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O feminismo e a culpa cristã

Confesso: tenho pouca paciência com feministas. Vejo-as como coletivistas que, no fundo, odeiam mais os homens do que qualquer coisa. Só para dar uma “palhinha” do que vem aí em “Esquerda Caviar”, meu próximo livro, segue um trecho sobre o tema:

Fruto muitas vezes da inveja das “mocreias”, o movimento [feminista] pretende lutar contra a liberdade individual, incluindo a das mulheres, e não pelas mulheres. A típica feminista não quer saber das mulheres que escolhem uma vida caseira ao lado do marido, como “donas do lar”. Não! Essas são vítimas do machismo da sociedade, de uma imposição do sistema, e precisam ser salvas.

A mulher que gosta de ser mãe e de cuidar dos filhos, que adora receber flores e ser bem tratada pelo marido, essa é uma “traidora” do movimento. As feministas desejam abolir as diferenças entre os sexos, ainda que biológicas, e entre elas também. Todas precisam abraçar o mesmo credo, de que mulher e homem são construções sociais, de que gostar da proteção de um macho é ser submissa e escrava.

Uma das grandes líderes do feminismo, Simone de Beauvoir, deixaria transparecer essa visão autoritária em uma entrevista de 1976 a Betty Friedan, em que afirmou que nenhuma mulher deveria ser autorizada a permanecer em casa e criar seus filhos, pois, se tivesse essa escolha, faria exatamente isso. Muitas feministas odeiam mais os homens do que amam as mulheres. Seria inveja do falo? Se for o caso, só tenho uma coisa a dizer: “Get over it”. Castrados estamos todos nós, como diriam os psicanalistas…

Pensei nisso ao ler entrevista com Hildete Pereira de Melo, economista da UFF, no GLOBO de hoje. Vejam:

Parou de crescer a entrada da mulher no mercado de trabalho?

Está num limite entre 41% e 42%. É um problema de conciliação da carreira com a maternidade. E não é diferente na Europa, mesmo com uma legislação diferenciada na França, na Inglaterra e na Alemanha. Chegaram a um impasse. É um teto de vidro. Discriminação salarial aparece mais para as mulheres que têm carreira. Na pobreza, o salário mínimo acaba igualando. Isso tem a ver com a sociabilidade que cerca ser mulher e o ser masculino. A sociabilidade pela maternidade é a marca. Está abalada, mas não foi destronada. Não conseguimos fugir. Para os homens é mais fácil. Adota o filho do outro e esquece o seu próprio filho. Ele chega a esquecer o aniversário do filho depois que se separa.

Percebam a bandeira marxista (“o salário mínimo acaba igualando”). Depois, essa parte: “A sociabilidade pela maternidade é a marca. Está abalada, mas não foi destronada”. Eis o que essa senhora deseja: “destronar” a “sociabilidade pela maternidade”. Tem mais:

As mulheres não querem viajar. Executivo moderno não tem família. É deslocado para qualquer lugar. Quando uma mulher é escolhida CEO de uma corporação estrangeira sai matéria no jornal. Vamos torcer para Janet (Janet Yellen, vice-presidente Fed, banco central americano) ganhar do Summers (Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano) para substitituir Ben Bernanke (atual comandante do Fed). O Fed é o filé mignon do capitalismo mundial. É o sonho da Conceição (a economista Maria da Conceição Tavares) ser presidente do Banco Central, não a presidente do Brasil. Meu feeling diz que ela não ganha, mas, se ganhar, vamos tomar uma taça de vinho para comemorar.

Notem que ela torce por Yellen, mas não faz uma única menção a suas qualidades! Deve vencer a disputa somente por ser mulher. Todo coletivista é assim: ignora méritos individuais, e só enxerga abstração coletiva. O racista vê raça em tudo, o marxista classe, a feminista gênero. E para o inferno com o indivíduo, composto por várias características distintas! Continua:

É a minha esperança, o fim da divisão sexual do trabalho, que não exista mais trabalho de mulher. O trabalho da mulher é ficar grávida e parir. E nem amamentar precisa, está aí a Nestlé. E com o DNA, paternidade não é mais um ato de fé. A regulamentação do trabalho das domésticas, além da justiça social, mostra como o trabalho da mulher é desvalorizado. Mas é muito difícil. Não basta criar lei, é preciso forçar dentro de casa os homens a trabalhar. Afinal, ele é o beneficiário dessa organização da sociedade. Dorme-se com o inimigo. Sair desse dilema não é simples. A mulher é submetida por amor.

O “trabalho” da mulher é ficar grávida e parir? Notem que coisa: ela diz isso como se fosse apenas um fardo. Depois, nem precisa amamentar, pois tem a Nestlé. Se puder, faz logo tudo na incubadora, como no Admirável Mundo Novo de Huxley. Mãe? O termo virou palavrão na distopia do escritor. Maternidade passa a ser a coisa mais abjeta do mundo. Parece o sonho desta senhora. E percebam o que eu disse lá em cima sendo confirmado: “Dorme-se com o inimigo”. Luta de classes marxista transportada para dentro de casa: homem e mulher, inimigos

A grande mudança é ter creche e escola funcionando em tempo integral. Já diminuiu a crença de que pôr a criança na creche muito cedo é abandono, a criança vai ficar mais doente. A psicologia reabilitou as creches, mostrando que melhoram o desenvolvimento cognitivo das crianças. Mas há uma culpa muito grande da mulher. É uma relação de amor, não precisa se encher dessa culpa cristã.

E ai de quem quiser ou puder se dedicar mais aos rebentos no começo de suas vidas! Há creches para isso, ora, e não venham com essa “culpa cristã”, coisa de “pequeno-burguês”, faltou ela dizer. Não sei quanto ao leitor, mas ainda prefiro a “culpa cristã”, que faz com que mães entendam que existem dilemas importantes na vida, que nem tudo se resume a “provar” para os “inimigos” do sexo oposto que são capazes de ganhar mais no mercado, e que fazem com que os cuidados com os próprios filhos estejam no topo da hierarquia de valores de uma família.

 

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