Em sua coluna de hoje na Folha, Aécio Neves toca nos pontos certos, mostrando que a eterna negação do governo atual em reconhecer os problemas econômicos é uma postura covarde que vai trazer altos custos ao país. Ele diz:
Mais uma vez não foi diferente. O governo federal reagiu com desdém aos relatórios divulgados na última semana pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), carregados de advertências sobre a equivocada condução da política econômica em vigência no país, como já vinham apontando as agências internacionais de risco.
Essas análises, delineando um cenário de dificuldades e incertezas à frente, apenas reproduzem os alertas de muitos brasileiros -e não apenas das oposições. Sem respostas para os problemas, a estratégia oficial é a de sempre: desqualificar a crítica e o interlocutor, como se estivesse em curso um verdadeiro complô contra o governo.
Trata-se da contumaz terceirização de responsabilidade pelos problemas, que parecem nunca estar na órbita de quem tem o dever de decidir e governar. A verdade é que o discurso otimista das autoridades econômicas não corresponde aos fatos descritos com riqueza de detalhes nos relatórios e muito menos nos indicadores da economia brasileira.
A principal e mais grave conclusão é a crescente deterioração das contas públicas e a utilização de recursos que ficaram conhecidos como “contabilidade criativa”, cuja face mais visível é a promiscuidade das relações entre Tesouro Nacional, bancos públicos e empresas estatais, no processo de fechamento de resultados fiscais sem transparência e descolados da realidade.
Em vez de imaginar conspirações fantasiosas e inimigos invisíveis, melhor seria que se reconhecesse a existência dos problemas. Afinal, não haverá solução para distorções e falhas graves como as atuais se, na órbita do governo, elas simplesmente não existem.
A responsabilidade pela crônica falta de planejamento governamental ou disfarçada leniência com a farra dos gastos públicos e os desperdícios em série são intransferíveis.
Não há como tapar o sol com a peneira -há um indiscutível consenso formado entre especialistas brasileiros e estrangeiros em relação às fragilidades do cenário econômico e as desconfianças geradas pela ação do governo em áreas diversas.
A má gestão dos recursos públicos tem impacto importante nos males que afligem a economia do Brasil, como inflação elevada, a escalada das taxas de juros, o baixo nível de investimentos, o fracasso do programa de concessões de obras de infraestrutura e, como consequência desta sinergia, o baixo crescimento.
É fundamental que tenhamos a compreensão do momento delicado porque passa o país e das decisões que estão sendo tomadas, tanto quanto daquelas que estão sendo adiadas. Ambas terão papel decisivo na vida dos brasileiros, nos próximos anos.
Pois é. Quem tem olhos para enxergar já viu que o governo vende uma fantasia, passando a ideia de que está tudo ótimo, e que essas críticas todas são infundadas. Mas não são apenas os que enxergam que votam. O desafio de Aécio Neves é mastigar essa mensagem e levar ao grande público, aos eleitores que ainda não se deram conta desses problemas todos.
Não adianta falar apenas para os já convencidos, para o público seleto da Folha (se bem que tem muito leitor do jornal que é mais que míope; é cego mesmo). Aécio acerta o rumo do discurso, mas ainda é preciso subir o tom, embalar a mensagem melhor e convencer a maioria dos brasileiros de que, sem mudança no curso econômico atual, todas as conquistas passadas poderão ser perdidas.
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