Uma reportagem de Daniel Rittner no jornal Valor Econômico hoje afirma que o governo pretende autorizar reajustes extraordinários nos pedágios para compensar ajuda oferecida aos caminhoneiros após protestos. A autorização, que deverá ocorrer em meados de 2016 apenas, permitirá uma alta de até 20% nas tarifas, segundo estimativas preliminares de algumas autoridades. A isenção de cobrança de pedágio para os eixos suspensos de caminhões que rodam sem carga afetará o caixa das empresas que administram as rodovias, e por isso o governo deve autorizar o aumento do pedágio.
A Lei dos Caminhoneiros foi a reação do governo às manifestações que ameaçaram parar as estradas brasileiras nos últimos dias. O episódio é interessante para mostrar como funciona um modelo que concentra poder demais no estado. Na política, os benefícios são concentrados e os custos são dispersos. É assim que funciona, independentemente do partido no poder. Claro que partidos fazem diferença, e que um mais populista ou incompetente, como o PT, possui poder de estrago bem maior. Mas na essência é assim que funciona.
Não é difícil entender os motivos. Grupos organizados de interesse têm muito a perder ou ganhar com determinadas medidas, e por isso mesmo se unem em prol de privilégios. Os caminhoneiros, por exemplo, conseguem se unir em torno de uma causa comum, e há muito em jogo para eles. Na verdade, pode ser questão de “vida ou morte”, de sobrevivência nos negócios. Já cada um dos motoristas que usam o pedágio tem pouco interesse no seu custo final. Claro que incomoda e machuca o bolso ver um aumento na tarifa, mas ninguém vai se reunir em torno de alguns centavos a mais no preço final. É raro, pois os motoristas são milhões e se encontram dispersos, desorganizados.
É por essa lógica perversa que grupos de produtores sempre circulam em torno do governo em busca de barreiras protecionistas, empréstimos subsidiados do BNDES, etc. Para esses poucos produtores, há muito em jogo; para cada consumidor, o custo é pequeno no item específico em pauta. Quando tudo é somado, naturalmente o custo é enorme. Por isso o Brasil é tão caro. Por isso pagamos o triplo no mesmo carro em relação aos americanos. Por isso os vinhos são tão caros por aqui. Tudo isso é reflexo de um modelo que permite grande concentração de poder no estado.
Quem não chora não mama em regimes como o nosso. Quem vai para a rua de forma organizada, ameaça parar o país com greves, causa transtornos para toda a população, costuma obter vantagens. Quem não conta com tais instrumentos paga a conta. Não existe almoço grátis. O governo precisou acalmar os caminhoneiros, que estavam tocando o terror. A forma mais fácil de fazer isso foi usar as empresas que administram as rodovias para pagarem a conta. Mas claro que isso é só temporário, pois são intermediárias. No fim do dia, quem vai mesmo bancar os novos privilégios são os motoristas comuns. As formigas sem voz política, em suma…
Rodrigo Constantino
Congresso mantém queda de braço com STF e ameaça pacote do governo
Deputados contestam Lewandowski e lançam frente pela liberdade de expressão
Marcel van Hattem desafia: Polícia Federal não o prendeu por falta de coragem? Assista ao Sem Rodeios
Moraes proíbe entrega de dados de prontuários de aborto ao Cremesp
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS