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Eduardo Giannetti da Fonseca tem meu profundo respeito. Li praticamente todos os seus livros (só falta um), e reconheço nele uma das boas cabeças pensantes desse país. Quando ele endossa um político, portanto, isso representa um selo de qualidade e tanto. Não fosse isso, eu teria mais desconfiança da Marina Silva do que já tenho. Infelizmente, uma andorinha só não faz verão…

Se Marina tem Giannetti da Fonseca como conselheiro econômico de um lado, tem Leonardo Boff e gente desse tipo como “gurus” ideológicos do outro. A luz amarela pisca sem parar: alerta total, não dá para pensar que é Giannetti da Fonseca o único ou mesmo principal interlocutor de Marina.

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Dito isso, não deixa de ser positivo ler na entrevista do economista à Folha que Marina seria menos estatizante do que a presidente Dilma (também, convenhamos, não é algo muito difícil). Seguem alguns trechos importantes:

É possível que haja uma piora nos termos de troca, especialmente no caso das commodities minerais, que dependem do investimento e da construção civil da China, que está caindo e vai cair mais. Havendo esse movimento para o mercado interno, as commodities agrícolas podem se beneficiar. O Brasil voltou para o pelotão dos vulneráveis, ao lado da África do Sul, da Índia e da Indonésia.

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Entramos numa fase de baixo crescimento crônico, com uma inflação teimosamente na vizinhança do teto da meta e num caminho de vulnerabilidade externa. A conjuntura internacional mudou. Há um componente estrutural que é a deterioração fiscal desde 1988. E tem um componente conjuntural que é piora da qualidade da política econômica a partir do segundo governo Lula e, de forma acentuada, durante Dilma. O Brasil tinha uma carga tributária bruta de 24% do PIB em 1988 e o Estado investia 3% do PIB. Hoje temos uma carga de 36% do PIB e investimento de 2,4% do PIB.

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O governo FHC errou muito ao manter a âncora cambial. A partir do momento que flutuou o câmbio, o juro começou a baixar.

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O Brasil vinha de um bom momento, que foi o segundo mandato de FHC e o primeiro de Lula, quando prevaleceu o tripé: austeridade fiscal, superávit primário para valer, câmbio flutuando, autonomia do BC para cumprir o centro da meta de inflação. Isso começou a se fragilizar com a expansão fiscal do segundo mandato de Lula, até certo ponto justificável pela crise de 2009. Só que a partir de 2009, e do governo Dilma, as três pernas do tripé fraquejaram.

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O que me entristece é ver boa parte do empresariado brasileiro tutelado pelo governo e neutralizado na sua capacidade de crítica pelo fato de depender de obséquios, favores, subsídios e proteção que o governo oferece. O empresariado brasileiro em boa parte se comporta como súdito e não como cidadão. O governo abriu esse balcão de negócios. Começou a negociar caso a caso tarifa de proteção para setor, a abrir os cofres dos bancos estatais para os empresários. Como é que um empresário que está dependendo de um crédito de um banco estatal vai poder aparecer publicamente criticando o governo? Ele fica tolhido. A elite empresarial está no bolso do governo.

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O mapa eleitoral da Dilma está muito associado a 40 milhões de contracheques [pagamentos ao funcionalismo em todos os níveis, aposentadorias, pensões e benefícios sociais]. Na elite, o governo tem um controle da situação pelo cofre e pela manipulação de desonerações tributárias, tarifas de importação, leis, subsídios, créditos.

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No tocante à política macroeconômica, não vamos reinventar a roda. Vamos continuar o que estava funcionando muito bem no Brasil, que é o tripé.

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Precisamos aumentar a competitividade e a produtividade. O governo apostou em microgerenciamento e entrou numa espiral intervencionista. Não funciona. No petróleo, outra confusão. Tornam a Petrobras responsável por pelo menos 30% dos investimentos no Pré-Sal e, ao mesmo tempo, puxam o tapete da Petrobras segurando os preços dos combustíveis.

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A Petrobras é uma empresa de economia mista. Deveria atuar dentro de critérios mais de mercado. Não acho que seja o caso de privatizar integralmente a Petrobras. Onde a estatização foi longe demais é no crédito.

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Não tenho nenhum problema com transferências de renda. Qualquer sociedade organizada deve ter uma rede de proteção social. O que não me parece bom é criar uma expectativa de que isso é um modo de vida permanente. Ninguém fala de capacitar realmente cidadãos.

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O Estado deveria estar mais atuante na saúde pública, no ensino fundamental, no saneamento básico. Não entendo um governo que coloca tanta ênfase num trem bala e deixa esquecida a questão do saneamento básico.

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Esse governo tem uma mentalidade nacional-desenvolvimentista semelhante a que prevaleceu no Brasil durante o governo Geisel.

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Ritmo é menos importante do que a qualidade. Crescer 7% destruindo patrimônio ambiental é muito pior do que se crescer 3% preservando patrimônio ambiental e, na medida do possível, melhorando as condições de vida. O crescimento em si não é o objetivo. Nenhum governo pode prometer crescimento. Crescimento é uma escolha que a sociedade faz. O governo não tem uma alavanca. Pode oferecer um ambiente mais amigável ou não.

Enfim, parecem pontos de vista moderados e bem razoáveis, diria quase liberais. Eduardo Giannetti da Fonseca talvez tivesse o meu voto. Só que não é ele o candidato. É Eduardo Campos em coligação com Marina Silva. E nessa dupla é difícil confiar em termos econômicos ou políticos.

Acho que a aproximação entre Giannetti da Fonseca e Marina Silva fez muito bem a ela, ajudou-a a compreender melhor certas bandeiras, tal como a importância do tripé macroconômico. Mas o ranço esquerdista continua forte nela, assim como em seu novo parceiro, o socialista do PSB. Talvez Giannetti da Fonseca se sentisse mais em casa auxiliando o tucano Aécio Neves do PSDB…