A segunda prévia do IGP-M de setembro barrou todas as expectativas de mercado, e ficou em 1,36%. Isso confirma a tendência já apontada pela primeira prévia, que havia superado as expectativas também. A mediana esperada pelos analistas consultados pela Bloomberg era de 1,15%, e a máxima era de 1,26%.
O acumulado em 12 meses já está em 4,25% até a segunda prévia de setembro. O IPA (Índice de Preços Agrícolas) foi um dos vilões, com alta de quase 2%. O grupo de matérias-primas brutas teve alta de 3,72%, vindo de uma queda de 1,17% no mês anterior. Os itens que mais influenciaram a alta foram soja em grão, minério de ferro e milho em grão.
Como podemos ver, a esperança que alguns economistas tinham de que a desvalorização cambial, agora mais contida graças às mudanças esperadas no Fed (banco central americano), não iria impactar tanto a inflação parece infundada. Em uma economia com demanda aquecida e oferta limitada, o pass through da alta do dólar será inevitável.
A sorte do governo foi a retirada de Larry Summers da candidatura para assumir o lugar de Ben Bernanke, aumentando bastante as chances de Janet Yellen ser a próxima chairman (ou chairwoman) do Fed. Yellen é vista como uma das mais dovish de todos os potenciais candidatos, ou seja, a mais disposta a manter uma política monetária frouxa e expansiva.
Isso tende a pressionar o dólar frente as demais moedas, inclusive do real. Essa foi a principal razão pela qual as moedas emergentes se valorizaram na última semana. A bóia de salvação do Brasil, ao menos no curto prazo, está na continuidade de estímulos ousados do Fed, como defende Paul Krugman e companhia.
Isso, todavia, não é isento de novos riscos e custos no médio prazo. A tentativa de reativar o “tsunami monetário” poderá criar novas distorções ou mesmo bolhas mundo afora. O Brasil deveria fazer seu dever de casa para não depender dessa liquidez artificial do Fed, pois ela é insustentável.
Contar com doses cavalares de estímulos, tal como um dependente químico com as drogas, não parece uma postura muito razoável.