O economista Raul Velloso fez um bom resumo do triste filme que nos trouxe até aqui, nessa situação de baixo crescimento, inflação resiliente e parcos investimentos. Após forte estímulo ao consumo, o governo não foi capaz de criar as condições para atrair investimentos produtivos. Por trás disso, jaz esse populismo presente em cada medida do governo:
Temo, assim, que boa parte da explicação do pífio desempenho da economia de 2009 para cá esteja na excessiva interferência do governo, algo que se acentuou após a crise, e que poderia perfeitamente ser evitado. Crise que, aliás, foi usada como bode expiatório para justificar o forte incremento nos gastos da União e dos empréstimos do BNDES financiados com a emissão de títulos públicos. Passado o pior, o governo resiste em retirar os instrumentos de exceção.
Nesse contexto, uma ampla lista de ingerências governamentais, com nítido cunho populista, contribuiu para a redução das intenções de investimento. Tal comportamento pautou não apenas parte das empresas localizadas no País, como investidores em potencial, internos ou externos. Um deles foi o congelamento dos preços dos derivados de petróleo, que levou à forte expansão de seu uso, aumento das importações e queda no consumo de etanol, prejudicando a Petrobras e o setor alcooleiro.
Outro foi a redução das tarifas de energia elétrica na confusa operação em que as empresas em final de prazo de concessão foram estimuladas a aderir ao plano do governo, em troca de mais uma renovação. Outro item, ainda na área de controle de preços, foi o adiamento do reajuste das passagens de ônibus urbanos que o governo pediu às principais prefeituras no início do ano, tudo isso implicando a necessidade de uma inflação corretiva entre 2 e 3% ao ano, que, como na Argentina, não aparece nas estatísticas oficiais e aguarda diluição.
Além do excessivo intervencionismo arbitrário, o governo abandonou o tripé da era FHC, de câmbio flutuante, meta de inflação e superávit fiscal. Se o tripé ainda não foi completamente abandonado, ele está em vias de, e os investidores acusam o golpe com antecedência. Mesmo assim, o governo precisa do setor privado para realizar os investimentos, principalmente em infraestrutura. E o que ele faz? Intervém abusivamente uma vez mais:
Não se pode esquecer a novela das concessões privadas de infraestrutura. O governo sabe que não tem recursos para investir em transportes, se empenhou no lançamento de um parrudo programa de concessões, mas insiste em impor retornos inaceitáveis e outras práticas afugentadoras dos candidatos sérios. Assim não dá.
Em suma, o roteiro é conhecido. Resta saber se esse governo está disposto a reverter o quadro. Considero isso pouco provável. Os mercados financeiros podem ter se animado nos últimos dias, em boa parte pelo efeito China surpreendendo positivamente com dados econômicos, e alguma tranquilidade maior interna. Mas eu não me iludiria, pois é cedo demais para celebrar: os pilares de nossa economia são muito frágeis, graças a esse “populismo improdutivo” resumido por Raul Velloso.
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