As autoridades recuam, os baderneiros avançam. A difamação da Polícia Militar ao longo dos últimos anos surtiu efeito: está sem um pingo de credibilidade. Não resta dúvida de que a PM merece inúmeras críticas, que seus abusos precisam ser combatidos. Mas a ideia de que a própria PM é o grande inimigo, e que “manifestantes” com máscaras e coquetéis molotov são os libertadores do povo brasileiro, é algo deveras preocupante.
A tentativa de invasão do hospital Sírio-Libanês foi a gota d’água. Ou deveria ter sido. As autoridades estão acuadas, com medo de reagir, de defender o patrimônio público e privado, ou mesmo as vidas inocentes em jogo num hospital. Jânio de Freitas, da Folha, desceu a lenha nos vagabundos de forma impecável. Resta-me apenas reproduzir seu texto de hoje, na íntegra:
As polícias estavam atônitas e os governadores estavam perplexos diante da violência baderneira a pretexto de manifestações populares. Agora, as polícias e os governadores estão acovardados e fogem dos seus deveres e do cumprimento das leis diante do agravamento da baderna violenta.
A tentativa de invasão do paulistano Hospital Sírio-Libanês é absolutamente inadmissível. Não foi apenas um degrau a mais na escalada da insensatez e da brutalidade. Foi uma agressão aos direitos humanos.
Atacar a emergência de um hospital é um ato intencional de exasperação dos sofrimentos e de desesperação dos que só estão ali porque sofrem, e pedem socorro.
Atacar a emergência de um hospital é um ato de covardia que não se distingue, na essência, da covardia dos torturadores.
Apesar disso, e apesar da violência que os monstrengos morais cometeram contra a resistência à invasão, a polícia só se dispôs a fazer uma prisão. De um animal com algumas aparências humanas, algumas formas semelhantes às de mulher.
Prendeu para quê? Para nada. Não. Prendeu para soltar depois de fingir que prendera. Fingiu para dizer que cumpriu a lei, que agiu de acordo com o seu dever.
Mas não teve coragem de agir para a prisão de todo o bando, para submetê-lo às investigações de sua composição, procedência e propósito verdadeiro. Por que o ataque a um hospital? Porque “o Sírio-Libanês representa o desvio de dinheiro do SUS”, como disse um dos animais? Não há como imaginar a elaboração e a adoção de um motivo desses, em referência a um hospital capaz de produzir orgulho, onde hospitais costumam ser o que se sabe, e de uma equipe médica de relevo internacional.
Mas ainda que o ataque fosse a um dos hospitais sórdidos e prejudiciais ao SUS, a agressão aos direitos humanos dos já vitimados física e emocionalmente, em uma sala de emergências, seria a mesma e do mesmo modo exigente das ações policiais corretas e necessárias.
Abusos de violência baderneira multiplicam-se dia a dia. Tentativa de invasão depredadora da sede de governo estadual no Rio, invasão depredadora da Assembleia fluminense, invasão da Câmara Legislativa em Brasília são atos contra bens públicos não envolvidos nas causas reclamadas, como seriam tanques e caveirões da arbitrariedade.
Diante disso, os governadores cedem ao medo de críticas eleitoralmente prejudiciais, e por isso não passam às suas polícias a orientação equilibrada e eficiente que lhes devem, em defesa da sociedade e do patrimônio público. E as polícias cedem ao medo das críticas e não buscam os limites adequados de ação eficiente e sem a desproporção que as condena.
A baderna violenta vence. Até onde irá, são hipóteses em aberto. O ataque ao Sírio-Libanês sugere algumas.