Foi divulgado nessa manhã o IPC-A acumulado em 12 meses, e o índice ficou em linha com o esperado pelo mercado, em 6,09%. Ainda é um patamar bastante elevado, mais perto do topo da banda, de 6,5%, do que do centro da meta, de 4,5% (que já é um patamar alto para padrões internacionais).
A média móvel de 24 meses (linha rosa), útil para avaliar a tendência de longo prazo, estabilizou-se, mas em nível bem perto de 6%. Essa tem sido, portanto, a inflação aceita pelo Banco Central. Podemos dizer que é a verdadeira meta do BC, e o mercado incorpora isso em suas expectativas.
Vale notar que esse índice não retrata a realidade total da variação dos preços, pois vários estão congelados por decisão do governo. Enquanto os preços livres sobem mais de 8%, os preços administrados sobem menos de 2%! Essa política é insustentável ao longo do tempo.
Na Ata do Copom divulgada ontem, o BC mostra preocupação com a inflação, afirma que ficará “especialmente vigilante”, mas dá sinais de que aceita um índice acima da meta mesmo lá na frente:
Nesse cenário, a projeção para a inflação de 2013 manteve-se estável em relação ao valor considerado na reunião do Copom de julho, portanto, permanece acima da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros coletadas pelo Gerin com analistas de mercado, no período imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de inflação para 2013 elevou-se em relação ao valor considerado na reunião de julho. Por conseguinte, permanece acima da meta para a inflação. Para 2014, no cenário de referência, a projeção de inflação manteve-se estável em relação ao valor considerado na reunião do Copom de julho e aumentou no cenário de mercado, posicionando-se, nos dois casos, acima da meta de 4,5%. No segundo trimestre de 2015, a inflação se posiciona acima da meta nos dois cenários.
O problema é que o lado fiscal não ajuda. O próprio BC parece contar com mais colaboração por essa via, mas isso ainda é incerto ou improvável. Diz a ata:
O Copom observa que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais. Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade. O Comitê nota ainda que a geração de superavit primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidifica a tendência de redução da razão dívida pública sobre produto e a percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo.
Em suma, o Brasil ainda convive com taxas de inflação altas demais, não obstante os preços administrados artificialmente reduzidos. O BC já iniciou a elevação da taxa de juros Selic para combater a inflação, mas em magnitude aquém da necessária. E aguarda ajuda do lado fiscal, que infelizmente parece nunca chegar.
Com isso tudo em mente, parece razoável trabalhar com expectativas inflacionárias perto de 6% ao ano por um longo período à frente, principalmente se a probabilidade maior for de reeleição da presidente Dilma (o que ainda é o cenário base nas pesquisas).
Com baixo crescimento econômico e esse patamar de inflação, pode-se concluir que o Brasil vive praticamente um quadro de estagflação, bastante desfavorável aos negócios.
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