Vladimir Safatle, uma espécie de Vladimir Lênin tupiniquim, parece já estar em campanha eleitoral pelo seu querido PSOL, aquele partido que ainda prega o socialismo em pleno século 21, inspirando-se em regimes incríveis como o cubano e o venezuelano. Em sua coluna de hoje, o “intelectual” apela para o sensacionalismo de forma tão escancarada que faria um poste ruborizar de constrangimento.
Safatle aplaude a simbologia dos aplausos aos garis em greve no Rio. Para ele, os garis representam aqueles seres invisíveis que ninguém quer ver: “Recolher lixo, colocar a mão naquilo que os outros desprezaram e jogaram fora parece transformar tais pessoas na representação natural do fracasso humano, gente que alguns prefeririam não ver, pessoas invisíveis”.
Acredito que tal preconceito expressa mais a visão do autor do que do público que ele pretende atacar. O que as pessoas não querem ver não são os garis, e sim o lixo. O gari tem a função de retirar o lixo, um trabalho honesto, voluntário, e remunerado. Sem dúvida não é dos mais estimulantes, como tantos outros. Mas ninguém precisa considerar os garis seres invisíveis por isso. Ou será que Safatle não cumprimenta sua faxineira e projeta tal insensibilidade aos demais?
O que gerou a revolta de muitos foi o acúmulo de lixo na cidade, assim como o uso partidário da greve, com infiltração dos partidos radicais de esquerda (um deles justamente o de Safatle) e o uso da coerção para impedir outros garis de trabalhar (o que é crime). Mas Safatle apela para a ironia, dando a entender que relatar os fatos é coisa de paranoico:
Garis em greve só podem ser amotinados que esquecem qual é o seu lugar na escala de valor humano. Ou então, o que não deveria nos surpreender, agentes de Cuba, da Coreia do Norte, capachos de Hugo Chávez e comandados do último vilão do 007 estariam infiltrados na Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) pervertendo a boa índole do nosso povo.
Para Safatle, os aplausos à greve deram “dignidade” ao país. Em sua opinião, isso quer dizer que as pessoas deixaram seus interesses particulares de lado (ter o lixo recolhido) e demonstraram “solidariedade”. Pergunto: qual a proposta de Safatle? O que ele sugere de fato? Qual medida ele está realmente defendendo?
Se o salário dos garis aumentar 20%, então tudo estará muito bem e o socialista ficará satisfeito? Qual deve ser o salário justo para esses “seres invisíveis”? Por que não colocar logo o mesmo salário dos políticos? Se é para ser demagogo sem se importar com a realidade econômica, por que não arregaçar de uma vez? Ou será que há limites e que a coisa não é tão simples assim?
“Mas Rodrigo, você está dizendo então que é justo o gari ganhar apenas mil reais para enfiar a mão no lixo?” Estou apenas constatando o óbvio: os salários costumam seguir a lei de oferta e demanda, e da produtividade. Não é possível brincar impunemente com isso, como se maiores salários dependessem apenas da boa vontade política. Quem seguiu este caminho populista colheu apenas mais miséria.
Na Holanda, no Canadá, na França e nos Estados Unidos existem lixeiros também. Ganham mais do que os nossos, claro, como todas as outras ocupações. São países mais ricos, mais liberais, com economias mais capitalistas, e menos intervenção estatal. Mas para seus respectivos padrões, os lixeiros também são pobres, ganham mal.
No Canadá, por exemplo, um coletor de lixo ganha cerca de $ 25 mil por ano, o que parece fantástico para nós. Mas a renda per capita lá é de $ 40 mil, ou seja, o lixeiro ganha quase 40% a menos do que a média. Ajustando para a realidade brasileira, isso seria o mesmo que um salário mensal de R$ 1.250 para os garis, não muito diferente do que ganham hoje.
O motivo dos baixos salários é evidente: eles exercem uma função que, apesar de fundamental, não demanda muitas habilidades e qualificações. Por isso costumam ser pouco remuneradas. Se um gari ganhasse o mesmo que um engenheiro, não haveria muito incentivo para estudar tanto e se graduar em engenharia.
Não pega muito bem falar essas verdades, mas elas precisam ser ditas, ainda mais quando “intelectuais” irresponsáveis incitam greves que emporcalham a cidade toda em nome de suas bandeiras partidárias. Eu, ao contrário de Safatle, não acho que os garis são pessoas invisíveis. Aliás, a prova disso é que um deles virou até celebridade no Carnaval carioca, conquistando a simpatia da multidão.
Já alguns “intelectuais” que defendem o socialismo em pleno século 21, esses bem que podiam ser invisíveis. Ou de preferência abandonar seus empregos de “deformadores de opinião” e, quem sabe, virar garis para ajudar a limpar o lixo, em vez de produzi-lo em quantidade tão assustadora. Isso, sim, seria muito mais digno do que pregar o socialismo por aí…
Rodrigo Constantino