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Amanhã faz 40 anos do golpe militar liderado por Augusto Pinochet que tirou Salvador Allende do governo chileno. Só pretendia falar do assunto na própria data, mas um artigo de Vladimir Safatle antecipou meus planos. É tanta inverdade que preciso rebater logo os mitos e a vitimização da esquerda.

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Para amanhã, guardei um texto sobre a juventude nazista do ícone da esquerda latino-americana. Hoje, falaremos de seu governo e dos motivos que o levaram a ser deposto. Antes, as mentiras de Safatle:

País historicamente avesso a intervenções militares, o Chile era, até 11 de setembro de 1973, um dos mais inovadores laboratórios de transformação social do Ocidente.

Salvador Allende liderou um governo que procurava, ao mesmo tempo, superar índices vergonhosos de desigualdade econômica, enquanto aprofundava mecanismos de democracia direta e de respeito às estruturas da democracia parlamentar. Seu caminho era uma via inovadora entre as sociedades burocráticas do Leste Europeu e as dos países capitalistas.

Na verdade, tal caminho encarnava o medo mais profundo de países como os EUA em plena Guerra Fria. Tratava-se do medo de uma experiência capaz de aproximar práticas socialistas de redistribuição de riquezas com uma democracia pluripartidária.

Os fatos: Allende liderava uma tentativa de golpe socialista dentro da democracia, tal como Hugo Chávez conseguiu fazer décadas depois, na Venezuela. Seu governo era uma afronta constante aos preceitos constitucionais do país, e uma aberração econômica.

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Allende não foi eleito presidente do Chile por uma maioria absoluta. Ele recebeu apenas 36,2% dos votos, contra 34,9% do candidato conservador, e 27,8% do candidato democrata-cristão. Em outras palavras, mais de 60% dos eleitores não queriam Allende no poder.

Mas no Chile não havia um segundo turno para situações como esta. Cabia ao Congresso completar a eleição. Uma aliança entre os dois outros partidos poderia, dentro da Constituição chilena, colocar outro candidato em vez de Allende na presidência. Não havendo consenso entre eles, Allende acabou sendo indicado, mas não sem antes um compromisso de que ele não iria desrespeitar a Constituição do país (tal receio já existia na época das eleições).

Uma vez no cargo, Allende iria ignorar tal compromisso, e governar com a meta de destruir a própria democracia, promovendo uma ruptura social e institucional no país. Logo no começo este objetivo ficou evidente. A tradição chilena era que o presidente eleito estendesse a mão aos que não haviam votado nele, assumindo a postura de presidente de todos os chilenos.

Allende preferiu romper esta tradição, anunciando que suas ações partiriam da premissa de que existiam, no Chile, conflitos de classe irreconciliáveis. Quais classes seriam privilegiadas estava evidente nas bases do governo: movimentos revolucionários de esquerda, grupos que se preparavam para uma guerra civil inspirada nas táticas de Che Guevara.

O ex-presidente Eduardo Frei afirmou que os allendistas “aplicaram deslealmente as leis ou as atropelaram abertamente”, desrespeitando inclusive os Tribunais de Justiça. O governo interferiu nas eleições sindicais, favorecendo grupos aliados ou criando grupos paralelos quando seus aliados perdiam as eleições.

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Eles chegaram a propor a substituição do Congresso por uma “Assembléia Popular” e a criação de “Tribunais Populares”, algo semelhante aos “tribunais do povo” dos jacobinos na era do Terror. Uma Guarda Pessoal foi criada em 1971, altamente armada. O sistema de educação seria convertido num processo de doutrinação marxista.

A Corte Suprema da Justiça, por unanimidade, censurou o Poder Executivo por desrespeitar sistematicamente as decisões dos Tribunais. No segundo semestre de 1973, já não havia dúvidas de que uma ditadura totalitária estava sendo instaurada no Chile. Milhares de representantes da extrema esquerda foram para o Chile, e a embaixada cubana virou um verdadeiro ministério paralelo.

Escolas de guerrilha foram criadas, treinando paramilitares sob a proteção do governo. Houve uma acelerada importação clandestina de armas pesadas. A infraestrutura para um exército paralelo estava instaurada. A democracia estava com seus dias contados.

No campo econômico, a crise, gerada pelo próprio governo, foi vista como oportunidade para mais intervenção ainda. Allende congelou os preços, manipulou artificialmente o valor da moeda, elevou consideravelmente os gastos públicos, e comprou por meio do estado inúmeras empresas privadas. Outras tantas foram perseguidas pelo governo. Fazendas foram tomadas. A mineração de cobre, principal indústria chilena, foi expropriada e colocada sob gestão estatal.

Após um ano de governo, Allende teve que pedir uma moratória para a dívida externa do governo. Entre junho e dezembro de 1972, o índice de preços de consumo foi multiplicado por quatro, e ainda dobraria outra vez depois. A produção agropecuária chegou a cair 25%. O caos era total, resultado das medidas do governo Allende, que explorava este caos politicamente.

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Os socialistas chilenos não conseguiam conviver com os limites do poder do estado, com a liberdade de expressão, com a alternância de poder. O diplomata venezuelano Carlos Rangel, em Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, escreveu que a experiência chilena provou, uma vez mais, algo mais do que sabido: “a incompatibilidade do marxismo-leninismo com a democracia”.

Os socialistas acabam usando as brechas democráticas para instalar uma ditadura totalitária. Criam, assim, um ambiente de guerra, onde, de uma forma ou de outra, o resultado será uma ditadura. Allende, neste sentido, foi o pai político de Pinochet. Sem aquele não teria existido este. O clamor de boa parte do povo chileno era pelo resgate da ordem e da lei.

Nada disso pretende justificar os anos que se seguiram, do regime de Pinochet. Ditaduras não merecem aplausos. Mas é fundamental compreender o contexto do “golpe”, que contou com o apoio de muitos defensores da Constituição, usurpada pelos golpistas liderados por Allende.

Não podemos tampouco ignorar o sucesso no lado econômico, negado por Safatle por malabarismo estatístico. Os primeiros anos foram de ajustes, mas as reformas liberais, orquestradas pelos economistas da Universidade de Chicago (casa de Milton Friedman), colocaram o país novamente nos eixos, após a catástrofe gerada por Allende.

O Chile despontou, com importantes privatizações, incluindo a da previdência. Virou o país com economia mais estável na região, e com o melhor nível de IDH. Os esquerdistas gostam de relativizar a ditadura cubana, ainda existente, com base nas “conquistas sociais” do regime, que não passam de mito. Ora, se é para ser pragmático, deveriam elogiar Pinochet, pois os resultados chilenos, sim, foram concretos e podem ser sentidos até hoje.

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Na ditadura chilena, foram mortos cerca de 3 mil pessoas, sendo que quase a metade logo no começo, numa guerra civil com comunistas. Não eram inocentes, na maioria dos casos, mas guerrilheiros tentando transformar o Chile em Cuba. Já na ditadura cubana, que ainda sobrevive depois de meio século, foram assassinados, por baixo, uns 20 mil inocentes. Isso para não falar dos que morreram tentando fugir da Ilha-presídio, algo inexistente no Chile, pois qualquer um poderia deixar o país livremente.

Mas nada disso importa. São apenas fatos, e a esquerda não liga para eles. Prefere enaltecer um golpista fracassado como Allende, posando de vítima inocente dos imperialistas americanos e de suas marionetes militares na América Latina. A mentira ainda vende bem por aqui. Não é mesmo, Safatle?