“De fato, a qualidade do ar e da água nos Estados Unidos e nas nações ricas do mundo está melhor hoje do que tem estado em décadas.” (Indur Glokany)
No artigo O Retorno de Malthus, resumi os principais pontos do livro The Improving State of the World, onde o Dr. Indur Goklany mostra como vivemos cada vez mais e melhor, derrubando o pessimismo malthusiano. Goklany afirma ainda que vivemos num planeta mais limpo também, e mencionei que trataria do assunto em outro artigo. Portanto, o tema aqui será o impacto do aumento impressionante da riqueza criada pelos homens no meio-ambiente.
Muitos neo-malthusianos culpam a riqueza construída pelos homens pelas mudanças climáticas negativas, e concluem que o progresso no bem-estar social é insustentável. Goklany demonstra o contrário, afirmando que é justamente o progresso que permite melhorar o ambiente que nos cerca e mitigar os efeitos negativos de eventos climáticos. O avanço da riqueza e da tecnologia permite uma vida com mais qualidade ambiental. Em vez de o progresso ser o inimigo na questão climática, ele é seu maior aliado.
Um exemplo que podemos citar é o avanço tecnológico na agricultura, especialmente nos Estados Unidos. O uso de tecnologia mais eficiente possibilitou que a agricultura americana alimentasse muito mais gente, e ainda pudesse exportar excedentes. Assumindo que o consumo de alimentos é determinado apenas pelo tamanho da população, e supondo a ausência de mudança tecnológica desde 1910, os Estados Unidos precisariam de pelo menos três vezes mais área para plantações do que usaram em 2004.
Outra forma de ver esse fenômeno é constatar que a agricultura empregava quase 40% da população americana em 1900, e atualmente não chega a 3% do total. Nada salvou mais habitat e florestas do que essas tecnologias que foram desenvolvidas ao longo do tempo. O uso de terra para plantação de alimentos, em termos per capita, caiu quase pela metade nos últimos três séculos, e encontra-se no seu patamar mais baixo atualmente. Além de o avanço tecnológico ter derrubado as previsões catastróficas de Malthus, permitindo a sobrevivência de muito mais gente do que o esperado, ele foi fundamental para preservar o ambiente. A solução para os problemas ambientais não é menos gente ou riqueza, mas sim mais tecnologia.
Goklany segue apresentando inúmeros dados sobre como a qualidade do meio ambiente vem melhorando, principalmente nos países mais ricos. Entre 1975 e 1996, por exemplo, as taxas de violação para os padrões de qualidade da água nos Estados Unidos caíram de 5% para 1,5%. As condições dos rios nos países desenvolvidos melhoraram substancialmente nas últimas décadas. A qualidade do ar nos Estados Unidos, medida pela Environmental Protection Agency (EPA), melhorou para cada poluente tradicional. A cidade de Nova York, nas décadas de 1950 e 1960, foi palco de vários episódios de mortes por poluição do ar. Desde então, a situação vem melhorando bastante.
O problema do smog, comum em Los Angeles no passado, também vem melhorando desde a metade da década de 1950. De forma geral, o ar nos Estados Unidos está mais limpo do que décadas atrás, mesmo com todo o crescimento econômico e populacional. Goklany mostra ainda que a melhoria começou antes mesmo do governo aprovar o Clean Air Act de 1970. Foi, portanto, uma melhora voluntária, desenvolvida pelo próprio mercado e possível pela mudança tecnológica. O mesmo ocorreu com a emissão de CO2, que em termos relativos ao PIB vem caindo numa taxa de 1,3% ao ano nos últimos 150 anos, bem antes do alarde sobre o aquecimento global.
O uso de energia sempre foi fundamental para o avanço e mesmo sobrevivência dos homens. No entanto, formas mais limpas de energia foram sendo descobertas. O gás natural, a usina nuclear, a eletricidade e mesmo o petróleo representam formas mais limpas do que o carvão e a madeira, por exemplo. Novas tecnologias entraram no mercado aumentando a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que reduziam a poluição. As próprias indústrias foram selecionando esses métodos melhores pela pressão do mercado, e podemos facilmente verificar que quanto mais rico um país, maior a probabilidade de sua matriz energética ser mais limpa. As plantas geradoras de eletricidade têm ficado cada vez mais eficientes com o avanço tecnológico, queimando menos carvão para produzir o mesmo kWh de eletricidade.
Nos Estados Unidos, por exemplo, eram necessários cerca de 120 mil BTU para gerar 1 kWh de eletricidade em 1900, e em 1997 eram necessários pouco mais de 10 mil BTU para o mesmo resultado. A China usa tanto carvão justamente porque ainda não alcançou este estágio mais avançado, e a tendência natural é o país ir migrando para formas mais limpas de energia. Hoje, das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China. O progresso, novamente, é o melhor amigo do ambiente nessa questão.
