Contardo Calligaris, em sua coluna da Ilustrada de hoje, cita pesquisa que aponta os benefícios da literatura na empatia das pessoas. Costumo desconfiar dessas pesquisas, bastante incompletas e simplistas, mas essa pode fazer algum sentido lógico sim. Diz ele:
A teoria da mente emocional é a capacidade de reconhecer o que os outros sentem e, portanto, de experimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da mente cognitiva é a capacidade de reconhecer o que os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e de negociar soluções racionais. Obviamente, enxergar o que os outros sentem e pensam é uma condição para ter uma vida social ativa e interessante.
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Conclusão: os leitores de ficção literária enxergam melhor a complexidade do outro e, com isso, podem aumentar sua empatia e seu respeito pela diferença de seus semelhantes. Com um pouco de otimismo, seria possível apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra sociopatia e psicopatia. Mais duas observações.
1) A pesquisa mede o efeito imediato da leitura de trechos literários. Não sabemos se existem efeitos cumulativos da leitura passada (hoje não tenho tempo, mas “já li muito na adolescência”): o que importa não é se você leu, mas se está lendo.
2) A pesquisa constata que a ficção popular não tem o mesmo efeito da literária. A diferença é explicada assim: a leitura de ficção literária nos mobiliza para entender a experiência das personagens.
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Em suma, o texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).
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Quanto a mim, imaginei que, na próxima vez em que eu for chamado a sabatinar um candidato, não esquecerei de perguntar: qual é o romance que você está lendo? E espero que o candidato mencione um livro que conheço, para verificar se está falando a verdade.
Pois é. Essa pergunta foi feita a então candidata Dilma Rousseff. Vejam a resposta:
httpv://www.youtube.com/watch?v=mNanKMpnFHE
Se o conselho de Contardo Calligaris fosse levado a sério, acho que a presidente perderia muitos votos em 2014, não é mesmo?
Em tempo: já li cinco livros de Sándor Márai, e achei todos bem marcantes e interessantes. Não é o tipo de livro que você “está lendo” e nem sabe do que se trata…