O presidente Obama vai nomear Janet Yellen para assumir o lugar de Ben Bernanke no controle do Federal Reserve, o banco central americano. Não chega a ser uma surpresa, pois Yellen era a mais cotada para assumir mesmo. O que essa mudança pode significar para o Brasil?
Yellen, que já está há anos no Fed, tem sido uma das maiores defensoras dos estímulos monetários e do foco maior no emprego em vez de na inflação (como se, de fato, houvesse tal dicotomia a longo prazo). Se Bernanke era visto como dovish pelo mercado financeiro, Yellen é ainda mais.
Para entender como isso pode influenciar a economia brasileira, vale voltar um pouco no tempo e compreender a postura do Fed após a crise de 2008. Após o crash, o Fed inundou o mundo com dólares, no afã de evitar uma recessão que poderia se transformar em depressão. Mas dinheiro não tem carimbo. O governo não controla seu destino final.
Ao tentar inflar o “piscinão” do mercado americano, essa liquidez abundante acaba transbordando para outros mercados, para outras piscininhas mundo afora. Esses mercados são tão menores que basta um punhado desses dólares para fazer a festa.
Ou seja, a ação do Fed para estimular o enorme PIB americano pode produzir bolhas na América Latina. Uma borboleta que bate as asas num continente pode produzir um furacão em outro. Imagina um elefante enorme balançando suas gigantescas orelhas!
Outra metáfora: o Fed é o dono do ponche na festa, e anunciou que iria servir rodadas de bebida grátis ilimitadas. Quando o relógio marca duas da madrugada, e os presentes estão se fartando de liquidez etílica desde às oito horas, parece natural que comecem a relaxar o critério de julgamento na escolha dos ativos disponíveis. Tudo fica mais belo.
É por isso que o Haiti conseguiu emitir títulos de dívida do governo com prazo de dez anos pagando cerca de 7% ao ano em dólares (quem seria louco para comprá-los em condições normais?). É por isso também que empresários que possuem uma bonita apresentação de Powerpoint e um X no nome da empresa conseguiram levantar dezenas de bilhões no mercado (com uma incrível ajuda do BNDES, é verdade).
Com a farta liquidez induzida pelo Fed e acompanhada pelo BCE (Banco Central Europeu) e BOJ (Banco Central do Japão), o preço das commodities tende a subir. Isso ajuda a explicar o poder todo que um lunático bufão como Hugo Chávez acumulou, com seus petrodólares jorrando pelos poços da incompetente PDVSA. A revolução bolivariana pode não saber, mas tinha em Bernanke um grande aliado!
São as tais consequências não-intencionais dos governos e bancos centrais. A nomeação de Yellen, portanto, é a garantia de que tais políticas monetárias expansionistas devem continuar por mais tempo. Justamente agora, que os mercados começam a antecipar a retirada dos estímulos, uma vez que a economia americana mostra sinais de recuperação.
Ao que tudo indica, Yellen será mais cautelosa na hora de reverter esse afrouxamento monetário. Isso significa mais liquidez nos mercados por mais tempo, dólar com tendência de enfraquecimento, e sobrevida para economias que não fizeram o dever de casa e dependem da absorção da poupança externa – o caso brasileiro.
A presidente Dilma deveria soltar fogos de artifício e fazer as pazes com Obama. É uma das maiores beneficiadas com essa decisão, ainda que tenha criticado o “tsunami monetário” no passado, na época das vacas gordas. Se há uma bolha na economia brasileira, principalmente no crédito público, então ela ganhou mais algum tempo antes de estourar.