O tema ainda é o Decreto 8.243. Nunca é demais falar nisso, até a coisa ser definitivamente enterrada pelo Congresso. Em sua coluna de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo afirma que o projeto do PT é justamente se livrar do povo, substitui-lo pelos militantes organizados, e deposita em Gilberto Carvalho o papel de articulador da estratégia:
O PT está se organizando para se livrar do eleitor, do Congresso e do capital, e Carvalho lidera a batalha. Na quarta, ele voltou a defender o decreto presidencial 8.243, que disciplina a participação dos “movimentos sociais” na administração federal. Os deputados tendem a derrubá-lo. Afirmou o ministro: “Se a Câmara e o Senado tiverem bela inteligência política, não se colocarão na contracorrente de uma exigência da sociedade. Há uma disposição de enfrentar essa guerra. Não retiraremos o decreto, vamos até o fim. Se houver derrota, quem pagará o preço são aqueles que se colocam contra essa participação”.
Quem, pretendendo negociar, fala em “guerra”, luta “até o fim” e “preço a pagar”? Isso revela a importância que assumiu esse instrumento na estratégia petista. Observem que Carvalho ameaça os parlamentares com a cólera do povo. Povo??? O chefão do PT fez essa declaração durante a assembleia de eleição de representantes da sociedade civil no Conselho Nacional da Juventude. Você sabia da existência dessa eleição? Quem, exceto a militância, estava atento a esse calendário? Onde estão os fóruns de debates?
[…]
Carvalho e o PT querem se livrar do povo e do Congresso, submetendo as decisões do governo federal, pouco importa quem esteja no poder, a milícias ideológicas, que são controladas, na maioria, pelo partido. O decreto da presidente Dilma –e boa parte dos colegas da imprensa insiste em ignorar seu conteúdo– chega a criar o embrião de uma Justiça paralela. É fato. Está lá. Basta ler o troço.
O autor lembra, ainda, que o PT, partido que mais recebe verbas das empreiteiras, quer também se livrar da dependência do capital, instituindo o financiamento público de campanha. Ter que negociar o “toma-lá-dá-cá” dá muito trabalho, impõe concessões, algo que um partido com viés totalitário não admite. O PT tentou comprar o Congresso com o mensalão justamente por isso, e agora pretende adotar um canal direto com o capital alheio, que seria obrigado a financiar suas campanhas.
O papel de Carvalho é tão relevante no projeto lulopetista de poder que o próprio ex-presidente Lula interveio para que a “fritura” interna, partindo provavelmente de Mercadante, cessasse. Gilberto Carvalho tem “costas quentes”, e não é tão fácil assim se livrar do ministro. É ele, também, que controla os “movimentos sociais”, aquilo que o PT toma como “povo”.
Azevedo conclui, alertando sobre o que está em jogo em outubro: “Só dois partidos disputam o poder no Brasil, ignoradas as diferenças de superfície, que são irrelevantes: o que se subordina à ordem democrática e o que quer subordiná-la à sua ordem. Escolha.”
Rodrigo Constantino
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