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O copo meio cheio: náusea com Brasil de Dilma pode ser purgatório para melhoras à frente
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Copo meio cheio ou meio vazio?

O Brasil está cada vez mais caótico, e tudo deve ser colocado na conta de Dilma. Não foi por falta de aviso dos liberais. Estamos regredindo uns dez anos no tempo. Aliás, número mágico: o dólar atinge o maior valor em dez anos, chegando a R$ 3,00, assim como a inflação, que acumulou incríveis 7,7% em fevereiro nos últimos 12 meses, o maior índice em quase dez anos. O Brasil subia de escada rolante, gradualmente, e resolveu descer de elevador (ou seria de bungee jumping?) com Dilma.

Mas como já aponto os dados ruins com frequência, farei agora um exercício de Pangloss. Tentaremos ver o lado bom disso tudo, o copo meio cheio. Não é endossar a máxima de quanto pior, melhor, e sim compreender que a fase ruim pode produzir efeitos positivos também. Crise em chinês, reza a lenda, é escrito com dois caracteres, um deles significando perigo, o outro oportunidade. Há alguns sinais de que esse clima negativo possa parir mudanças desejáveis.

Em primeiro lugar, a maior força relativa do Congresso e o próprio PMDB cada vez mais independente do PT. O discurso de esquerda gosta de jogar no PMDB a culpa por todos os males de nossa democracia, mas não é bem assim. O partido é fisiológico e corrupto, sem dúvida, mas também pode ser um fator de equilíbrio que impede a concentração demasiada de poder em uma só legenda, especialmente no PT, com seu projeto golpista e autoritário.

Por exemplo: o PMDB já está pressionando o PT por um nome mais independente para o STF, a ser indicado por Dilma para substituir Joaquim Barbosa. Eis um claro efeito positivo da crise política e econômica. Em condições normais de temperatura e pressão, o PT teria o caminho mais livre para seguir com o aparelhamento do STF, parte crucial do projeto bolivariano. O despertar do PMDB, ainda que por razões comezinhas e não nobres, produziu um efeito positivo.

Outro exemplo: o clima ficou tenso na CPI da Petrobras, houve bate-boca entre petistas e membros do PMDB, o presidente da CPI foi xingado de “moleque”, mas o fato é que foram criadas sub-relatorias que na prática esvaziam o poder do relator petista e aumentam a independência da CPI. Novamente, mais um resultado positivo da briga entre PMDB e PT, fruto do caos econômico produzido por Dilma.

Em sua coluna de hoje, Reinaldo Azevedo também foca nesse aspecto positivo da incompetência de Dilma, que ao menos serviu para jogar um enorme balde de água fria nos bolivarianos do PT. Vários projetos golpistas tiveram de ser abandonados, e o Brasil agradece. Diz Reinaldo:

Sim, a Petrobras foi à breca, o país está na lona, Joaquim Levy espicha seu olhar fiscalista até para as bolsas das velhinhas… Mas tanto desastre, vejam que bacana!, sepultou a reforma política do PT, que tinha ares de golpe branco na democracia; permitiu o avanço do que chamam por aí, de modo burro, de “PEC da Bengala”, o que deve preservar o STF de tentações momesco-bolivarianas; enterrou os delírios dos companheiros de “controle social da mídia”; transformou, desta feita, o estelionato eleitoral em “carnadura concreta” (by João Cabral).

Atenção! Em 2003, Lula jogou no lixo o programa com o qual se elegeu, e isso foi bom. Estelionatário, sim, mas, a seu modo, virtuoso. Desta feita, Dilma sepultou as promessas da campanha –porque não tinha saída–, e a vida das pessoas piorou.

Saúdo, assim, a incompetência do governo. E não porque eu seja adepto do quanto pior, melhor! Mas porque a crise trouxe de volta a política. Janot, com as suas alegorias de mão, lustra o Brasil da impunidade. Dilma, com a sua ruindade, preserva o país, eis a ironia, da sanha petista, como veremos no próximo dia 15, nas ruas. Engraçado, né?

Também na Folha, Marcos Troyjo mostrou as diferentes fases do Brasil, que passou da fobia para a mania, e agora está despertando náuseas nos investidores estrangeiros (e locais). Mas há a possibilidade de isso produzir um resultado positivo à frente:

O sentimento no exterior não é de que o Brasil se tornará um “Estado Fracassado”. O embrulho no estômago vem da sensação de desperdício de oportunidades, gerações que se consomem e futuro não construído.

Os próximos 18 meses serão de provação, mas o país é maior que fantasmas do curto prazo. Esta fase de Brasil-naúsea pode não ser de todo ruim. Talvez signifique que o sistema de defesa do organismo esteja funcionando.

Algo de errado -o modelo brasileiro de capitalismo de Estado- teria de ser expelido. Com isso, o país retomaria seu amplo patrimônio de potencialidades.

Estamos no purgatório! Claro que há o risco de isso ser apenas uma transição para o inferno dantesco. Seria o caso se a crise, em vez de produzir anticorpos fortes o suficiente para enfrentar o PT, nos levasse de vez para o caminho da Argentina e da Venezuela. Não parece ser o caso. Mais provável parece a tese de que o Brasil está ensaiando uma reação, e que o PT está cada vez mais acuado, na defensiva, tendo inclusive de convocar o “exército de Stédile” para destruir laboratórios na desesperada tentativa de erguer uma cortina de fumaça e desviar a atenção das pessoas do petrolão e da crise econômica.

O clima está muito ruim, a crise é muito séria e será longa. E ainda há riscos de a coisa degringolar de vez. Não quero aqui passar uma imagem diferente. Mas, talvez à guisa de celebrar essa sexta-feira, resolvi mostrar agora o copo meio cheio. Há luz no fim do túnel. É verdade que pode ser um trem chavista vindo em nossa direção. Mas também pode ser uma saída para o Brasil, que passa por derrotar o PT. Dia 15 de março vem aí, e veremos o quão forte é essa hipótese…

Rodrigo Constantino

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