O poeta Ferreira Gullar foi comunista radical por boa parte de sua vida. De uns tempos para cá, tornou-se mais crítico, reconheceu inúmeros erros do passado, e tem condenado muitos equívocos da esquerda, ainda que tente resguardar a “legítima” esquerda desses populistas que se dizem esquerdistas.
Em sua coluna de hoje na Folha, Gullar ousou criticar abertamente a “vaca sagrada” do governo do PT, o programa Bolsa Família. Sem rodeios, o poeta chama essa forma de assistencialismo de compra de votos, algo que o próprio ex-presidente Lula, na oposição, concordaria sem pestanejar.
A dificuldade de se romper com um esquema legal, ainda que indecente desses, é tão grande que nenhum candidato de oposição tem coragem de ir contra ele. Um diz que pretende expandi-lo (já são mais de 13 milhões de famílias beneficiadas!) e o outro que vai torná-lo política de estado, e não de governo. Mas quem vai desarmar a mais escancarada e populista compra de votos já vista no Brasil?
Investir em educação de qualidade, saneamento básico cujas obras ficam menos expostas ao olhar dos eleitores, e infraestrutura que permitiria ganhos de produtividade ao país são coisas que dão muito trabalho e cujo benefício vem apenas com o tempo. Mas distribuir mesada vai direto na veia, e ainda cria dependência. Conclui Ferreira Gullar:
Palavras corajosas, pois impopulares e politicamente incorretas, ditas em uma era de extrema covardia, em que todos precisam posar de populistas e sensacionalistas para serem “aceitos”. Minha admiração e meu respeito por Ferreira Gullar só aumentam desde que ele vem fazendo essa reavaliação geral de suas crenças políticas e ideológicas, sem medo de sucatear seu passado.
Rodrigo Constantino
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