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O senador tucano, Aécio Neves, provável candidato à presidência, declarou que não importa se for Lula o seu concorrente em vez de Dilma, pois sua luta é contra o modelo atual de governo, que pertence a ambos, que é do PT. Aécio está certo, e fez bem em rechaçar a ameaça do “volta Lula”, o fantasma que o PT usa na esperança de intimidar a oposição.

Reinaldo Azevedo já teceu ótimos comentários sobre o tema, e disse o que precisava ser dito. Em resumo: “O pré-candidato tucano faz muito bem em tocar no assunto, pondo às claras essa história de que Lula chega e toma a Presidência como e quando quiser. Se acontecer, terá de ser com o voto do eleitorado. Ele disputar ou não é um problema dos petistas e de Dilma, não das oposições. Esse negócio do ‘olhem que nós chamamos o Lula’ é só mais uma tentativa de intimidar a oposição”.

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Em sua coluna de hoje, Merval Pereira também falou do assunto, e lembrou de alguns pontos importantes:

Lula sem dúvida é um grande cabo eleitoral, mas mesmo no auge da popularidade, e com a economia crescendo a 7,5% em 2010, teve dificuldades de emplacar Dilma como a grande gerente, mãe do PAC. Sua vitória sobre Serra deu-se por 56% a 44% no 2º turno, aumentando a média dos candidatos tucanos, demonstrando que há um grupo de mais de 40% do eleitorado disposto a votar na oposição, seja qual for o candidato.

Hoje, com o país tendo o menor crescimento dos últimos 20 anos e, sobretudo, conhecendo Dilma como os brasileiros já a conhecem, a tarefa parece mais difícil. Caso se torne praticamente impossível, a arma (nada) secreta petista deverá ser acionada. Mas o próprio Lula deve levar uma questão em conta ao analisar a possível candidatura: uma imprevisível derrota acabaria com o mito. Um governo mal-sucedido diante das dificuldades econômicas previstas também.

Concordo. Sou da tese de que Lula não é isso tudo que o PT acha que é, em termos eleitorais. O “gênio” da política, super carismático, perdeu 3 eleições seguidas, inclusive no primeiro turno para FHC. Após a fatiga deste, e de uma reforma completa no personagem, feita pelo marqueteiro Duda Mendonça, incluindo o terno Armani e a “Carta ao Povo Brasileiro”, o ex-metalúrgico foi finalmente eleito, no segundo turno.

O que veio em seguida foi, além de algum bom senso em não estragar de cara o legado positivo (tripé macroeconômico) da era FHC, chama-se loteria chinesa. Cheguei a escrever um artigo para o GLOBO comparando Lula a Eike Batista, argumentando que o sucesso de um na política foi análogo ao do outro na economia: ambos seriam filhotes do mesmo fenômeno, fora de seu controle e de seus supostos méritos.

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É verdade que, graças a esta loteria, Lula foi capaz de construir um importante capital eleitoral, especialmente no nordeste, onde, em alguns lugares, virou uma espécie de Padre Cícero da atualidade. Nosso “padim Ciço” moderno teve fartura de dinheiro público para distribuir em forma de esmolas, e uma imagem dessas demora a desaparecer da mente das pessoas.

Mas desaparece. As conquistas passadas são incorporadas no cotidiano e as novas agruras tomam conta das preocupações das pessoas. A inflação galopante dói no bolso a cada ida ao mercado, o caos nos transportes desespera, a insegurança não deixa dormir direito, etc. É o presente que importa. E este não está dos melhores. Culpa do governo. Culpa do PT.

Lula foi capaz de eleger um “poste”, mas porque o momento era bem diferente. Não se deveu tanto a suas incríveis habilidades políticas como ao clima de euforia que o país vivia em 2010, crescendo (de forma insustentável, como ficou claro) 7,5% naquele ano. O cenário é bem diferente hoje.

Além disso, como Lula iria justificar seu retorno? A criatura fracassou? Mas não foi ele quem criou tal criatura? Não foi Lula quem disse que votar na Dilma era a mesma coisa que votar nele? Foram essas suas exatas palavras. Dilma é Lula, e Lula é Dilma:

“Nossos adversários vão ficar nervosos, vão baixar o nível na televisão, eles vão tentar inventar o que sempre inventaram”, afirmou. Ele reforçou sua ligação com a candidata do PT, Dilma Rousseff, ao dizer que os adversários diziam que ela não estava preparada e não tinha experiência política. “Mas não sabiam que o sucesso do Lula depende muito da Dilma e o sucesso da Dilma depende muito do Lula”, disse. “Votar nela é a mesma coisa que estar votando em mim,” disse o presidente.

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Nem mesmo um povo ignorante e alienado cairá facilmente na estratégia de, agora, dissociar totalmente um do outro. A oposição, espera-se, saberia explorar bem o fato. Dilma inclusive despachava frequentemente com Lula, consultava seu criador político nos momentos delicados, pois todos sabiam quem dava as cartas de verdade.

Por isso, ninguém deve temer o fantasma de Lula, a cartada que o PT adora tirar da cartola para pressionar a oposição. Quem está em xeque e será julgado pelo eleitor em outubro é o nacional-desenvolvimentismo, o intervencionismo excessivo, a arrogância, a incompetência, o aparelhamento estatal, a aliança com ditaduras e regimes nefastos, a destruição da Petrobras e outras estatais, a corrupção infindável, o estrago em nossa política externa e na imagem do país lá fora, a ausência de reformas estruturais, a inflação elevada, o clima de segregação do povo entre “nós e eles”, enfim, o modelo que pertence a ambos, Lula e Dilma, que é do PT acima de qualquer nome isolado.

Que venha Lula ou Dilma, tanto faz! O que as pessoas não aguentam mais é o PT no poder.

Rodrigo Constantino