Hoje vai chover. Na verdade, aqui em Weston já está chovendo, e muito. E tudo porque aconteceu o que parecia impossível, o inimaginável: eu concordei com Gregorio Duviver! Mas calma, antes de chegar ao final chocante, vamos começar pelo começo, que é o mais recomendável.
Em sua coluna de hoje na Folha, Greg faz todo um arrazoado sobre macacos e tartarugas para chegar ao cerne da questão: condenar o homossexualismo por ser “antinatural” não faz muito sentido, já que o natural, quando se trata de animais, é a busca pelo prazer. Diz o humorista:
Uma grande parcela dos carneiros machos jamais fez sexo heterossexual e é fiel a um parceiro só –macho. Um em cada dez peixes-palhaço troca de sexo ao longo da vida. Coalas fêmeas organizam intermináveis orgias lésbicas. Golfinhos penetram no buraco de respirar de seus colegas, experimentando as delícias do prazer nasal. Há focas que preferem pinguins –embora estes raramente prefiram focas.
Freud dizia –estou parafraseando– que existem tantas sexualidades quanto existem seres humanos. Se morasse no Rio ou tivesse TV a cabo, talvez dissesse que existem tantas sexualidades quanto seres vivos (e isso sem falar nas plantas).
Os detratores da homossexualidade alegam que ela não é natural –como se o natural fosse amar um ser só, do sexo oposto, a vida inteira. De fato, parece que algumas lagostas são heterossexuais e monogâmicas. Mas quem mora no Rio de Janeiro ou assistiu a meia horinha de Discovery Channel sabe muito bem que nada é mais natural do que o prazer. Je suis macaco-prego.
Já que Greg citou Freud, talvez fosse interessante ele ler também Mal-estar na Cultura, livro em que o “pai da psicanálise” fala da importância dos freios civilizatórios para os seres humanos. O conceito de “pulsão de morte” vem bem a calhar aqui: deixado aos próprios “instintos”, o homem pode facilmente se destruir. O alerta de Burke captura bem isso:
A sociedade não pode existir, a menos que um poder que controle a vontade e o apetite seja colocado em algum lugar, e quanto menos exista interiormente, mais dele existirá exteriormente. Está ordenado na constituição eterna das coisas, que homens de mentes intemperantes não podem ser livres. Suas paixões forjam seus próprios grilhões.
Do mundo animal, referência moral de Greg, temos também várias atrocidades. É natural, por exemplo, comer (literalmente) os outros sem pedir licença, envenenar as vítimas enquanto os filhotes degustam de sua carne paralisada, engolir a cabeça do macho após o coito etc. Alguns índios, para chegar à nossa espécie, praticam infanticídio. Pergunto-me quais dessas experiências Greg também deseja participar, em nome do “natural”…
Os “progressistas” como o Greg não querem aceitar limites ao desejo, ao impulso, ao instinto, aos apetites, tais como crianças mimadas – ou macacos-pregos. Para eles, se bateu vontade, isso é o que basta para fazer algo. O prazer imediato é o único guia moral. A gula jamais seria um pecado, assim como a luxúria. Aliás, pecados não existiriam, e tudo seria permitido. Os “progressistas” confundem liberdade com libertinagem, algo um tanto fora de moda depois da década de 1960 – e todo o estrago que ela causou.
Se “der na telha” de um “progressista”, guiado apenas pelo prazer, fazer sexo com uma criança, quem somos nós para condenar, não é mesmo? Depois do “poliamor”, da defesa moral da orgia e do bacanal, vem aí o combate ao conceito da pedofilia. Acha que exagero, que estou paranoico? Mas isso já começou! E com base em qual critério moral os “progressistas” vão rejeitar isso, se tudo que importa é o prazer do momento? Vamos derrubar todos os tabus, certo? Incesto inclusive!
“Mas calma lá, Rodrigo, você disse – e colocou até no título – que tinha concordado com Greg, e acima fica claro que você está criticando seu texto, uma vez mais. Você mentiu?”. Não, eu não menti. Eu não disse que concordava com tudo que o Greg escreveu hoje. Eu concordei com uma pequena parte, para dizer a verdade. Somente com a conclusão, para ser mais específico. “Je suis macaco-prego”, diz o rapaz. E como discordar?
Rodrigo Constantino