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Pondé e a defesa de uma direita festiva

John Lennon & Che Guevara em fotomontagem: John Lennon & Che Guevara em fotomontagem: “Imagine all the people living as one”…

Em sua coluna de hoje, Luiz Felipe Pondé, com deliciosos toques de ironia, mas falando muito sério, sustenta a tese de que a direita ou os liberais precisam de uma roupagem mais “festiva”, ou seja, mais descolada que acalente os corações femininos. Sua explicação não poderia ser mais prosaica: os jovens querem “pegar” as meninas, e essas não costumam se interessar pela chatice do discurso frio e técnico econômico.

Em meu livro Esquerda Caviar, cheguei a incluir, entre as 20 potenciais origens do fenômeno, essa causa mais banal:

Para muitos estudantes, o discurso sensacionalista e revolucionário de esquerda pode ser também uma estratégia para conquistar corações, para “pegar” as meninas mostrando seu lado mais “humano”, contra os “mauricinhos” egoístas que só pensam em trabalhar. Nada como uma camiseta do Che e um bagulho no bolso, com a fala meio arrastada, para derreter o coração de uma patricinha entediada. Arnaldo Jabor, que tem feito um mea culpa de sua juventude comunista em suas colunas, confessou:

Pouquíssimas moças “davam”, na época anterior à pílula; transar para elas era um ato de coragem política. Nossas cantadas tinham uma base ideológica; famintos de amor, usávamos Marx para convencer as meninas.

Woodstock, Fórum Social Mundial, palcos para “revolucionários” destilarem suas soluções mágicas contra os males do mundo, atacarem todo o “sistema”, posarem de altruístas voltados somente para as vítimas desse sistema perverso, e tudo isso entre um tapa e outro na “pantera”, após fazer sexo com alguma mulher fácil e “progressista” da turma.

A esquerda sempre levou muita vantagem nesse quesito: discurso fácil, sensacionalista, que fala ao coração e não à razão, derretendo as meninas, que ainda por cima querem provar que são rebeles e “livres”, em vez de vítimas oprimidas do sexo frágil.

Como provar isso? Ora, claro que praticando o “sexo livre”, sendo fácil, pois a moça recatada e difícil é apenas alienada e dominada pela cultura machista e opressora. A esquerda é genial quando se trata de estratégia juvenil masculina para se obter sexo. E não é sexo que todos querem, ainda mais nessa idade? Pondé escreve:

A esquerda festiva (que é quase toda ela) reproduziu porque teve muitas mulheres à mão. Imagine papos como: “Meu amor, se liberte da opressão sobre o corpo da mulher!”. Agora, imagine que você esteja num diretório de ciências sociais no final da noite ou num apê sem pai nem mãe (dela) por perto. Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede.

Ou imagine você dizendo para uma menina bonitinha algo assim: “O capital mata crianças de fome na África!”. Mesmo sendo ela uma jovem endurecida pela batalha contra a opressão da mulher (por isso tenta desesperadamente ser feia), seu coração jorrará ternura.

Imagine a energia de uma manifestação! Braços dados ou não, mas caminhando e cantando. Imagine a fuga, correndo juntos da polícia. Os corações batendo juntos!

Falar da fome africana e culpar o capital, citar Marx e Foucault, colocar-se sempre do lado dos “oprimidos”, das “minorias” contra os ricos, ainda que buscando a “mina” num carrão importado, chegar com uma camisa do Che, tudo isso costuma ser “tiro e queda”: é conquista certa. O que os liberais têm a oferecer em contrapartida? A tese de que o livre mercado, na prática, ajuda muito mais os pobres? Defender a importância do lucro? Explicar que a inflação é a política de governo para obter um imposto disfarçado que prejudica justamente os mais pobres?

Sinto muito: não chega nem perto do calor de um discurso esquerdista. Como costumo “brincar” em muitas palestras, nós liberais precisamos admitir que nosso departamento de marketing fracassou. Talvez por ter a razão, acreditamos que nada mais era preciso. Ledo engano. Em democracias, o resultado depende do voto dos eleitores, e esse depende muito mais das emoções do que da sustentação racional dos argumentos. Pondé deixa suas dicas:

O canal para uma direita festiva é: fale de liberdade, do sofrimento humano, de corpo, discuta documentários, diga que a vida não tem sentido, mas que a beleza existe, não se vista como o Sheldon, viaje para a Islândia, e (pelo amor de Deus!) não fale de economia. As meninas destetam economia, essa “ciência triste”, porque atrapalha a alegria da vida.

Ou rezem para o Brasil virar a Venezuela e aí os meninos liberais vão pegar todas.

Torcer para o Brasil virar a Venezuela seria um preço muito alto a se pagar para “pegar as meninas”. Melhor adaptar um pouco o discurso, dar um peso maior ao lado emotivo, e aprender a transformar a mensagem liberal em uma luta menos “insensível” e técnica. A esquerda deve perder seu “monopólio da virtude”, pois é isso que está em jogo, e é essa sua principal arma no “debate” político.

Que os liberais aprendam a ser mais “festivos” e a apelar um pouco mais às emoções também, pois no final do dia isso faz diferença. Pondé alega que acordou numa “vibe” darwinista. Mas seus conselhos não deixam de fazer sentido só porque parecem machistas e politicamente incorretos. A verdade pode ser um tanto machista às vezes, ainda mais quando pensamos na teoria da evolução e na importância que o sexo tem nela…

Rodrigo Constantino

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