É nisso que dá ter um sistema de eleição que garante carona a ilustres desconhecidos no voto dos outros. Com apenas 13 mil votos, um participante do Big Brother Brasil virou deputado federal, e com este poder, pode criar projetos de lei que atentam contra o país.
Jean Wyllys, dessa vez, pretende, além de legalizar a maconha (um debate legítimo), conceder “anistia” aos traficantes, que seriam perdoados de forma retroativa *:
O Projeto de Lei 7270/14 prevê anistia para quem foi condenado por venda da maconha. A medida vale para as condenações anteriores à aprovação da lei. Segundo o texto, o perdão é para “todos que, antes da sanção da lei, cometeram crime previsto na lei antidrogas, sempre que a droga que tiver sido objeto da conduta anteriormente ilícita por elas praticada tenha sido a cannabis [nome científico da planta], derivados e produtos da cannabis”.
Em entrevista ao Congresso em Foco, Jean disse que a soltura do traficante é uma questão de coerência. “Se a venda for legalizada, não faz sentido a pessoa continuar presa. A gente precisa ser uma sociedade solidária, discutir. Nós temos a quarta maior população carcerária do mundo”, disse ele hoje.
Quarta maior população carcerária do mundo e quinta maior população em termos absolutos, deputado! Um pequeno detalhe que foi estrategicamente ignorado, não é mesmo? Apenas China, Índia, Estados Unidos e Indonésia possuem população maior. Seria estranho ser a quinta população do mundo e ter a centésima população carcerária, não é verdade? Talvez fosse seu sonho, um país sem leis com todos soltos, ou quem sabe apenas conservadores atrás das grades…
Outra coisa: sociedade solidária? O que solidariedade tem a ver com isso, deputado? Solidariedade, para mim, é ajudar voluntariamente pessoas corretas, carentes, necessitadas. É ceder o próprio tempo para colaborar com trabalhadores em dificuldade, com gente honesta passando por algum aperto financeiro ou emocional.
Solidariedade é aquilo que as igrejas, tão atacadas por você e seus colegas, sempre fizeram, ao distribuir comida e oferecer abrigo a quem precisasse, tudo isso sem invadir nossos bolsos com impostos (o que retira o caráter voluntário, indissociável da solidariedade verdadeira, que jamais pode ser compulsória).
Perdoar um traficante que, sabendo da ilegalidade de seu ato, ainda assim assumiu os riscos e vendeu droga ilícita por aí, só pode ser visto como “solidariedade” em uma cabeça bastante conturbada. São critérios muito esquisitos e valores morais bem deturpados. Que, aliás, vão contra a imensa maioria da população:
De acordo com levantamento da empresa Expertise, divulgado no final do mês passado, 81% dos brasileiros são contra a legalização da maconha e 19%, favoráveis. Os números são semelhantes aos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apurados em 2013, que apontaram 75% da população contrária à liberação do entorpecente.
Como liberal, considero legítimo o debate sobre a legalização da maconha, apesar de entender que o tema está muito distante das prioridades brasileiras. Há tanto a fazer antes disso! Um país sem segurança, sem saneamento, com excesso de intervenção estatal, com impostos de 40% do PIB, com impunidade, com ausência de liberdade econômica, com comunidades dominadas por bandidos, vai realmente definir como prioridade liberal o direito de vender e consumir um entorpecente que é proibido quase no mundo todo? Seremos pioneiros e cobaias justamente nisso? Se nem a Holanda gostou muito desse caminho?
Alguém realmente acha que basta legalizar a maconha para derrotar o poder paralelo nas favelas, para reduzir a criminalidade? Ora, a venda de gás é absolutamente legal, mas em várias comunidades é controlada pelos traficantes. Por outro lado, a maconha é proibida em vários países que não enfrentam o mesmo problema de criminalidade e violência. O buraco é bem mais embaixo!
Sinto muito aos colegas libertários, mas tenho outras prioridades no momento. E vale observar que tipo de gente tem abraçado com tanta vontade essa bandeira, o que já é suficiente para dar calafrios em qualquer pessoa. Aquilo que socialistas desejam com tanto afinco deveria ser sinal de, no mínimo, alerta para qualquer liberal, conservador ou libertário.
Jean Wyllys escolhe o lado dos traficantes e, em nome da “solidariedade”, quer lhes conceder o perdão legal. Eu fico do lado da população brasileira…
Rodrigo Constantino
* Especialistas da área jurídica informam que o deputado fez apenas populismo em cima de um princípio jurídico que já valeria. Se o crime for abolido, no caso todos aqueles que foram presos por conta deste crime devem ser soltos.