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O mais novo guru das esquerdas é apenas um marxista com nova embalagem
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Várias pessoas começaram a perguntar que se eu já tinha lido o livro Capital in the Twenty-First Century, do francês Thomas Piketty, a nova sensação das esquerdas. O livro e o autor atacam o modelo capitalista, disfarçando o ataque sob o manto da “reforma”, mas já começam aderindo às leis de mercado: o preço do livro na Amazon, versão eletrônica, é o dobro dos preços normais.

Li alguns textos e resenhas sobre o livro, mas confesso que ainda não mergulhei em suas 600 páginas. Talvez o faça, pois são ossos do ofício. Mas Eurípedes Alcântara, editor de Veja, poupou meu trabalho. A resenha que publicou na revista esta semana resume bem a ideia que eu já tinha feito da obra: o velho marxismo com roupagem nova. Como trata-se de alguém cujo julgamento confio, acredito que a leitura em si não irá me agregar muito mais.

Segue um trecho da resenha:

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A principal proposta concreta que os esquerdistas adoraram no livro foi justamente o imposto de 80% sobre os mais ricos. Há que ser muito ingênuo e leigo em economia, ou muito movido pela inveja, para acreditar que algo assim funciona para melhorar o mundo. É o tipo de ideia parida por alguém que deseja atacar mais os ricos do que ajudar os pobres.

O que os esquerdistas não engolem é o fato de que o capitalismo, em ambiente de livre concorrência, tende a criar riqueza (sim, ela precisa ser criada), o que beneficia a todos, inclusive os mais pobres. A falácia de quase todos os anticapitalistas é partir da premissa de que economia é um jogo de soma zero, com riqueza estática, e que, portanto, José só é rico porque Pedro é pobre. Nada mais falso!

Os igualitários, ao desejarem um resultado igual para todos, acabam defendendo modelos que não só matariam a galinha dos ovos de ouro, ou seja, a criação de riqueza geral, como levariam a um autoritarismo brutal. Somente uma ditadura imposta de cima para baixo poderia garantir algo perto de uma igualdade de resultados, e nem isso, pois a classe no poder sempre teria mais privilégios e recursos.

No mais, como diz Eurípedes, “A desigualdade não é invenção capitalista. Ela foi mais profunda e cruel nas eras que precederam o capitalismo”. É o capitalismo que cria a oportunidade para que uma pessoa pobre e humilde, um “self-made man”, como os americanos gostam de dizer, saia da pobreza e fique rico. A mobilidade social é menor em países menos capitalistas e mais estatistas.

Em resumo, o livro parece requentar uma velha ideia marxista, que sempre encontra adeptos pois os conquista pelas emoções, e não pela razão. “O espantoso é que esse tipo de argumentação ainda tenha poder de sedução”, escreve Eurípedes. Discordo. Não acho nada espantoso, pois sempre haverá inveja no mundo, paixão mesquinha, como dizia Mill, mas parte da natureza humana. E enquanto houver inveja, haverá alguém a embalando em forma de ideologia que, no fundo, serve apenas para atacar os mais ricos.

Piketty não se considera socialista nem comunista, mas um reformador do capitalismo. Balela. O capitalismo, ao contrário do socialismo, não foi parido por pensadores no conforto de seus escritórios. É um modelo sem paternidade, sem inventor ou fundador. Adam Smith se prestou a descobrir algumas coisas sobre seu funcionamento. Mas capitalismo é uma formação espontânea, de baixo para cima, o que incomoda muito economista arrogante, que adoraria controlar tudo e todos.

Um amigo meu filósofo, Mário Guerreiro, costuma brincar que por trás de toda ideia absurda há um francês. É daquelas piadas com um fundo de verdade. Um fundo grande. Basta pensar quantos ditadores comunistas foram estudar na França antes de regressar a seus países e destruí-los. O próprio iluminismo francês foi o pior deles, bem mais arrogante e racionalista do que o britânico, parindo uma revolução que acabou no Terror e em uma ditadura.

Thomas Pekitty, a sensação do momento, não fugirá a esta regra. Uma vez mais, pensadores franceses colaboram para disseminar equívocos ideológicos mundo afora. Uma lástima para um país charmoso que já teve pensadores como Tocqueville, Bastiat, Jean-François Revel, Guy Sorman, Alain Peyreffite, Raymond Aron, entre outros.

Rodrigo Constantino

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