“Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado.” (Ludwig von Mises)
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou em 0,50 ponto percentual, para 9,5% ao ano, a taxa básica de juros (Selic) nesta quarta-feira, em decisão unânime, sem viés – ou seja, a decisão é válida até o próximo encontro, em dezembro. Trata-se da quinta elevação consecutiva do juro básico da economia neste ano.
Uma das maiores bandeiras do governo Dilma era justamente a redução da taxa de juros. Foi amplamente celebrada pelo próprio governo e seus defensores. Finalmente tínhamos uma presidente com a coragem de enfrentar os poderosos banqueiros e reduzir essa obscena taxa de juros, sempre entre as maiores do mundo.
Como se o custo do capital dependesse, de fato, da ganância dos banqueiros! O grande equívoco do governo foi não compreender que a taxa de juros é um sintoma mais do que uma causa dos problemas. Não se marreta ela para baixo impunemente. Banqueiros, inclusive estrangeiros, não ficam mais gananciosos ao atravessar a fronteira. Óbvio que os problemas eram estruturais.
Mas a equipe econômica de Dilma mirou no efeito, não na causa. Resolveu quebrar o termômetro, achando que, assim, resolveria o problema da febre. Vários “especialistas” aplaudiram a decisão e negligenciaram o risco inflacionário. Só que as leis econômicas não toleram desaforo populista.
A inflação subiu, a atividade econômica não retomou, e acabamos em um cenário praticamente de estagflação: inflação resiliente com economia quase estagnada. O Banco Central, politizado, perdeu sua credibilidade. Os agentes de mercado incorporaram em suas expectativas índices de inflação maiores à frente.
Agora, o BC está tendo que correr atrás do prejuízo. O governo avaliou que a inflação é uma ameaça maior em 2014, ano de eleições, do que a alta da taxa de juros. Mais uma importante bandeira do governo jogada no lixo. A redução da taxa de juros não se sustentou, e a Selic deve chegar a 10% esse ano.
Como a ata do Copom manteve o texto da anterior, sem viés de alta e com discurso ainda negligente, o mercado acusou o golpe e as taxas futuras subiram. O DI de janeiro de 2015 abriu e já projeta taxa acima de 10%.
Quanto mais o BC se mostrar tímido na trajetória de alta da Selic, mais tempo a taxa terá de ficar em patamar elevado, ou maior terá de ser a alta na frente, para conter a inflação. Até porque os investidores sabem que a inflação atual está abaixo da realidade, uma vez que vários preços administrados estão congelados.
O governo Dilma está aprendendo, “the hard way”, que não se brinca impunemente com as leis da economia. É possível manter a taxa de juros artificialmente baixa por algum tempo, mas não por todo tempo. Inexoravelmente, as consequências das leis econômicas surgem para lembrar que a economia não segue os caprichos da política.
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