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O foco obsessivo na demanda agregada como indicador de crescimento

As fortes vendas no varejo divulgadas hoje animaram alguns economistas. Comentei sobre o assunto aqui, e agora vou acrescentar mais alguns pontos. Considero o tema de grande relevância, pois é muito comum ver várias pessoas celebrando mais consumo como se isso fosse o mais importante para puxar o crescimento da economia.

O foco obsessivo dos keynesianos em dados agregados acabou deturpando sua visão de mundo. Em vez de compreenderem que tais agregados servem, no máximo, como modelos simplificadores imperfeitos, esses economistas acabaram aceitando que a abstração era a realidade, gerando muita confusão teórica.

O exemplo mais claro desta inversão é o tratamento dado ao PIB (Produto Interno Bruto). A fórmula conhecida, Y = C + I + G + (X – M), produziu na cabeça dos mais desatentos uma crença absurda, qual seja, a de que o aumento dos gastos públicos é algo positivo para o crescimento econômico, e que o consumo é o principal drive da economia.

Como o governo não pode dar nada sem tirar do setor privado, pois suas fontes de recursos são os impostos, a inflação (que não passa de um imposto disfarçado) e o endividamento (que terá que ser pago eventualmente), claro que o aumento dos gastos públicos terá como contrapartida, inevitavelmente, a redução ou dos investimentos privados ou do consumo privado.

Mas o foco demasiado no curto prazo, fruto de uma visão míope, faz com que os keynesianos negligenciem esses impactos negativos ao longo do tempo. Se o governo quer estimular o crescimento econômico e, portanto, a criação de empregos, basta ele expandir seus gastos.

Em Os Pecados do Capital, Robert Murphy dá um exemplo politicamente incorreto de falha no cálculo do PIB. Ele cita o caso de um homem que se casa com sua governanta, e explica: “Antes do casamento, os serviços dela (lavar, aspirar e cozinhar) eram comprados no mercado aberto e, portanto, contribuíam para o PIB oficial. Mas, depois do casamento, a nova dona-de-casa realiza essas mesmas tarefas ‘de graça’, fazendo o PIB oficial diminuir em função de seu salário anual anterior”.

O economista Mark Skousen aponta outro exemplo dessas falhas: “Especialmente durante as festas natalinas, a mídia informa quase diariamente sobre as perspectivas das vendas a varejo, sugerindo que, se as vendas do Natal subirem, a economia está saudável e sólida. Por trás desses relatórios está a noção de que, se as festas natalinas durassem o ano inteiro, a economia poderia se expandir ainda mais”.

Entre vários problemas no cálculo do PIB, talvez o mais importante seja esse foco excessivo nos gastos, tanto dos consumidores como do governo. Isso passa a idéia de que são os gastos que geram a produção e, portanto, o crescimento econômico. O rabo é que balança o cachorro, e não o contrário!

Claro que isso tudo não passa de uma grande falácia econômica. Os keynesianos trocam a ordem dos fatores, alterando o produto final. Basta pensar em Robinson Crusoé e Sexta-Feira numa ilha. Seria absurdo supor que é a demanda de algum deles que produz o crescimento econômico. Robinson Crusoé pode demandar uma enorme casa, mas esta só será produzida se houver recursos disponíveis. E estes dependem da poupança e da produtividade.

Logo, é a poupança efetiva que permite o investimento produtivo, que por sua vez possibilita mais consumo depois. É preciso fazer o bolo para depois comê-lo. Keynesianos pensam que podem ter e comer o bolo ao mesmo tempo.

Se alguém questiona quais fatores permitem o aumento da “renda nacional”, a resposta deverá ser: a melhoria dos equipamentos, das ferramentas e máquinas empregadas na produção, por um lado, e o avanço na utilização dos equipamentos disponíveis para a melhor satisfação possível das demandas individuais, por outro lado.

O primeiro caso depende da poupança e da acumulação de capital, o segundo das habilidades tecnológicas e das atividades empresariais. Se o aumento da renda nacional em termos reais é chamado de progresso, devemos aceitar que este é fruto das conquistas dos poupadores, investidores e empreendedores, não dos gastos públicos e dos consumidores.

Portanto, em vez de celebrar um dado forte das vendas do varejo, que tal voltarmos nossa atenção para o preocupante quadro de insuficiência do lado da oferta da nossa indústria, vítima da reduzida poupança (principalmente por culpa dos elevados gastos públicos), baixa produtividade da mão-de-obra, péssima infraestrutura, altos impostos e asfixiante burocracia?

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