Em artigo na Folha hoje, Marina Silva demonstra porque é perigosa do ponto de vista dos liberais. Logo de cara ela defende a tal “função social” da propriedade, algo que ninguém sabe explicar direito o que seja, mas que serve como poder arbitrário na mão do governo para expropriar terras. Ela diz:
Suponha que um dia, por negociação dos líderes partidários, fosse aprovada uma lei determinando que todos os títulos de propriedade de terras, das menores fazendas às grandes “plantations” do agronegócio, só seriam válidos depois de analisados, um a um, pelo Congresso Nacional.
Veríamos os donos da terra brasileira invocando o direito humano e divino de que seriam beneficiários desde os primórdios da civilização. Muitos deles já o fazem, com grande alarde, sempre que uma porção de terra é destinada a atender uma demanda social ou tem sua exploração subordinada a um critério ambiental. Para eles, o direito à propriedade privada é ancestral, sagrado, e se sobrepõe aos direitos e funções sociais, considerados menores e periféricos.
Quem determina as tais funções sociais da propriedade? Quais terras devem se submeter a esse vago critério? Alguns, não custa lembrar, querem estende-lo às propriedades urbanas também, como o caso daquela líder do Movimento Passe Livre, que falou em “latifúndios urbanos”.
Quando a terra é “improdutiva”, ela deixa de exercer sua função social? E qual patamar de produtividade deve ser alcançado para ser classificada como produtiva? Vale para os assentamentos do próprio MST, verdadeiras favelas rurais?
Enfim, quando o direito de propriedade, valor dos mais importantes no liberalismo, começa a ser relativizado dessa forma, abre-se um precedente muito perigoso. Marina parece endossar esse relativismo, e vai além, citando Eduardo Galeano e a “bíblia” das esquerdas latino-americanas:
A abertura da terra indígena à exploração mineral, cuja promoção prática se tenta legitimar mudando a lei, é típica da sangria de um continente definido por Galeano com as “veias abertas”. Os mitos do progresso na sociedade do consumo uniram-se a uma espécie de nacionalismo torto, anti-indígena, para gerar um espantalho em que o povo brasileiro não se reconhece.
Ao que me parece, são as esquerdas multiculturalistas que não consideram os índios brasileiros. Ao criarem “zoológicos humanos” que preservam suas culturas, ainda que algumas possam incluir até infanticídio, essas pessoas não só impedem o progresso dos índios rumo à civilização mais avançada, como os tratam feito seres inferiores, inimputáveis, mascotes da visão arrogante e elitista de uma gente culpada.
Índio é brasileiro! E por isso mesmo, devemos lutar pela igualdade deles perante as leis, em vez de ceder 13% do território nacional (é pouco?) que acaba servindo para abusos e corrupção de líderes indígenas e funcionários da própria Funai, enquanto os demais vivem na total miséria. Mas Marina prefere apelar para o sensacionalismo barato que seduz as elites no Facebook:
Quantas vezes os guaranis-kaiowás de todas as aldeias e cidades precisarão dizer e assinar de próprio punho que o Brasil verdadeiro ama os índios e se reconhece neles?
Eles amam os “índios”, enquanto abstração, enquanto mascote para sua própria sensação de superioridade moral, de regozijo por serem almas sensíveis e abnegadas. Curtem uma matéria no jornal, trocam o sobrenome no “Face”, votam na Marina Silva, são lindos!
E depois seguem com suas vidas confortáveis na civilização, com ar condicionado e remédios de laboratórios capitalistas, com suas propriedades bem protegidas, enquanto os “índios” continuam abandonados na miséria e barbárie.
Por outro lado, outros índios, seguros da impunidade, matam pequenos agricultores, como no vídeo abaixo (imagens fortes):
httpv://www.youtube.com/watch?v=qaant5PInUo
Aos ilustres membros dessa esquerda caviar, da qual Marina Silva parece um ícone perfeito, pergunto: amam também os índios que fizeram isso?