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As pesquisas separadas por renda, escolaridade ou região apontam um fato um tanto óbvio: Dilma possui votos desproporcionais quando se trata de eleitores mais pobres, sem estudo e nordestinos. Presume-se que é mais fácil enganar essas pessoas, ou então comprar seus votos com ninharias, esmolas estatais, promessas irreais. Os populistas que possuem a máquina estatal para usar e abusar se beneficiam dessa triste realidade.

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À medida que subimos na escolaridade e na renda, ou saímos do Nordeste mais pobre para o Sudeste mais rico, encontramos pessoas mais esclarecidas, atentas ao que se passa na política e na economia. Não por acaso o PT vai perdendo votos nesse caminho, e chega a ser derrotado em alguns casos (Dilma tem 49% das intenções de voto de quem ganha até dois salários e apenas 22% de quem ganha mais de dez, enquanto Aécio sai de 14% para 39% nessa faixa).

Isso cria uma distorção nas campanhas eleitorais. Os populistas, que chafurdam na miséria e na ignorância, precisam adotar dois discursos: um para ludibriar os incautos, outro para acalmar as “elites”. É o tema da coluna de Carlos Alberto Sardenberg no GLOBO hoje, em que diz:

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Pessoal que trabalha com Dilma tem dito que muitas afirmações feitas pela presidente, como a que os banqueiros querem dominar o Banco Central para tirar a comida do povo, são “coisa de campanha”. Reparem: o pessoal faz essa ressalva para os eleitores mais informados, líderes de setores, formadores de opinião ou, para usar a linguagem de Lula, a elite rica.

Supondo que vale a ressalva, fica assim, portanto: a campanha tem umas mentirinhas para pegar o voto daquela turma que, vocês sabem, não é muito esperta; mas no governo será diferente, mais razoável e menos emocional.

Se for isso, a conclusão é inevitável: campanha é uma licença para mentir; e não se trata “apenas de propaganda”, mas de propaganda enganosa.

[…]

Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica, e, sobretudo, não constitui um compromisso de governo. Eis uma ideia generalizada por aqui.

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Quem perde, naturalmente, é a democracia, que fica exposta a um show de propaganda enganosa, de terrorismo eleitoral que serve apenas para um estelionato eleitoral em seguida. A campanha de Dilma apela para esse “vale tudo”, mostrando os banqueiros que financiam o próprio PT como ladrões de comida dos pobres, “ricos” (classe média) que viajam de avião revoltados com os pobres nos aeroportos, a imprensa contra o povo, etc. É pura demagogia.

Segundo a coluna Radar de Lauro Jardim, Aloizio Mercadante seria um desses petistas do alto escalão que teria a missão de confortar as elites esclarecidas, levando a mensagem de que o tom das campanhas é apenas empulhação para conquistar os votos dos inocentes. Se for verdade, mostra como o PT joga sujo, é sórdido, representa o que há de pior na política nacional.

Mas como saber? Pode ser que a mentira esteja com Mercadante mesmo. Pode ser que o PT esteja, no fundo, enganando as elites com seu discurso extra-oficial de que será mais moderado na prática, e que Dilma até ensaia mudar o curso e reconhecer alguns erros.

Sardenberg questiona o que seria um “falso bolivarianismo”, mas como descartar a hipótese de que o PT representa, de fato, o próprio bolivarianismo, que ele tanto elogia nos vizinhos camaradas? Que o PT está mentindo muito e enganando milhões é um fato. Só não se sabe ainda se está mentindo para as massas ou para as elites. De qualquer forma, estamos diante de uma propaganda enganosa e de um estelionato eleitoral certo, de um lado ou do outro.

Rodrigo Constantino

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