Meu ex-professor de economia, Rogério Werneck, toca em pontos importantes na sua coluna de hoje no GLOBO. Mostra como a reação do governo ao leilão de Libra é puramente eleitoreira, e que essa é uma equipe que não aprende com os próprios erros. Diz ele:
Era mais do que sabido que o governo estava pronto para comemorar em grande estilo o leilão de Libra, qualquer que fosse seu desfecho. Mas a comemoração acabou passando dos limites. E deixou transparecer clara intenção de lançar poeira nos olhos da opinião pública, para disfarçar as dificuldades expostas pelo leilão.
Tendo em conta as dimensões do campo de Libra, é natural que as cifras relacionadas à sua produção potencial pareçam impressionantes. Especialmente se acumuladas num período de 35 anos. A questão é o quão mais impressionantes poderiam ter sido se o leilão tivesse sido pautado por regras bem concebidas.
É lamentável que, com seis anos de preparação, a licitação montada pelo governo só tenha conseguido atrair um único consórcio que, com toda tranquilidade, arrematou o campo pelo lance mínimo. Trata-se de desfecho melancólico que, num país sério, deveria dar lugar a uma reavaliação criteriosa das restrições que o governo decidiu impor ao leilão.
Só mesmo no Brasil um “leilão” com um único participante pode ser celebrado! É algo que faz os estrangeiros coçarem a cabeça de perplexidade. Os valores são divulgados com alarde também, mas se ignora o horizonte da exploração e o fato de que Libra era a “joia da coroa”. Ou seja, não há mais campos como este para leiloar.
Muitos comemoram as cotas nacionalistas para a compra de equipamentos, mas ignoram o custo de oportunidade disso. Werneck não deixa isso passar despercebido:
Menos óbvia, mas da maior importância, é a constatação de que os custos medidos em óleo, deduzidos da produção total para efeito da apuração do lucro em óleo, estão brutalmente inflados pelas absurdas exigências de conteúdo local em equipamentos. Em bom português, isso significa que, para sustentar vasta gama de produtores nacionais de equipamentos para a indústria de petróleo, o governo aceitou receber parcela menor do petróleo que será produzido em Libra. Menos dinheiro para educação e para saúde. E mais dinheiro para grupos de “interesse especial” que, com crucial ajuda do governo, conseguiram se apropriar de parte substancial do excedente a ser gerado pelo pré-sal.
Bastiat, já no século 19, chamava a atenção para aquilo que se vê e aquilo que não se vê. A velha e comum visão míope de muitos analistas. Olham o volume de compra de materiais domésticos e aplaudem a criação de empregos nessas indústrias.
Mas esquecem que o valor maior pago por eles representa menos recursos destinados para outras áreas. Não seria melhor comparar os produtos mais baratos de fora e usar a diferença para investir em outras coisas mais eficientes? Claro que sim. Werneck conclui com um exemplo:
Numa propaganda oficial recente na TV, pessoas com olhos marejados assistem um video em que um robô fixa a Bandeira Nacional no fundo do mar, num poço da Petrobras. A cena traz à mente os R$ 90 bilhões, a preços de hoje, transferidos do Tesouro à Petrobras, em 2010, e a inevitável constatação de que, num país de tantas carências, recursos públicos tão vultosos poderiam ter tido destino incomparavelmente mais nobre. Para ajudar a fixar essa ideia, deveríamos imaginar uma pequena Bandeira Nacional espetada em cada esgoto a céu aberto Brasil afora. Isso, sim, deveria deixar nossos olhos marejados. Já é hora de o País tomar juízo.
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