Em termos globais, dois dos mais graves problemas ambientais são o saneamento inadequado e um acesso insuficiente à água segura para beber, lavar comida ou higiene pessoal. Mais de um bilhão de pessoas sofrem com a falta de acesso à água limpa, e mais de dois bilhões possuem saneamento inadequado. Quase dois milhões de seres humanos perdem a vida anualmente por conta desses problemas. A malária, que também está ligada à questão da água, mata mais de um milhão de pessoas por ano, principalmente em países pobres.
Tem havido progresso nas últimas décadas nesses pontos. O acesso à água potável, por exemplo, subiu de 25% da população dos países de baixa renda em 1975 para 76% em 2002. Entre 1990 e 2000, cada ano quase 80 milhões de pessoas adicionais tiveram acesso à água mais limpa e saneamento. Poderia ser mais ainda, não fossem tantas barreiras criadas artificialmente ao progresso, como medidas protecionistas que impedem o livre comércio entre povos de diferentes nações.
Como fica claro, o progresso capitalista tem sido um grande aliado da qualidade de vida dos homens, inclusive no que diz respeito ao meio-ambiente. Curiosamente, muitas organizações que se dizem “ambientalistas” adotam uma postura completamente contrária ao avanço tecnológico fruto do capitalismo. É o caso do Greenpeace, que condena, por exemplo, o uso da biotecnologia na agricultura. Ora, um dos grandes desafios à frente é alimentar os nove bilhões de seres humanos que a ONU estima estarem vivos em 2050. O ganho de produtividade proveniente do uso de transgênicos pode ser justamente a solução para este problema. No entanto, muitos “ambientalistas” condenam este avanço, sem razão sólida alguma.
Plantações geneticamente modificadas já correspondem a 35% da área cultivada nos Estados Unidos, e os resultados são claramente positivos. Além disso, existe ganho de eficiência alimentar também, pois alimentos podem ser produzidos com mais vitaminas e ferro, através do uso da biotecnologia. Logo, se a prioridade dos ambientalistas é uma melhor qualidade de vida para os homens, aliada à preservação máxima possível do meio-ambiente, não faz sentido condenarem de forma tão radical os alimentos transgênicos. O fato de tantos fazerem exatamente isso denota a influência ideológica no debate.
Os modelos pessimistas em relação ao futuro do meio-ambiente não costumam levar em conta o avanço tecnológico por vir, até porque este ainda é desconhecido. No entanto, ele é fundamental para qualquer cenário. Foi justamente o fato de Malthus ter ignorado isso que fez com que suas previsões catastróficas se mostrassem tão erradas. Desde que ele escreveu seu livro pessimista, a expectativa média de vida dos homens dobrou. Esses modelos dependem de muitas variáveis incertas e interdependentes, e pequenas mudanças nas premissas podem levar a resultados bem diferentes. As previsões mais sombrias costumam ignorar a capacidade adaptativa dos homens.
Não devemos esquecer que os recursos naturais existentes hoje não são muito diferentes daqueles existentes no Antigo Egito, ou na Babilônia, ou no Império Romano. No entanto, o que os homens fazem com esses recursos hoje é radicalmente distinto do que faziam no passado, e isso, basicamente, explica uma qualidade de vida infinitamente superior para a maciça maioria dos indivíduos. Os homens criaram muita riqueza, permitindo uma vida mais longa, mais saudável e mais confortável para quase todos. Muitos que vivem para reclamar da industrialização e do avanço tecnológico nem sequer estariam vivos não fossem estas forças. E em nome da preservação da vida e do ambiente, eles atacam justamente as causas deste sucesso.
Como Goklany mesmo reconhece, as características que permitem o aumento da riqueza são a liberdade individual, direitos seguros de propriedade privada, uma ética meritocrática que recompensa o risco e o valor gerado, o livre comércio e regulações transparentes. Paradoxalmente, muitos “ambientalistas” condenam este pacote como receita para os males que assolam o mundo atualmente. A globalização, por exemplo, que permite a difusão das novas tecnologias, normalmente desenvolvidas em países mais ricos, acaba sendo duramente atacada por muitos “verdes”.
Os limites para o crescimento dependem dos próprios homens. Cabe a nós desenvolver formas mais eficientes para explorar os recursos naturais que temos acesso. Mesmo quando o assunto é meio-ambiente, a tecnologia é a solução. Mas para que os neo-malthusianos errem suas previsões catastróficas, como Malthus errou as suas dois séculos antes, é crucial confiar na liberdade individual e na capacidade de adaptação e inovação dos seres humanos. Somente assim poderemos deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, com uma vida mais longa, mais saudável, num meio-ambiente mais limpo.
Rodrigo Constantino