Recebi hoje uma resposta da senadora Kátia Abreu à minha carta aberta publicada aqui. Ela autorizou sua publicação. Segue abaixo, em prol do debate saudável de ideias. Em seguida, um breve comentário meu.
Caro Rodrigo Constantino,
Em primeiro lugar, agradeço os elogios à minha trajetória política e às posições que assumi. Se existe uma parlamentar previsível no Brasil, que todos sabem o que vai dizer e como vai agir diante de polêmicas e valores como liberdade de imprensa, livre iniciativa, propriedade privada, segurança jurídica e outros tantos, esta sou eu: Kátia Abreu.
Durmo com a consciência tranquila, porque durmo – e acordo – com meus princípios. Sonho com um país melhor, mais justo e moderno, onde reinem os imperativos da liberdade de escolha e do Estado democrático de Direito.
Você condena com extrema dureza minha transferência para o PMDB. Avalia que este gesto me fará mudar completamente de personalidade política. Digo que a filiação partidária não elimina minhas convicções, meus valores e meus princípios.
Pauto-me, em minha atividade parlamentar, por uma conduta política responsável. Critico o criticável, elogio o elogiável. Critico o que se afasta dos meus princípios e valores e elogio as condutas que deles se aproximam.
Eis o que explica o meu apoio à presidente Dilma, sem que isto se traduza por qualquer adesão a propostas petistas que contrariem as minhas posições. Como senadora, respondo aos eleitores do Tocantins. Como líder setorial, represento milhões de produtores rurais do país. Como liberal, não negocio princípios.
Por honestidade e coerência, devo admitir que a atual presidente está levando a cabo uma agenda na qual me reconheço. Não se trata, aqui, de adesão incondicional, e sim do reconhecimento pessoal à presidente que fez pela agropecuária do país, em dois anos e meio, mais do que seus antecessores fizeram em duas décadas.
Entre as iniciativas, listo a reforma do Código Florestal, inimaginável cinco anos atrás; o freio às demarcações irresponsáveis de terras indígenas, já que ainda assistimos a invasões, mas sem autorização para demarcar novas áreas; a reforma agrária pensada em termos de qualificação dos assentamentos e voltada para uma economia de mercado; a nova política agrícola que reforçou o seguro rural e criou a Agência de Assistência Técnica e Extensão Rural; a MP dos Portos, que melhorou a competitividade do Brasil, e a distribuição de máquinas a milhares de prefeituras para que cuidem das estradas vicinais abandonadas há décadas, embora por elas comece o escoamento da produção agropecuária brasileira.
Nunca pedi cargos. Nunca pedi favores. Sempre que fui ao gabinete presidencial tratei tão somente de interesses republicanos do setor agropecuário, que hoje é vanguarda e pilar da economia nacional.
O debate é sempre o melhor combate. Mas é preciso ter cuidado ao rotular as pessoas e tentar reescrever suas histórias. Regimes autoritários já fizeram isto no passado. E, você bem sabe, o resultado não foi bom para qualquer dos lados.
Atenciosamente,
SENADORA KÁTIA ABREU
Comento: Não coloco em xeque a honestidade da senadora, e acredito que sua decisão seja pautada por suas convicções políticas e ideológicas. Dentre as opções na política nacional, considero Kátia Abreu (ainda) um dos melhores nomes. Também posso imaginar o medo que a senadora, como representante da CNA, tem de Marina Silva e dos “marineiros”, gente romântica que “ama” Gaia mais do que os homens. Um risco enorme para o agronegócio, um dos principais responsáveis pelo crescimento econômico dos últimos anos.
Dito isso, não posso concordar com esses elogios ao governo Dilma, tampouco posso apreciar o fato de que a senadora diz se reconhecer na agenda de reformas atuais. Quais? As concessões mal feitas e tardias? O PAC que não decola? Crédito público subsidiado para escolher “campeões nacionais” como a “Boibrás”? Essa enorme insegurança jurídica graças às intervenções arbitrárias do governo? Vejam nossa infraestrutura caótica! Como essa agenda de “reformas” pode satisfazer alguém como Kátia Abreu, esperança de muitos à direita no embate ideológico?
Política é a arte do possível. O jogo ficou complicado em Tocantins. A “nova” alternativa ao PT, sem ser o PSDB, assusta os produtores rurais, com razão. Tudo isso eu posso entender. Só não consigo engolir, de forma alguma, esses elogios a um governo incapaz de entregar um mísero crescimento na produtividade de nossa economia. Uma legítima agenda de reformas liberais seria bem diferente.
Pensei que Kátia Abreu fosse uma das opções para endossar tal agenda, ou parte dela. Mas vejo que a extrema mediocridade desse governo já a satisfaz. Sua adesão não é incondicional, diz, mas reconhece que Dilma fez mais do que foi feito nas últimas duas décadas. E esse é o resultado geral? Essa quase estagflação? Investidores estrangeiros jogando a toalha? O agronegócio pode ir bem, mas isso é a despeito do governo, não por mérito dele.
Sinto muito, mas não dá para elogiar tanta incompetência e mediocridade. E a direita segue em busca de uma alternativa concreta para executar uma agenda de reformas efetivamente liberais…