Após cálculo meticuloso dos prós e contras eleitorais, a presidente Dilma cancelou (adiou) a visita de estado aos Estados Unidos. No comunicado oficial, consta essa justificativa:
As práticas ilegais de interceptação das comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros do governo brasileiro constituem fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatível com a convivência democrática entre países amigos.
Como discordar? O que gostaria de perguntar a Dilma, entretanto, é qual a sua opinião sobre a invasão de privacidade da conta bancária do caseiro Francenildo. Lembram dele? Aquele que entregou as “reuniões” na casa frequentada pelo então ministro Palocci em Brasília. Pois é.
Mais: a reação “para inglês ver”, ou mais precisamente “para eleitor ver”, descola-se e muito da reação em relação ao governo boliviano. Vamos recapitular: o governo de Evo Morales invadiu a propriedade da Petrobras na Bolívia com militares armados, e ficou por isso mesmo. Também interceptou avião de autoridades brasileiras, e nada.
Após nosso governo manter por mais de 450 dias em condições desumanas o senador boliviano na embaixada – e não fosse o ato heróico de Eduardo Saboia ele lá estaria até hoje – o nosso governo resolve, para compensar a revolta de Evo Morales, disponibilizar centenas de milhões como ajuda ao país.
O governo Dilma fala grosso com os Estados Unidos, e manso com a Bolívia. Sem dúvida esse comportamento está nos melhores interesses nacionais, não acham?
É deprimente ter um governo pautado apenas pela ideologia atrasada e pelo puro cálculo eleitoral. A indignação da presidente com a espionagem americana só convence mesmo alguém muito desatento. Não passa de jogo de cena. Temos um governo sob o comando do marqueteiro de olho apenas em 2014. A que ponto chegamos?