A economia brasileira ficou oficialmente estagnada em 2014, tendo “crescido” apenas 0,1%, segundo o IBGE. No período que comporta o primeiro mandato de Dilma, o crescimento foi de medíocres 2,1% ao ano, a taxa mais baixa desde Collor, e a terceira pior da história de nossa República. Quase que Dilma teve a oportunidade de efetivamente usar o bordão de Lula, seu criador: “Nunca antes na história deste país…”
Se o dado por si só já é péssimo, ele fica ainda pior quando abrimos por seus diferentes componentes. A indústria, por exemplo, que costuma gerar empregos de maior valor agregado, teve queda de 1,2% em 2014. E o mais assustador: os investimentos sofreram redução de 4,4%. Do lado positivo, puxando o PIB para cima, tivemos o governo, com aumento de 1,3%, e as famílias, cujo consumo se expandiu 0,9%.
Peço licença ao leitor não familiarizado com o “economês” para entrar um pouco em teoria aqui. A obsessão com o resultado final do PIB ignora que há enorme diferença de qualidade quando um país cresce puxado por indústria e investimento ou quando “cresce” puxado por gastos de consumo das famílias e do governo. Para o PIB final, tanto faz. Mas para a sustentabilidade e qualidade desse crescimento, faz toda a diferença do mundo.
Como o governo não pode dar nada sem tirar do setor privado, pois suas fontes de recursos são os impostos, a inflação (que não passa de um imposto disfarçado) e o endividamento (que terá que ser pago eventualmente), claro que o aumento dos gastos públicos terá como contrapartida, inevitavelmente, a redução ou dos investimentos privados ou do consumo privado. Mas o foco demasiado no curto prazo, fruto de uma visão míope, faz com que os keynesianos negligenciem esses impactos negativos ao longo do tempo. Se o governo quer estimular o crescimento econômico e, portanto, a criação de empregos, basta ele expandir seus gastos.
Keynes argumentava que em períodos de insuficiente demanda agregada, caberia ao governo compensar esta queda com o aumento dos gastos. É a famosa política anticíclica. Foi a justificativa teórica perfeita para políticos ansiosos para torrar o dinheiro da “viúva” e conquistar votos pelas vias populistas. Claro que na época da bonança e do forte crescimento econômico, o termo “anticíclico” era ignorado. A política acabava unidirecional, como se feita por economistas manetas. Mas o próprio conceito de demanda agregada insuficiente é falacioso. Parece que o rabo é que balança o cachorro, e não o contrário.
A lógica, de forma simplificada, funciona assim: a crise econômica ocorre como reação a uma queda da demanda agregada, sabe-se lá por qual motivo. Os empreendedores perderam seu “espírito animal” de repente. E cabe ao governo estimular a economia com aumento de gastos. Isso fará a demanda agregada subir, empregos serão criados e o consumo poderá retomar sua trajetória. Com mais consumo, as empresas produzem mais, empregando mais gente. Os salários podem aumentar, gerando um ciclo virtuoso. Parece tão simples que toda a miséria do mundo fica parecendo apenas resultado da falta de “vontade política”.
Isso é uma grande falácia. Se alguém questiona quais fatores permitem o aumento da “renda nacional”, a resposta deverá ser: a melhoria dos equipamentos, das ferramentas e máquinas empregadas na produção, por um lado, e o avanço na utilização dos equipamentos disponíveis para a melhor satisfação possível das demandas individuais, por outro lado. O primeiro caso depende da poupança e da acumulação de capital, o segundo das habilidades tecnológicas e das atividades empresariais. Se o aumento da renda nacional em termos reais é chamado de progresso, devemos aceitar que este é fruto das conquistas dos poupadores, investidores e empreendedores.
Os gastos do governo costumam desviar recursos destes fins mais produtivos. Keynes chegou ao ponto absurdo de defender que seria justificável o governo, durante uma crise, contratar gente para cavar buracos e mais gente para tampá-los. Evidentemente que o fantástico desta proposta não passou despercebida na época. Questionado sobre o efeito de tais medidas no longo prazo, Keynes cunhou sua famosa frase: “No longo prazo estaremos todos mortos”. O longo prazo, porém, um dia chega. O de Dilma chegou.
O consumo das famílias cresceu pelo décimo-primeiro ano consecutivo, e os gastos públicos só crescem sob o lulopetismo. Isso pode impactar positivamente o PIB, salvando-o de um resultado ainda pior, mas nada diz sobre sua qualidade. As famílias e o governo estão gastando mais em um cenário de queda dos investimentos e da produtividade, ou seja, esse gasto maior é insustentável. O que permite mais consumo é justamente mais investimento produtivo. E isso o Brasil não tem tido.
Outra forma mais acurada de analisar o PIB é observando o crescimento per capita. Afinal, crescer apenas pela maior quantidade de gente não quer dizer muito. O que importa é quanto está crescendo por brasileiro. Pois bem: o PIB per capita caiu pela primeira vez desde 2009: recuo de 0,7%, para R$ 27.229. Estamos ficando mais pobres, e isso sem levar em conta o resto do mundo. Se analisarmos em dólar, o resultado é muito pior!
Outra forma de analisar melhor o dado, para deixar claro como ele precisa melhorar muito para ser apenas medíocre, é compará-lo ao resto do mundo. A desculpa esfarrapada usada por Dilma de que estamos vivendo os efeitos de uma crise internacional não se sustenta por um segundo. Na América Latina mesmo, o Brasil só “cresce” mais do que a Venezuela, mergulhada em severa crise causada pelo bolivarianismo. Em geral, o Brasil teve o terceiro pior crescimento do G20. Crise internacional uma ova!
Como se não bastasse toda essa visão terrível pelo retrovisor, a expectativa em relação ao futuro não é nada melhor. Ao contrário: a situação deve piorar bastante. O próprio ministro Joaquim Levy reconhece que a economia verá “forte desaceleração” neste começo de ano. Ora, o que entender como “forte desaceleração” quando já estamos estagnados? O ministro acha que os investimentos já voltam a subir no segundo semestre, mas será mesmo? Com esse ambiente político e econômico?
O que parece mais certo de prever é a queda no consumo das famílias. Justamente a parte que era insustentável naquele “crescimento” de 2014. E, com isso, teremos uma redução mais acentuada no PIB, provavelmente entre 1% e 2% este ano. Isso, nunca é demais lembrar, com uma inflação de 8%. E ainda há economistas que negam o uso do termo estagflação para definir nossa situação atual. É estagflação sim! O Brasil tem uma economia estagnada na melhor das hipóteses, e uma inflação de quase dois dígitos. Se isso não é estagflação, não sei o que é…
Rodrigo Constantino
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