Em meu novo livro Esquerda Caviar, que será lançado em outubro pela Record, tento especular sobre vinte possíveis causas do fenômeno. Uma delas seria a tal Síndrome de Estocolmo. Explico um pouco mais abaixo, antecipando (sem a permissão do meu editor, não espalhem) um pequeno trecho do livro:
No dia 23 de agosto de 1973, três mulheres e um homem foram usados como reféns em um assalto a banco em Estocolmo, na Suécia. O assalto estendeu-se por seis dias, e, para a surpresa geral, os reféns acabaram protegendo seus raptores. De fato, meses depois, duas das reféns chegaram a casar com seus algozes. Desde então, chama-se “Síndrome de Estocolmo” esse fenômeno psicológico, quando o refém demonstra afeição por seu raptor. Uma parte da esquerda caviar sofre dessa patologia.
Quanto mais o sujeito bate na riqueza, no capitalismo, na burguesia, no estilo de vida ocidental, mais o rico capitalista burguês do Ocidente parece se encantar com ele. Um ditador ameaça destruir toda Nova York com uma bomba atômica? Ele é defendido pelo rico que vive em Nova York. Um tirano chama de porco todo aquele empresário rico? O empresário rico não só o aplaude, como financia o projeto de poder do tirano.
Trata-se de algo muito estranho, mas que ocorre com certa frequência. É a esquerda “mulher de malandro”, que gosta de apanhar, que goza com o seu masoquismo, que treme de prazer diante de um inimigo viril, tal como a mulher que apanha do marido, mas é incapaz de abandoná-lo. Fidel Castro representou essa figura para muitos da esquerda caviar, seguido por Hugo Chávez.
Em The Oslo Syndrome: Delusions of a People under Siege, Kenneth Levin trata justamente desse assunto, tendo a elite de Israel como foco. Descreve que a Síndrome de Estocolmo é uma resposta comum entre populações cronicamente sitiadas, quando minorias são alvo de discriminação, difamação e ataques. O mesmo vale para pequenas nações sob persistente ataque dos vizinhos.
As pessoas que vivem sob tais condições estressantes muitas vezes optam por aceitar, pelo valor de face, os ataques de seus acusadores, na esperança de, assim, escapar dessa situação. Não suportam mais tanta perseguição, e acabam desenvolvendo uma visão ilusória sobre seus inimigos, como mecanismo de autodefesa.
Esse tipo de pressão psicológica pode explicar muita coisa. Um rico acuado que não aguenta mais ser tratado como canalha explorador só por ser rico e acaba abraçando bandeiras socialistas, por exemplo. Ou, quem sabe, um grande grupo de mídia tendo que bancar o “progressista” pois não suporta mais ser acusado por todos os males da sociedade e ser tachado de reacionário.
Ou, ainda, um ex-presidente social-democrata, de esquerda portanto, que não tolera mais ser visto como “neoliberal” pela esquerda jurássica hoje no poder, e acaba tentando suavizar a própria imagem de seu carrasco ideológico e político.
Achei que era conveniente trazer essa parte do livro para reflexão dos leitores nesses dias. Tem gente que acaba fazendo de tudo para “ficar bem” na opinião dos próprios inimigos, pois precisa expiar culpa e tem a esperança de que, agindo assim, será deixada em paz. Ledo engano. Essa postura só alimenta ainda mais a fúria dos inimigos. Já deveriam ter aprendido essa lição na história.