No Brasil, os conceitos de direita e esquerda se encontram cada vez mais embaralhados. Um dos motivos é que a esquerda monopolizou as virtudes por décadas em seus discursos. Logo, se o PT, claramente de esquerda, chega ao poder e surgem inúmeros casos de corrupção, então ele só pode ser de direita! Ao menos assim “pensam” muitos por aí…
Como tudo aquilo que é associado a fins nobres e puros é automaticamente visto como bandeira de esquerda em nosso país, já que apenas esquerdistas se preocupariam com os mais pobres (até parece), e direita é vista como coisa de regime militar, ninguém tem coragem de se assumir de direita e condenar a esquerda. Resumo: temos uma hegemonia de esquerda na política, e o PFL até decidiu tirar o liberal do nome.
Quando afirmo o óbvio – que o PSDB é um partido social-democrata e, portanto, de esquerda – uma ala esquerdista fica em polvorosa. É que, para eles, os tucanos seriam “neoliberais” de ultra-direita (risos). Não são. O PSDB é apenas uma esquerda bem mais civilizada do que o PT e companhia (PSOL, PSTU, PCdoB, PCO), nos moldes da social-democracia europeia. Ainda assim, esquerda.
Até mesmo Aécio Neves, que tem adotado viés bem mais liberal dentro do partido, não deixa de ser de centro-esquerda. E, com receio de ser “atacado” de direitista na campanha, saiu antes em sua defesa e disse que o PT era de direita! É verdade que ele explicou a confusão de conceitos antes, mas ainda assim a afirmação é um tanto chocante:
O que eu acho é que esses conceitos, conservador, progressista, esquerda e direita, são conceitos muito abstratos hoje, com muito pouca conexão com a realidade. Quando eu vejo Eduardo considerar o PSDB um partido conservador porque se refere, na verdade, ao PSDB ou aos governos do PSDB, e ao mesmo tempo, apoiar os dois principais governadores do PSDB, eu tenho que compreender que isso é uma coisa boa, ser conservador, já que ele apoia o governador Geraldo Alckmin e apoia, com muita alegria nossa, o governador Beto Richa.
Mas apenas me permita aqui mais uma ilação. Falando ainda de conceitos. Se nós com uma bancada tão qualificada como essa ou vamos buscar aqui numa universidade de pós-graduação, de ciência política, apresentar dois exemplos. Um governo que, por exemplo, abstraindo os nomes, se você colocasse para avaliação dessa bancada um governo que, por exemplo, propiciou os maiores lucros da história ao sistema financeiro. E colocasse em contraponto a ele um outro governo que colocou 97% das crianças na escola. E pedisse que fizesse a avaliação: qual que é de esquerda, qual que é de direita? Provavelmente a maioria iria dizer que o que propiciou lucros estratosféricos ao sistema financeiro seria de direita e o que investiu na educação, de esquerda. Nesse caso, o governo do presidente Fernando Henrique seria de esquerda e o governo da presidente Dilma e do presidente Lula, de direita. Isso apenas pra mostrar como são vagos hoje.
Entendo o que Aécio quer dizer, e entendo mais ainda sua estratégia eleitoral, preocupado com a pecha que o rótulo de conservador ainda tem por aqui. Se Sarney é direita e propiciar lucros bilionários aos banqueiros é coisa de direita, então o PT realmente seria de direita. Mas não é nada disso!
Precisamos abandonar de vez esse monopólio das boas intenções que pertence à esquerda, e lembrar que o debate é sobre os meios acima de tudo. A esquerda defende métodos que concentram ainda mais poder no estado, enquanto a direita liberal prega mais liberdade econômica, o livre mercado.
Com base nessa definição, é claro que o PT continua sendo um partido de esquerda, como o chavismo é de esquerda (óbvio!), mesmo que tenha enriquecido os “amigos do rei” e empobrecido a classe média. Aliás, esse é o resultado inexorável do esquerdismo, especialmente da vertente radical socialista que ainda vinga por aqui.
Tudo isso foi para chegar ao comentário que Roberto Freire, do PPS e aliado de Aécio Neves, fez hoje em seu canal do Twitter. Vejam que coisa assustadora:
Falta embocadura moral para ser comunista? O que Freire quer dizer com isso? Que comunistas possuem… elevada embocadura moral? Ai, minha úlcera! Os comunistas foram expulsos oficialmente da política da Ucrânia, assim como de outros países do Leste Europeu, que sofreram com o comunismo na pele. Sabe o motivo, deputado? Dica: é o mesmo que impede a atuação de nazistas na política de muitos países!
Os comunistas são movidos por ódio, ressentimento, repudiam a democracia “burguesa”, e acreditam que seus “nobres” fins justificam quaisquer meios, por mais violentos que sejam. Que tipo de “embocadura moral” é preciso para abraçar uma nefasta ideologia dessas? A de um psicopata, talvez? Ou de um assassino?
Que o PT é formado por populistas todos sabem. Mas quem disse que isso não é coisa de esquerda? Gestores capitalistas? Ai, minha úlcera novamente! Capitalistas, Freire? O PT cospe no capitalismo de livre mercado diariamente, ao depositar no estado um papel quase totalitário de locomotiva da economia. Um partido do Foro de São Paulo, aliado de Cuba, capitalista?
Menos, Freire, menos. A oposição não precisa de um “apoio” desses, de alguém que elogia o comunismo e cospe no capitalismo. Pensei que o senhor havia evoluído bastante e deixado esse encanto boboca com o comunismo enterrado lá no passado juvenil. Estava enganado? Ainda acha que é preciso ter alta embocadura moral para ser um comuna? Ah, fala sério!
Rodrigo Constantino
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