O esquerdista Obama é mesmo o mais populista dos presidentes americanos, ao menos desde Jimmy Carter. Curiosamente, a imprensa o trata como alguém “moderado”, e se os Republicanos sempre são mencionados ao lado da alcunha “conservadores”, para esses jornalistas um xingamento, Obama e seus camaradas Democratas nunca são colocados ao lado do termo “esquerdista”. Mas é isso que Obama é: um esquerdista, que só não conseguiu impor uma agenda mais radical e transformar os Estados Unidos num país latino-americano pois suas instituições são bem mais sólidas e resistem ao populismo.
A nova do presidente americano é defender o voto obrigatório. Para ele, quem costuma ficar de fora das eleições quando o voto é facultativo são os mais jovens, com renda mais baixa, e o grupo de imigrantes. Para Obama, há uma razão para que os “outros”, ou seja, os “conservadores”, os queiram longe das urnas. Não é preciso ser um gênio ou um Sherlock Holmes para concluir que, então, há também uma razão para que certas pessoas os queiram perto das urnas. Elementar, meu caro Watson!
E quais seriam essas razões? Por mais que os populistas tentem colocar seu oportunismo sob o manto nobre da preocupação com os mais pobres, o fato é que essas pessoas, normalmente mais alheias ao assunto político e mais ignorantes, tendem a votar mais na esquerda. O esquerdismo, afinal, adora a pobreza, pois precisa dela para sobreviver. Se os mais pobres, os imigrantes ilegais e os mais jovens sem instrução ou experiência votam mais na esquerda, claro que a esquerda vai adorar produzir mais pobreza, atrair mais imigrantes ilegais e estender o “direito” (talvez o dever) ao voto a gente cada vez mais nova.
Tenho um texto mais antigo em que questiono justamente se o voto deve ser um direito ou um dever, e já alerto para os interesses populistas da esquerda. Ironicamente, no Brasil muita gente liberal ou conservadora também defende o voto obrigatório, pois acha que sem ele a esquerda sairia ganhando. Pensem duas vezes, e vejam como Obama quer instaurar nos Estados Unidos aquilo que, infelizmente, temos aqui. Ele não é bobo.
Voto: Direito ou Dever?
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” (Arnold Toynbee)
Qual o sentido de se ter um sistema de voto obrigatório em uma democracia? Garantir ao cidadão seu direito de escolha dos representantes políticos é uma coisa; obrigá-lo a fazer isso é outra, completamente diferente. O voto, quando obrigatório, não é um direito, mas um dever. Em nome da suposta “cidadania”, transforma-se indivíduos em súditos. O que está por trás dessa imposição aos eleitores?
O que mais se aproxima a um argumento na defesa da obrigatoriedade do voto é a idéia de que os cidadãos deveriam se interessar pelas eleições. Afinal, é através delas que eles serão, supostamente, representados na via política. Mas não é porque algo deveria ser de um jeito que temos o direito de impor nossa vontade aos demais, que podem pensar diferente. As pessoas não deveriam, por exemplo, comer muita gordura. Mas somente alguém com mentalidade muito autoritária iria defender o uso do aparato coercitivo do Estado para obrigar uma certa dieta aos indivíduos. A liberdade de escolha pressupõe que os indivíduos possuem preferências particulares, e contanto que assumam a responsabilidade por seus atos, ninguém deve interferir nessas escolhas sob a forma de coação. Ora, se o sujeito deve ser livre para comer onde quiser, comprar o que desejar no mercado, por que deveria ser forçado a participar de uma eleição a qual não se interessa? Não existem bons argumentos, de fato, para sustentar tal modelo.
No fundo, o voto acaba sendo obrigatório pois assim mais pessoas desinteressadas irão votar, e suas escolhas são mais manipuláveis. De forma mais objetiva: fica mais fácil comprar o voto daqueles que, sendo livres, não iriam sequer votar. Normalmente são pessoas com nível de escolaridade inferior, que trocam seus votos por migalhas ou promessas utópicas. A quem interessa manter o voto compulsório? Com certeza, não aos indivíduos que preferem não ter que votar. Os políticos que praticam o jogo sujo da compra de votos e do populismo é que se beneficiam de tal imposição.
A mesma linha de raciocínio vale para a idade mínima exigida dos eleitores. Quando os políticos consideram que adolescentes de 16 anos estão prontos para o direito de votar, sabem que, via de regra, esses jovens são mais fáceis de se manipular com a emoção, dispensando a apresentação de propostas mais elaboradas, calcadas na razão. O romantismo juvenil acaba sendo uma boa arma para populistas de plantão. Assim, um mesmo político que considera que um rapaz de 17 anos que cometeu um assassinato ainda não é homem o suficiente para pagar pelo crime, acaba defendendo seu direito de participar da escolha dos governantes do país. Dois pesos, duas medidas.
Fiz um levantamento do modelo de votação nos principais países do mundo, e a maciça maioria possui voto facultativo. Apenas Austrália, Bélgica e Cingapura, entre 20 nações observadas, adotam o modelo compulsório. O restante reconhece que o voto é um direito, não um dever. Em todos eles a idade mínima é 18 anos, quando não mais, como no caso japonês, onde votam somente os maiores de 20 anos. Os países analisados que respeitam o direito de votar ou não dos seus cidadãos são: Áustria, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos. Creio que temos mais a aprender com o modelo desses países do que ensinar.
Infelizmente, tal tema é pouco debatido no país. Está na hora de colocar na pauta de reformas esta questão. Somos cidadãos livres, não súditos. Vota quem quer. A escolha dos governantes deve ser um direito, não um dever.
Rodrigo Constantino
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