abuso de poder e para expor os fatos incômodos. Qualquer outra coisa não merece o nome. Os “jornalistas” que vivem da bajulação ao governo são uma vergonha para a categoria. Aqueles que se curvam diante da pressão dos grupos organizados em prol das “minorias” e do politicamente correto também são. Só há jornalismo de fato onde há independência e coragem. Infelizmente, atributos raros em nosso país.
Rodrigo Constantino